Imagem: Banco de Séries
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Íntimo, ilusório, desconfortável e apreensivo fizeram do 2º episódio de Bates Motel um dos melhores, se não o melhor, que a série já teve. No momento em que a mente de Norman cria alucinações e delírios para distorcer o seu senso de verdade, a história cresce e toma proporções dignas de uma psicose.

Ao começar a assistir o episódio admito que tinha grandes expectativas para o que seria visto e é com alegria que revelo que tais expectativas foram superadas com louvor. A penúltima temporada do show começa muito bem, trazendo tudo o que já queríamos ter visto, só que ainda melhor. Quando li “Goodnight, Mother” já previ que algo forte estava por vir nos próximos minutos do episódio, porém não imaginei que seria tão intenso e apreensivo do jeito que foi. Até mesmo os momentos em que o foco saía da casa de Norma e ia para o hospital com Emma e Dylan, o clima ainda continuava pesado mesmo com um olhar romântico e emocionado dos dois.

Fazem alguns anos, antes mesmo de Bates Motel aparecer, que acompanho os trabalhos de Vera Farmiga. A mulher é uma ótima atriz e sempre soube que tem uma capacidade enorme quando tem grandes papéis em suas mãos. A atuação dela no episódio foi maravilhosa. Mesmo que a personagem tenha continuado em seu desconfortável estado de negação por boa parte do plot, pudemos ver como era um incômodo sustentar essa situação, como era difícil compreender tudo que acontecia e como era complicado manter a situação em um controle que na verdade nunca existiu.

Na review anterior cometi um erro ao dizer que Norma queria usar Alex para conseguir o que queria, quando na verdade a atitude inconsequente era claramente um último recurso em um momento de desespero. Alex Romero acabou por ajudar a dona do hotel indo até o local onde Norman será internado e persuadindo (com bastante dinheiro) a atendente para que dessem uma vaga ao garoto. Foi uma atitude ambígua, com certeza ele se arrependeu de não ajudado a futura esposa em seu mal momento, e talvez a atração que ele sente por ela também tenha falado algo ao pé do ouvido. E claro, por mais que Norma não admita com clareza ou palavras ela sente o mesmo por Romero.

Norman Bates está à quilômetros dos seus tempos de glória, onde tinha apagões que não eram tão graves. A não ser que terminavam em algum assassinato. O momento atual é muito diferente, pois os apagões acontecem e ao invés de ficar em um estado de inconsciência ele adquiri consciência, mas com a personalidade de outra pessoa, mais precisamente a da própria mãe. Tudo o que acontece acaba voltando para assombrar as lembranças do rapaz, mas o problema é não era ele naquele flashback, era a mãe, uma ilusão, mas essa é a verdade que a mente de Norman queria que ele acreditasse. Afinal, na hora do “crime” era o subconsciente de Norman sendo Norma que cometeu o enforcamento. Parece confuso? Eu também acho, mas essa é a explicação mais simples e próxima da realidade que podemos fazer quanto ao estado mental do gerente do hotel.

Imagem: Banco de Séries
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Além de toda essa mudança de perspectiva temos algo muito legal aparecendo na série. Quando Norman tinha apagões nós só o víamos parado, com um olhar vazio e sem nenhuma reação. Diferente de agora que nós vemos com toda a clareza e certeza o que acontece dentro da mente dele quando os apagões acontecem. Enxergamos as suas alucinações, olhamos a própria mente dele se materializar para distorcer a verdade, confundindo a sua cabeça e tudo mais. O resultado é que Norman, obviamente, acreditou em tudo que viu sem contestar se aquilo era ou não real. Foi confortável para ele admitir que a mãe estava com problemas, e ele estava completamente certo quanto isso, mas na hora em que tentou dizer qual era o problema ele precisava ter se olhado pelo espelho. Aí sim a verdade estaria na sua frente.

Parte disso, mais uma vez, é culpa da própria mãe, que teve muita sorte quando o menino assinou o termo porque se ele fosse preso as verdades viriam a tona. Norma não suportou mais carregar esse fardo sozinha. Quando a situação fugiu completamente de seu controle ou de seu esconderijo a mãe fez o que precisava. Mas quem não faria quando um louco está segurando uma arma na sua frente?!

Bates Motel finalmente chegou no ponto que eu queria ver, saber e entender. A série lhe possibilita um mar de visões, opiniões e entendimentos sobre o que está acontecendo e ver a relação de mãe e filho mudar de uma maneira tão drástica como está sendo é maravilhoso. Bates Motel começa seu 4º ano de forma fabulosa, a temporada terá 10 episódios como sempre e estamos apenas no segundo. Imaginem como serão os próximos 8 que ainda restam.

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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.