Imagem: Banco de Séries
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Mais uma adaptação de HQ chegando na televisão norte-americana, agora é a vez de Preacher, um dos nomes mais conhecidos da Vertigo (selo adulto da DC Comics). A AMC faz um trabalho muito bom com este piloto, que é marcado por acertos nas suas escolhas, falando em um contexto geral.

Acompanhando a vida de Jesse, Preacher mostra que o “cara” que tem um passado obscuro e volta a sua cidade de origem, tornando-se Pastor, assim como o pai. Além de Jesse Custer temos Tulipa (Ruth Negga), sua ex-namorada e um vampiro bêbado chamado Cassidy (Joseph Gilgun), que é aquele personagem de forte personalidade, irreverente e que cairá nas graças do público. A história ainda mostra Gênesis, um anjo meio demônio que se apossa do corpo de Jesse, e com o tempo se tornarão um só.

A história, no piloto, começa lenta, demora para encontrar seu ritmo, mas sem deixar de ser interessante ou de instigar a curiosidade do público. Como disse anteriormente “A AMC faz um trabalho muito bom com este piloto, que é marcado por acertos nas suas escolhas“, dito isso pode-se pensar que é uma produção perfeita, mas não se trata disso. Falo isso pois antes de assistir o episódio li alguns volumes da HQ, para me ambientar melhor na história e entender um pouco mais do formato, gênero e de como tudo funciona.

Agora, se você acha que Preacher é igual a obra original de Garth Ennis e Steve Dillon, está muito enganado. A série televisiva permeia o formato, que devido a censura é um pouco mais leve, tem menos sangue e menos palavrões. Infelizmente a cota das palavras já é estourada logo no início, mas a cota sobre a quantidade de sangue é muito bem usada em uma das melhores cenas do piloto, aquela que aparece para renovar a história, dando espaço ao irreverente irlandês Cassidy.

Voltando ao início, de cara já somos apresentados ao protagonista Jesse Custer, que passa a maior parte do episódio tentando exercer o papel de um Pastor, porém já não aguenta mais fazer isso. É bem evidente que a cada minuto a crença dele em Deus vai diminuindo, tanto pelos seus pedidos, que não são atendidos, como também pelos problemas que lhe chegam aos ouvidos. O interessante é que a série ainda não se expôs de maneira que poderia entregar mais da história, isso se deve principalmente para as diferenças com a história em quadrinhos, que são muitas. Em nenhum momento a narrativa do roteiro segue exatamente igual a HQ, para falar a verdade é tudo diferente.

Desde a inserção de cada personagem até os acontecimentos com Jesse Custer, a série procura a todo momento ter sua própria identidade, fazendo-se assim uma obra live-action de Preacher, com a mesma história contada de um jeito bem diferente.

Imagem: Banco de Séries
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A forma como Cassidy e Tulipa são apresentados na série é muito boa, por parte dela podemos até achar uma breve referência a cena original, que tanto na série como na HQ, funciona quase como um flashback. Tulipa também protagoniza uma cena muito boa, com ação, luta e mais irreverência, que por parte de alguns personagens marcou de forma positiva o episódio. Já o vampiro entra muito bem, conquista de forma rápida e eficiente o seu espaço em meio a trama, aparece solto, mas rapidamente acha um jeito de se ligar com a história. Lógico que não foi o suficiente para dizer que Cassidy faz parte da trama, pois ainda existe um cheiro de “será que fica ou vai embora?”.

Outra diferença grande da HQ para a série, é que no gibizinho a história entra de cara, se apresenta de forma consistente, porém confusa em meio a tantos flashbacks, mas que você logo se acostuma. Já a série da AMC se preocupa muito bem em se construir, em se fazer interessante e despertar a curiosidade do público de forma que o roteiro não precisa se entregar completamente. Quem não conhece a história de verdade pela HQ ainda pode ficar com o seguinte pensamento: “mas qual o objetivo disso?”. Pois é, é meio chato algo desse tipo, mas em suma funcionou bem, como um todo a série funcionou bem, mesmo deixando muitas pontas soltas para a continuação dos próximos episódios.

Vai ser muito interessante ver a interação de Gênesis com os anjos que estão procurando ele, enquanto um certo personagem ainda não for chamado para a captura do anjo demônio, ainda com Deus e o Paraíso. Esse último seria bem interessante se aparecesse em algum momento da série. Mas falando em Gênesis, achei bem positiva a forma de como trabalharam o espectro durante todo o episódio. Óbvio que deveria ser algo melhor do que simplesmente fugir o paraíso, chegar na Terra, entrar no corpo de Jesse e fazer toda uma anarquia como ele faz na HQ. Não foi isso que vimos. Na verdade assistimos algo bem interessante, pois desde que Gênesis saiu do Paraíso e foi para a Terra o anjo ficou a procura de um corpo que fosse capaz de mantê-lo dentro de si. Será que para isso era necessário algo físico ou algo em relação a crença ou descrença em Deus? Tal fato me indagou e ficou muito solto porque até então o anjo demônio havia se apossado o corpo de um Pastor Africano, que explodiu por completo na frente de seus fiéis, e de um Magistrado Russo, que também explodiu na hora da Missa.

Imagem: Banco de Séries
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Em si, Preacher se fez muito interessante, apresentou um episódio inteligente, que prendeu a atenção sem entregar completamente a proposta, ou como dizem sem entregar “ao que veio”, isso pode soar de forma negativa, mas acabou caindo como um ponto positivo. Dominic Cooper foi um tiro certo para encabeçar o protagonismo do show, seguido de Ruth Negga e Joseph Gilgun, que casaram muito bem com os seus papéis. Mesmo não apresentando completamente a história, a série já conseguiu definir muito bem a personalidade de seus personagens e cumpriu bem em apresentar uma identidade próprio, em formato e o tom de contar sua trama.

O humor em Preacher fechou bem com o tom e o formato que a série apresentou, já era de se esperar algo inteligente na parte cômica, pois a direção conta com Seth Rogen, que fez um ótimo trabalho (mais uma vez) com Vizinhos 2, que está em cartaz nos cinemas. Esse humor permeia muito bem entre um ar de alivio cômico, sendo mais leve, e como um humor negro, ou quase isso.

Por fim, resta definir Preacher como uma surpresa muito agradável. O show se fez interessante e despertou a curiosidade para os próximos episódios. Tem uma narrativa muito contínua que não cansa e procura trazer nuances que chamam a atenção e atraem os olhares para os rumos que a história vai ganhando. Lógico que o roteiro poderia ter sido um pouco mais ousado (levemente), mas não compromete a proposta do piloto, que é diferente da real proposta que a série ainda irá apresentar.

OBS.: A série faz uma crítica interessante sobre a religião, blasfêmia e o próprio culto religioso.

Nota para o Piloto

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