Imagem: Divulgação/ Paris Filmes

O cinema brasileiro é sempre muito contestado pelo seu próprio público, particularmente são poucos os filmes que gosto. Mesmo assim preciso admitir que se tem algo que sabemos fazer bem nos cinemas é contar a história de pessoas “públicas”. Mais Forte Que O Mundo conta parte da trajetória de um dos maiores nomes do UFC, José Aldo. E apesar de repetir vícios típicos dos nossos filmes, o longa-metragem é bom, e está acima da média nacional.

“Só é lutador, quem sabe lutar consigo mesmo.”

A história é forte, em nível dramático, como sempre é para aqueles que lutaram para vencer na vida. O filme começa um pouco perdido, pois apresenta de forma confusa o personagem, mesmo sendo conhecido. Outro problema é a ambientação da história. O Brasil é conhecido como País Continente e nós sabemos que temos 5 regiões e 26 estados. Sendo assim, existe uma grande necessidade de sabermos onde se passa a história. Saber que o verdadeiro José Aldo é de Manaus não basta para mim e nem para ninguém, o filme precisa mostrar isso, apresentar de forma muito clara essa questão.

Falo isso porque não é só para saber onde está se passando a história, mas somos um país com uma enorme diversidade cultural, desde o modo de viver até a alimentação, e por questão de sotaque o filme parecia se passar em um subúrbio da região metropolitana de São Paulo, ou até mesmo em algumas capitais nordestinas (mas sem o sotaque arretado).  Mas só ficou claro que estávamos situados em Manaus, quando “por acaso” no logo da delegacia estava escrito o nome da cidade.

A história do lutador ganha força durante o filme, tanto pelo atual momentos dos fato como também pelo uso, bem feito, de flashbacks. É nítido que o passado assombra a memória de Zé (como é chamado), e contra esse mesmo passado que ele trava a maior luta de sua vida. Nesse ponto o longa elaborou muito bem o desenvolvimento da história, que é marcada por uma singularidade bem interessante: o constante uso de frases de efeito como incentivos e ensinamentos de vida. Frases como “Quebra os playboy“, “Pra ser um vencedor você precisa vencer você mesmo” marcam muito bem a vida do personagem. Aliás, não se trata de uma história de origem, se trata da história de redenção de uma pessoa, que é assombrada pelas agressões do pai em sua mãe durante a infância, entre outros problemas.

Imagem: Divulgação/ Paris Filmes
Imagem: Divulgação/ Paris Filmes

A partir desse ponto a história cresce e aparecem dois pontos que para mim são cruciais: motivação e objetivo. A motivação de se tornar um homem melhor do que o próprio pai, de dar condições melhores para a família, junto com o objetivo de crescer (como pessoa em um contexto geral) são ótimos e sutis durante o filme, pela abordagem que não narra, mas que mostra a atitude. E é através da atitude que o longa se encaixa bem. Outro ponto forte do filme é a questão do diálogo, tudo bem que é normal a linguagem em filmes brasileiros ser chula, de baixo calão, repleta de palavrões, mas não há nada “bagaceiro” na forma em que é usada. Entre os amigos é normal, mas entre outras pessoas é retratado muito bem a realidade das nossas palavras – sim, senhor… obrigado… me desculpa… ao invés de: pode crer, valeu, foi mal “aê”…-.

Mesmo sendo um bom filme, Mais Forte Que O Mundo está longe da perfeição, principalmente quando as locações se passam para o Rio de Janeiro. O vício triste esse! Tudo bem que a cidade é maravilhosa, vendo pela sacada do morro, mas é chato ver em todos os filmes os traficantes controlando a passagem para subir no morro, e até mesmo a própria favela. Por que quase todos os filmes brasileiros precisam ter traficante, palavrão e favela? É só isso que existe no Brasil? Não, existe muito mais, pena que na cabeça de quem faz nossos filmes isso é só o que interessa.

Imagem: Divulgação/ Paris Filmes
Imagem: Divulgação/ Paris Filmes

O elenco é bem conhecido, José Loreto, Cleo Pires, Jackson Antunes, Rômulo Arantes Neto, Claudia Ohana, Milhem Cortaz, Paloma Bernardi, Rafinha Bastos (nada contra, mas poderia ser outra pessoa com o personagem sendo melhor trabalhado), entre outros. O personagem de Rômulo Neto foi um ponto bem estranho durante o filme, pois era retratado como um “antagonista” e também dava vida a  imagem dos problemas de Aldo, que era contra esse mesmo personagem que deveria lutar. Toda essa relação dele na história ficou muito confusa, meu entendimento é que mesmo sendo esse antagonista, Fernandinho (Rômulo) era, internamente, a personificação dos traumas na vida de José Aldo. Foi um conceito bem estranho e que para mim não caiu bem.

“Te Falei. O alto é pouco, eu quero pra você é o topo.”

Mais Forte Que O Mundo é uma grata surpresa nacional, bom filme, com boas atuações, um bom elenco, pelo menos com o que temos hoje, e com a exceção de Rafinha Bastos, as escolhas foram as melhores possíveis. Ressaltando a atuação de José Loreto, que foi muito boa, principalmente para um ator extremamente subaproveitado e mal explorado pelos papéis de novela. A “caracterização”, personalidade e trejeitos estavam ótimas. Pontos a ressaltar também para a boa direção de Afonso Poyart, que teve muita criatividade. A forma com que algumas cenas são mostradas, principalmente nas lutas foi ótima, só ficaram um pouco enjoativas devido a constante repetição.

A trilha sonora também estava muito boa, músicas conhecidas por todos e que traduziam muito bem o momento em que foram usadas.

Por fim, para um filme brasileiro, Mais Forte Que O Mundo, está mesmo acima da média, por causa de elementos bem particulares pela forma em que foram feitos, por ter alguns bons conceitos e uma história muito bacana de se ver. Seu único problema é o de mostrar sua localização para ambientar melhor a história (principalmente pela questão do sotaque) e pelo velho vício de palavrões (típicos em filmes nacionais), ir para o Rio e sempre mostrar tráfico e favelas. Nada contra, mas o Rio de Janeiro é maior do que apenas uma praia, favela e tráfico.

 

Nota do autor para o filme:

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