Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures
Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures
Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures

A proposta da releitura de Ben-Hur é bem clara, contar novamente uma das histórias mais famosas do mundo, não apenas dos cinemas, de uma forma diferente e cinematograficamente mais atual. Por ser claramente uma releitura, e em nenhum momento assumir uma posição ou característica de remake, o novo Ben-Hur utiliza alguns conceitos do clássico de 1959, mas de uma forma diferente.

Antes de falar propriamente do novo longa, é preciso fazer um breve comentário sobre o clássico filme de 1959, vencedor de apenas 11 categorias do Oscar. William Wyler fez um filme que marcou a história do cinema, não é o primeiro, e nem será o último, mas é um dos mais importantes já feitos. Em vários momentos do clássico fiz a seguinte reflexão: “é possível que esse filme seja de 1959?“. Eram pouquíssimos os recursos, ainda não existia o zoom nas câmeras, muito menos recursos gráficos de computador, e a característica realista da obra junto com uma narrativa e atuações teatrais fazem das quase quatro horas de duração serem envolventes de mais. Mas o ponto a se destacar entre o antigo e o novo é que são história iguais, por causa do personagem-título, mas como filme, ou obra, são completamente diferentes. Sendo visões e pontos de vistas diferentes ao contar a mesma história e retratar o mesmo personagem.

O fato de Ben-Hur (2016) ser uma releitura de um clássico, que até desenho animado já teve, faz com que evitemos comparações. Isso é muito importante, pois em nenhum, absolutamente nenhum, momento o novo tentar se igualar, imitar ou referenciar o antigo. É lógico que existe uma inspiração, existe um peso de recontar a história, mas talvez esteja aí o ponto forte da trama.

Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures
Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures

É um filme que se propõe a ser grande, tem uma história ótima, um roteiro que desenvolve conforme o maestro quer, abre muito bem os arcos e sabe explorar os personagens. Mesmo sendo um épico de ação, existe uma veia bíblica na história, não apenas pela presença de Jesus Cristo (Rodrigo Santoro), mas essa presença é muito simbólica. Não digo isso por aparecer pouco, mas ela é muito mais mensagem do que realmente uma pregação, é visível que os poucos e necessários ensinamentos do filho de Deus ficam muito presentes na trama e agregam bastante na evolução do personagem. É também uma visão diferente de Jesus, uma nova personificação, cheia de elementos de composição diferentes. O personagem criado por Rodrigo Santoro tem muitos méritos, mesmo sendo um mero coadjuvante, é notável que esse Jesus tem a mesma suavidade e serenidade de sempre, mas existe um “Q” de imposição, quase que agressiva, mas aos olhos dos homens existe também um ser iluminado que dá um tom calmo em momentos de turbulência da história. Em um primeiro momento isso me incomodou porque não entendi muito bem o personagem, mas é uma questão de pura interpretação, até que eu fosse capaz de entendê-lo, saber o significado dele na história o por que dele estar representado dessa maneira no filme, aí sim pude aceitar e gostar do personagem.

Judah Ben-Hur tem uma arco muito bem explorado durante a narrativa épica, é sim uma história de derrota, que tem seus momentos tristes, mas trata-se muito mais de uma redenção do personagem, acima de qualquer outra coisa. Isso prova também a tal veia bíblica que citei anteriormente, pois foram situações que Judah precisava passar, eram testes e provações, até que ele fosse capaz de entender o que estava acontecendo, deixando a sede de vingança de lado. É um personagem muito interessante de se ver e compreender, é humilde quando precisa, é inocente e puro por natureza, mas que traz uma carga dramática muito boa para a narrativa. O seu antagonista, Messala (Toby Kebbell) também é um ótimo personagem, e traz um conflito político e conceitos extremamente ricos para a trama, principalmente pela “diferença” que sofre, por ser um romano no meio dos judeus.

Ben-Hur é uma história simples, sim, mas que traz tantos elementos humanos, como esses próprios conflitos que citei acima. É de se ressaltar que escolha do elenco para os personagens foi ótima, todos eles tem tempo suficiente em tela para mostrarem o papel que desempenham na narrativa, o que hoje em dia é raro nos cinemas. Outro ponto que destaco com veemência é a forma como apresentam o conflito da traição, que é de certa forma mutua entre o protagonista e seu antagonista, assim como as motivações de cada um. É uma história que tem sua simbologia, você precisa fazer um certo esforço para alcançar certas ideias que o filme passa, mas ela é muito clara ao expor e explicar todos os acontecimentos. Pontos que são muito positivos para o longa de Timur Bekmambetov.

Existem alguns elementos no filme que poderiam ser muito mais simples. Que é um filme de carácter grandioso ele é, sem dúvida, mas se você assumi essa identidade (de ser grande), não é preciso ter algo ainda maior. É isso que Ben-Hur tenta em suas cenas de ação, tanto em flashbacks, estes muito bem inseridos na trama e usados puramente para explicações de forma correta, como nas cenas finais da corrida de bigas – essas também foram boas, muito bem filmadas e ambientadas -, o problema é que essas cenas não podem ser maiores que a obra toda, é preciso mostrar grandiosidade, mais uma vez, mas que fique de acordo com o tamanho do filme.

Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures
Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures

A história da humanidade, como a conhecemos hoje, começará sempre (no cinema) entre gregos, romanos, troianos, espartanos e outros povos grandiosos da história antiga. Não é um clichê, e sim um fato histórico, era uma época em que ou se acreditava em Deus ou nos Deuses, caso fosse na segunda opção a crença se personificava na pessoa de maior poder, dentro da hierarquia da época. É mais um bom retrato do filme, que já disse, sabe explorar muito bem todo o material que tem a sua disposição. Falando em material, Morgan Freeman é sim um ótimo ator, mas ele foi apenas Morgan Freeman no longa, entregou bem o personagem que só teve mais relevância por causa do ator que o interpretou, é uma peça importante na história, sim, mas poderia ser ainda melhor. Detalhe é que filmes com Morgan Freeman precisam com começar com uma narração dele (irônica).

Ben-Hur (2016) é tão bom quanto o clássico, naquilo que se propõe a ser e fazer, não há como comparar uma obra estreante com outra retentora e 11 Oscars, mas não é por isso que não devemos fazer comparações. O verdadeiro motivo é porque são retratos diferentes de uma mesma história, ambos são ótimos, uma versão antiga feita a moda antiga, e uma versão nova feita a moda atual. Não arrisco a dizer que o novo Ben-Hur de Jack Huston ganhará tantas estatuetas na maior premiação do cinema, mas posso afirmar que é um ótimo filme, e no momento vale muito mais o resultado visto na película do que o número de prêmios que venha a ganhar futuramente.

 

Nota do autor para o filme:

[yasr_overall_rating size=”medium”]