Imagem: Arquivo Pessoal/ Matheus Machado
Imagem: Arquivo Pessoal/ Matheus Machado
Imagem: Arquivo Pessoal/ Matheus Machado

Da morte viemos e para a morte nos entregamos.

Um novo mundo começa a se formar em Fear The Walking Dead, e se a história seguir por esse rumo podemos ter um boa melhora na série, mesmo sendo um episódio de transição, mais lento do que o anterior: Grotesque. O episódio foi interessante, aproveitou um pouco melhor os personagens e terminou de um jeito que há tempos não terminava, deixando-nos ansiosos para ver o que irá acontecer no próximo domingo.

Se existe algo básico em uma série é ela terminar o seu episódio de forma que todos aqueles que a assistem queiram logo o desenrolar da trama na próxima semana. Há um bom tempo Fear The Walking Dead terminava seus capítulos e eu ficava indiferente, tanto faz o que vier está bom. Entre os personagens que temos, poucos são aqueles que nos apegamos, ou poucos são aqueles que não são chatos. Salvam-se apenas Strand, Alicia e Nick, fora eles Luciana, a nova personagem, e Ofelia tem potencial, só falta a série resolver apresentar elas de vez, aprofundar e fazer o público tentar se apegar a elas, sentir uma empatia básica. Pois o resto são casos perdidos.

Um ponto forte desse episódio, que eu não sentia há um bom tempo em relação a FTWD, é um certo nível de tensão em relação ao que está para acontecer. Mesmo que o início e o meio de Los Muertos tenha sido bem despretensioso, do próprio meio para o fim os ares foram mudando e algo estava para acontecer, fosse ele previsível ou não. Isso foi um bom resgate para a temporada, já que fazem tanta questão de dizer que o mundo é dos mortos e a morte não é o fim, por que não fazer dos mortos os vilões no final do episódio e terminar ele com um cliffhanger básico, aumentando a tensão e a curiosidade de quem está acompanhando o prequel de Walking Dead?!

Desde que os sobreviventes desembarcaram de vez no México algo, que eu até já esperava, começou a acontecer. Me refiro a superstição dos mexicanos, pela sua cultura e pela relação que o povo tem com a morte. Para quem não sabe a morte não é exatamente um motivo de tristeza para os mexicanos (ainda que exista o luto), e sim um motivo para comemorar. Curiosidades culturais a parte, a forma como abordam isso na série faz parecer com que todos os habitantes locais sejam na verdade um bando de fanáticos religiosos, que sofrem uma grande lavagem cerebral daquele que os comanda e isso incomoda – enche o saco na verdade – bastante em todos os episódios em que o assunto é retratado. Acho que a visão que os roteiristas estão tendo na forma como mostra isso está muito equivocada, mas de certa forma tenho que admitir que ela se encaixa bem para fazer o contraste com os ideais dos personagens centrais da trama.

É legal eles já terem contato com um grupo que encontrou uma forma de se manter unido e expandir os horizontes da localidade, principalmente o retrato que fazer das gangues de traficantes, que agora traficam de tudo. Mesmo que a atitude de Nick tenha sido bastante eloquente, o jovem fez o certo e deixou algo – interessante – bem claro para todos: não importa o “poder” que as pessoas tenham, você sempre será dependente dos outros de alguma forma. E lógico que tratando-se de drogas, Nick não iria ficar calado, já que ele entende muito bem os efeitos da abstinência.

Imagem: Reprodução/ Banco de Séries
Imagem: Reprodução/ Banco de Séries

Por fora também correram alguns arcos bem interessantes, que já deveria ter acontecido a muito tempo, pelo menos com a mesma clareza que foram expostos em Los Muertos. Me refiro ao fato do desabafo pessoal de cada personagem, e a sanidade de cada um em saber que não podem mais viver do passado. As cenas que se passaram dentro do hotel foram bem interessantes e deram um ar novo para a relação dos sobreviventes. Algo que posso afirmar é o seguinte: Fear The Walking Dead em nenhum momento soube trabalhar bem seus membros enquanto eles estavam reunidos em grupo, ficando em um ciclo vicioso de tramas ruins e arcos de personagens irritantes – Travis e Chris com suas lenga lengas, por exemplo -, então se em grupo não se encontra uma harmonia é melhor separá-los. Um reflexo disso é que no começo do episódio tivemos aqueles leves conflitos desnecessários de Madison com Alicia, e foi chato mesmo, eu, por exemplo, já estava de saco cheio só daquele pequeno momento. Mas depois quando chegaram no hotel, usaram muito bem os personagens já consolidados para alavancar os caídos, foi caso de Strand com Maddy e Alicia com Ofelia.

Até agora não entendo porque os roteiristas não aproveitam Ofelia como deveria, ela é uma personagem muito interessante, e até o momento serviu mais de figurante dos outros. Strand é um cara que quando tem o devido espaço, sabe chamar a atenção e sabe carregar uma história, isso está mais do que comprovado. Mas para não enrolar muito, há males que vem para o bem, e se você achou totalmente sem noção duas pessoas ficarem bêbadas e começarem a fazer barulho no meio de um apocalipse zumbi, em um lugar onde o eco do som pode alcançar longas distâncias, eu entendo você, mas agradeço aos que fizeram essa burrada, pois ela é responsável por algo que eu chamo de promissor. Ou seja, foi a besteira mais correta dos personagens até aqui.

O final do nono episódio da temporada foi realmente promissor, trouxe novamente o interesse para a série, é um conflito – entre humanos e zumbis – que deve acontecer de tempos em tempos, pela gravidade que isso pode provocar. E posso afirmar com todas as letras que Fear The Walking Dead estava precisando muito desse desafogo. Mesmo que a trama de Nick esteja igual a anterior, com o personagem no meio de conflitos ideológicos e religiosos, essa parte perigosa precisava acontecer para movimentar a história e colocar os personagens a prova. Afinal, nós precisamos saber até onde eles são capazes de chegar para defender suas “preciosas” vidas.

Imagem: Arquivo Pessoal/ Matheus Machado
Imagem: Arquivo Pessoal/ Matheus Machado

O cliffhanger final foi muito bom, não apenas pelos walker’s entrando no hotel e invadindo as escadas, mas como todos eles (personagens) estão separados, as tensões irão aumentar ainda mais e lhes pergunto: onde foi parar Ofelia? Será que tinha alguém escondido naquele andar do hotel e pegou ela? Espero que não, por favor, que não seja isso, pois assim estarão estragando mais um plot da série. Deixem os zumbis assumirem o antagonismo um pouco, por que as cenas com eles caindo das janelas foram bizarramente ótimas. E aquela mordida cauterizada no ombro do “farmacêutico”? Sinceramente, não dei muita atenção para isso porque se Kirkman não ligou para esse assunto em TWD (de revelar a causa ou uma cura ao apocalipse), por que revelar a cura da praga em Fear The Walking Dead? Uma dica: não se apeguem ao detalhe, por enquanto, pois se fosse importante o roteiro do episódio teria dado uma ênfase maior para o fato, mas não foi este o caso.

Nota do autor para o episódio:

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