Imagem: Divulgação/ Warner Bros.
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O Contador traz aos cinemas uma história complexa, que na teoria não deveria ser difícil de entender. Mas o roteiro se perde totalmente e cria muitas dúvidas ao longo da trama, e na hora em que deveria explicar tudo que acontece acaba deixando a história ainda mais confusa.

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O novo longa do diretor Gavin O’Connor traz a história de Christian Wolf (Ben Affleck), que sofre da Síndrome de Savant. Wolf tem uma personalidade introvertida, por causa da síndrome, e se sente mais confortável quando passa o seu tempo ao lado dos números. O contador trabalha secretamente para algumas das organizações criminosas, e de fachada possui um escritório de contabilidade em uma cidade pequena. Ao ser contratado para verificar um rombo de milhões de dólares nos cofres de uma empresa de robótica, Wolf acaba se colocando em risco por causa de uma jovem assistente de contabilidade da empresa, e os dois começam a ser perseguidos por um grupo de assassinos.

O Contador tem uma proposta ótima e uma história teoricamente incrível. O problema é o roteiro de Bill Dubuque (O Juiz), e este compromete o filme todo. Com quebras constates de ritmo, a história tenta ser envolvente, mas por trazer mais dúvidas do que respostas não consegue se sustentar por muito tempo. Permeando entre alguns gêneros durante o desenvolvimento do arco principal – entre eles suspense, drama, ação, romance e algumas tentativas interessantes de humor negro – mostra que o conceito utilizado para criar a história era na verdade uma grande confusão. O Contador não consegue se assumir como um thriller de suspense e ação, um drama policial de ação, ou apenas um longa criminal.

As falhas são as explicações. Para o contexto geral, a trama principal fica extremamente confusa. Primeiro temos Wolf fazendo seus trabalhos rotineiros; segundo a agente Medina (designada para descobrir a identidade do contador); e em terceiro um assassino de aluguel rumando apenas para um único sentido – matar/prender o protagonista. O problema disso é que as motivações são diferentes para cada um e a forma como as expõem é muito rasa e pouco contextualizada. Isso se deve pela intenção do diretor (O’Connor) que tenta explorar ao máximo a complexidade de Christian Wolf (isso sim, um dos ponto positivos de O Contador, pois a visão do diretor consegue trazer muito bem a personalidade afetada do personagem e como sua vida é retratada, principalmente pela influência que sofre pela síndrome de savant). Porém, a atenção que ele tem com os detalhes pessoais do personagem não se repetem com o principal: a história narrada no longa-metragem. Infelizmente o que poderia ser simples acaba sendo complicado.

Imagem: Divulgação/ Warner Bros.
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Entenda: Wolf trabalha para traficantes, cartéis e outros tipos de organizações criminosas. No longa isso não é mostrado em si, é apenas contextualizado e vemos apenas um contador “normal” fazendo o serviço de um contador (mas sabendo que ele esconde alguns podres). Temos também o governo tentando intervir, prender o tal contator que eles nem conhecem, mas dentro disso há um pequeno twist revelado por Ray King (J.K. Simmons) e acaba deixando os agentes do governo em uma posição ruim – fazendo da caçada ao contador uma total perda tempo sem sentido poque se você sabe que não pode pegá-lo por que continua tentando?. E por fim, Wolf é perseguido por descobrir uma fraude de orçamento e não por suas atividades a margem da lei. Resumindo: a história do longa é completamente contraditória com a proposta que o roteiro tenta contextualizar.

Ben Affleck tem uma atuação fácil, é um personagem pouco expressivo e que se transforma nos moldes comuns dos protagonistas de ação (estilo Jason Bourn e até mesmo o James Bond de Daniel Craig). É preciso destacar que o elenco é sim de primeira, Anna Kendrick está bem no filme porque é o tipo de personagem que ela sabe fazer (bobinha, engraçada e meiga). Sua personagem têm, até certo ponto, uma relação interessante com Wolf (Affleck) que é muito mal desenvolvida. J.K. Simmons faz um agente do governo, que tem boas revelações durante a história e contextualiza muito bem o que foi citado anteriormente (fazendo da caçada ao contador uma total perda tempo e sem sentido poque se você sabe que não pode pegá-lo por que continua tentando?). Jeffrey Tambor é um ator incrível (na série Transparent) e aqui ele tem poucas aparições, que servem como pano de fundo para ligações do passado entre alguns personagens.

Imagem: Divulgação/ Warner Bros.
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John Bernthal poderia ser o grande vilão da história. O ator vem desempenhando bons papéis na TV. Foi assim na 2ª temporada de Marvel’s Daredevil (Demolidor da Netflix) interpretando Frank Castle, o Justiceiro. O personagem fez tanto sucesso que acabou ganhando uma série própria. Além de seu personagem em The Walking Dead, que desenvolveu um antagonismo interessante na trama do seriado. Todo esse potencial vilanesco de Bernthal é desperdiçado pelo roteiro. O ator foi responsável por conduzir aparições interessantes e instigantes, mas o seu verdadeiro personagem (que teve a identidade revelada apenas no final) não surpreendeu e o roteiro não soube conduzi-lo até o fim da história.

Com uma história confusa e que não sabe se explicar, O Contador mostra pouco em relação ao que se esperava. A trama envolvente não se sustenta, mas consegue ser competente em algumas boas sequências de ação. O roteiro de Bill Dubuque tenta estabelecer-se na quebra de paradigmas cravados em filmes de ação, como o beijo entre o mocinho e a donzela indefesa e até mesmo retirando o embate final entre o protagonista e seu rival. O Contador não tem ritmo, ele alterna muito mal entre cenas frenéticas e outras quase paradas. Por fim, o saldo do longa fica negativo, a história e a proposta não se encaixam e O Contador decepciona fim das contas.

Avaliação

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