Divulgação/ Warner Bros.

Clint Eastwood traz em Sully – O Herói do Rio Hudson uma direção segura, que acerta em não tentar ser, em nenhum momento, um blockbuster de catástrofe – como Horizonte Profundo – Desastre no Golfo e muitos outros. Ao contrário disso, o diretor acerta em cheio colocando o foco do roteiro no drama de seu protagonista Chesley “Sully” Sullenberger, vivido pelo vencedor do Oscar, Tom Hanks.

Sabendo que Hanks tem uma das melhores essências dramáticas entre boa parte dos atores de Hollywood, Clint sente-se seguro em deixar a missão de chamar a atenção nas mãos do ator. O primeiro ato é inteiramente dedicado em fazer o público entender o problema do personagem, que vai muito além dos questionamentos do julgamento. A sensibilidade do roteiro em retratar os medos e pesadelos de Sully – principalmente aqueles momentos de vazio em que qualquer ser humano reflete sobre o que poderia ter acontecido se tomasse uma atitude diferente, em uma determinada situação – criam uma identificação muito grande com aquilo que é a essência da obra: o fator humano.

É difícil o cinema retratar com tanta dedicação a empatia entre um personagem real sendo realista, ainda mais sob a circunstância de não transformar o longa em um melodrama ou um blockbuster. É aí que o acerto em fazer uma história curta favorece a objetividade da trama. A narrativa ajuda no momento em que o roteiro sabe o que quer e o que precisa mostrar. O longa não gira em torno do acidente ou em mostrar os problemas do avião, mas parte do ponto que só mostra o necessário quando lhe é solicitado – mesmo que precise repetir com algumas diferenças uma mesma cena.

O drama psicológico de Sully sustenta internamente o simples enredo do filme, não há muito o que pensar sobre isso, ele é o que é. Sendo assim, a história consegue de forma natural compreender tudo aquilo que está acontecendo, dando a possibilidade de digerir os dois lados da moeda que são impostos pelo próprio personagem. O questionamento do protagonista é válido, ao permear entre “salvei todas essas pessoas” e “eu poderia ter matado todas elas”. É uma reflexão que perturba os seus pensamentos, mas que consegue mostrar a segurança das ações do piloto na hora em que o “fator humano” era o único capaz de salvar ele e a tripulação. Afinal, o filme consegue trazer a afirmação de que um piloto não é responsável, apenas, por transportar pessoas, mas também está em suas mãos a vida de todos que ali estão.

Sully – O Herói do Rio Hudson é cheio de reflexões humanas, mas a todo o momento a simplicidade do longa deixa um vazio. Assim, há sempre a impressão de que algo está faltando. Clint Eastwood não tem aqui um dos melhores trabalhos, mas assim como em outros filmes de sua carreira o diretor tem noção das limitações do roteiro e consegue retirar e exaltar o que a sua história tem de melhor. Neste caso, o protagonista e os seus contextos. Com isso, o longa não permite trabalhar núcleos que o transformariam em um melodrama, como as aparições rápidas e diretas da esposa do Capitão, interpretada por Laura Linney. Assim como o parceiro Jeff Skilles (Aaron Eckhart, o Duas Caras de Christopher Nolan na trilogia O Cavaleiro das Trevas), que serve como apoio das afirmações de Sully no julgamento, além de provar novamente o fator humano do ocorrido.

Sully é isso, um filme bem feito, dirigido com competência ao lado de um roteiro eficiente. Assumir-se como um longa objetivo que tem a intenção de trabalhar uma visão em cima, apenas, do seu protagonista é um grande acerto. O problema é que a história acaba sendo rasa em determinadas situações, deixando a impressão que de faltou sal nas águas do Hudson.

Avaliação:

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Bom)