Animais Noturnos é o segundo longa-metragem dirigido por Tom Ford

Animais Noturnos chega aos cinemas brasileiros ainda a tempo de ser considerado um dos melhores filmes do ano, mas sem tanto prestígio para tal rótulo. Os méritos são da direção complexa de Tom Ford, que faz um drama competente e instigante, sem se tornar um melodrama.

A história de Susan (Amy Adams) tinha tudo para se tornar um drama de novela, mas a complexidade do roteiro trouxe três linhas temporais diferentes, sendo que uma delas não passa de pura fantasia. Amy Adams cresce cada vez mais no cinema e é em papéis com peso dramático como este que o seu talento se sobressai em cena, assim como em sua excelente atuação em Arrival (A Chegada).

Ford já fez seu nome como estilista, mas é como diretor de cinema que começa a criar uma ótima carreira. Em 2009 estreou como diretor no ótimo Direito de Amar, mas é em Animais Noturnos que conhecemos mais da sua essência e definimos melhor a assinatura do diretor. Este filme, aliás, lembra muito os dramas e suspenses dos anos 90, onde a trilha sonora precisa casar perfeitamente com a composição visual das cenas. Aqui, ao lado de Ford, Abel Korzeniowski compõe a trilha com refinamento e classe, assim como fez na série Penny Dreadful.

A ascendência do diretor, em ter seu “primeiro” talento explorado no mundo da moda, é um dos destaques do filme, pois Tom Ford domina a captura visual da beleza que compõe a película. As cores da fotografia é mais um acerto de Animais Noturnos. Os elementos que compõe a contextualização da história fazem um contraste instigante com o roteiro. A narrativa que se desenvolve com três linhas condutoras surpreende em mostrar uma nova perspectiva sobre a expectativa criada com o centro da história.

Inicialmente, Susan deve dominar o filme, em que seria todo da personagem de Amy Adams. Mas o roteiro assinado por Tom Ford e Austin Wright faz com o que a figura central do texto seja, na verdade, as escolhas e lições de Susan, e não a sua figura como personagem.

A partir disso, Jake Gyllenhaal traz um novo contraste em sua interpretação. O papel dos seus personagens é transfigurado em um visão de si mesmo personificada em uma figura literal e em uma lembrança mitológica. A figura de Edward, ex-marido e Susan, e Tony, o personagem do livro “Animais Noturnos“, traz uma das melhores escolhas de roteiro do filme: mostrar que Edward conseguiu superar a separação usando a personificação do seu “eu” lírico no livro. Isso se confirma pela forma que a história pesada de estupro e assassino afeta as lembranças e indaga as escolhas do passado de Susan. E é no livro, e talvez no personagem que representa a figura literal de Susan na obra de Edward, que surge a atuação de Aaron Johnson, que se sobressai em relação aos colegas de cena.

A junção desses elementos faz com que a história de Animais Noturnos seja muito mais atraente do que a proposta inicial que havia antes de mudar a perspectiva sobre a história. Amy Adams domina as cenas em que aparece, a sensualidade natural de sua personagem combinada com sua atuação precisa, e sem exageros, trazendo uma protagonista quase onipresente. Assim como Adams é destaque, Jake Gyllenhaal rouba a cena ao fazer duas versões de um mesmo personagem, com motivações quase iguais por motivos extremamente diferentes.

Animais Noturnos é um longa-metragem diferenciado, com uma linguagem complexa. Tom Ford consegue resgatar elementos do suspense que pouco se vê nessa década do cinema. A obra precisa ser digerida com calma, apreciada em demasia e depois refletida com a mesma complexidade que ela se apresenta. O diretor deixa no seu segundo filme o potencial futuro para o resgate de um gênero quase clássico.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Ótimo)