Imagem: Divulgação/ Paris Filmes
La La Land é o primeiro grande clássico de cinema, no século XXI, com a cara de Hollywood
La La Land - Cantando Estações (Paris Filmes)
Imagem: Divulgação/ Paris Filmes

Damien Chazelle estava, de fato, Em Busca da Perfeição, quando dirigiu e escreveu o roteiro de Whiplash, em 2014. Mas agora, Chazelle achou a perfeição e criou em La La Land – Cantando Estações um clássico do cinema desta geração. Como se não bastasse o grande feito, o diretor ainda é jovem, tem apenas 31 anos, e com certeza ainda terá grandes filmes nos próximos anos.

La La Land traz um drama bonito, um romance encantador, e ambos não caem em nenhum clichê, muito menos em um amor pastelão. Apesar de fantasioso na composição de um “universo” particular de um mundo musical, as escolhas e rumos da história são chocantemente realistas. Não é um conto de fadas em que o príncipe encantado salva a gata borralheira, transformando-a em uma bela princesa e os dois vivem juntos e felizes para sempre. Parte disso acontece, porém, a vida é uma caixinha de surpresas, e antes de fazer os sonhos virarem realidade é preciso passar por diversas situações e provações, sendo esse um dos principais acertos do roteiro de Chazelle.

La La Land encanta, apaixona e faz o público imergir com olhos brilhantes em toda sua trajetória. A cena inicial mostra um aperitivo do espetáculo que está por vir, não apenas o musical, mas tecnicamente (de modo geral) também. A cena é filmada, inteiramente, em plano-sequência, aumentando a dificuldade da gravação e tornando o êxito do filme ainda maior. Chazelle acerta na direção mais uma vez, o diretor apresenta uma filmagem sofisticada, com enquadramentos perfeitos e um visual impecável.

O filme combina as suas músicas alegres com um festival de cores vivas e vibrantes, desde o vestido das personagens até mesmo a cor dos cabelos, passando pela iluminação ambiente e a decoração das ruas e locais fechados. Na fotografia, não há um filtro que deturba a originalidade das cores ou que deixa outro tom na película, a intenção de Chazelle é trazer a essência das cores, assim como havia em grandes clássicos do cinema no gênero, principalmente em Cantando na Chuva. É preciso ressaltar que não é só de felicidade que vive La La Land, nos momentos mais dramáticos o filme consegue se sobressair, principalmente no fade de luz, que foca apenas na figura central da música.

La La Land - Cantando Estações (Paris Filmes)
Imagem: Divulgação/ Paris Filmes

Há elementos na composição da obra, que fazem uma homenagem a era de ouro em Hollywood, com cenas que parecem realmente de filmes antigos, desde as palmas aceleradas ao fade que diminui a imagem em um círculo. Tudo cabe perfeitamente na identidade original de La La Land, e com a assinatura do próprio diretor.

Os acertos visuais rumam lado a lado da musicalidade, que encanta a cada nota. City of Stars, a trilha principal do filme – que ganhou o Globo de Ouro como Melhor Canção Original -, pode ser colocada na repetição inúmeras vezes, pois não é o tipo de música enjoativa de um filme qualquer. As interpretações e números musicais são grandiosos, tem muita qualidade, e são filmados com um trato mais do que especial do diretor. É preciso ressaltar que boa parte dos números são feitos em plano-sequência, e todos perfeitos. Aliás, a montagem, sonoplastia e arranjos, também são impecáveis – estes três elementos parecem ser a especialidade de Chazelle, que não se importa apenas com a história, ou com o visual, ou com a musicalidade, o diretor pretende fazer uma obra completa, combinando com maestria todos os elementos principais de um filme. E mais uma vez, Damien Chazelle consegue, a diferença é que em La La Land, o diretor encontrou a perfeição em sua obra.

Emma Stone e Ryan Gosling demonstram um química envolvente desde a primeira trombada, o encantamento nos olhos de Stone combina perfeitamente com o charme sedutor de Gosling. A história do casal é muito bem desenvolvida e ganha rumos surpreendentes – não apenas pelo resultado final, mas principalmente por não descartar o que poderia ter realmente acontecido com os dois.  As participações de J. K. Simmons – vencedor do Oscar em 2015 por “Whiplash – Em Busca da Perfeição” – e do talentoso John Legend, chegam para agregar. Simmons tem nuances que só reforçam a qualidade de um ator oscarizado, permeando entre o exigente personagem de Whiplash à um homem divertido. Legend ajuda a musicalidade ser mais variável, o que já era bom no começo fica ainda melhor por se recriar a própria originalidade e não entrar em nenhuma zona de conforto.

É surpreendente, ainda, que o roteiro se permita levantar questões sociais importantes para a sociedade. O longa demonstra a inclusão e promove a união de todas as tribos – tanto que há uma cena misturando diversos tipos de danças diferentes, além de mostrar pessoas com gostos musicais distintos em um belo espetáculo. Além disso, La La Land ressalta que é preciso inovar, que é bom estar aberto a novas opções, e respeitar outros gêneros. O conceito do filme, favorito e provável vencedor do Oscar 2017, mostra o que estava faltando na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O filme ainda faz um crítica as ideologias do seu próprio protagonista, mostrando que nem sempre é certo ser tão conservador. Há reflexões válidas e sutis, que aumentam ainda mais o tamanho deste espetáculo chamado La La Land.

La La Land - Cantando Estações (Paris Filmes)
Imagem: Divulgação/ Paris Filmes

La La Land – Cantando Estações é uma obra-prima necessária para o cinema, que se afoga cada vez mais em grandes produções de gastos que superam os US$ 300 milhões. A sofisticação estética, dentro da simplicidade absurda que o filme apresenta, enche os olhos de quem assiste. Mesmo que a dupla de protagonistas tenha atuações memoráveis, que movem essa locomovida musical, La La Land só é algo real e concreto por causa de seu jovem diretor: Damien Chazelle. Aqui está um grande clássico dessa nova geração no cinema, e eis que renascem dos musicais. La La Land marca a história da sétima arte, no momento em que ela mais precisava de algo surpreendente e inovador.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Obra-prima)