Hollywood se renovou do último ano para cá, e se atualmente há um filme diferenciado no cinema americano, este se chama Moonlight – Sob a Luz do Luar. Barry Jenkins conseguiu fazer uma história sincera e verdadeira, que dialoga de uma forma peculiar com o público. Com uma linguagem cheia de simbolismos, Moonlight é uma obra necessária para o cinema.

A história de um garoto que vive entre a violência e desigualdade do guetto e os problemas da mãe drogada, abrem os olhos para uma história que acontece todos os dias no mundo, independente do país ou da pessoa, mas é fato que muitas dessas pessoas passam todos os dias pelas mesmas dificuldades do jovem Little (Alex R. Hibbert). O preconceito presente na vida do menino é retratado de uma forma absurdamente sincera e despretensiosa, ficando evidente que Moonlight poderia ser um melodrama, mas Barry Jenkins se contentou em apenas mostrar as coisas como elas realmente são.

A narrativa diferenciada e original do roteiro é mais um acerto do diretor, que divide os três atos do filme entre a infância, adolescência e a vida adulta do protagonista. É incrível, também, como as consequências dos acontecimentos são desenvolvidos ao longo da vida do rapaz. Chiron (Ashton Sanders) é um personagem a ser estudado. Solitário e oprimido, o protagonista se faz interessante em suas reações ao preconceito, homofobia e ao bullying, e aqui a violência gera violência – ou é apenas a forma que o garoto encontrou para se defender.

Jenkins traz uma linguagem densa e pesada ao subtexto do filme, dialogando de uma forma empática com o público. Com esta sendo uma das principais virtudes do filme, é interessante, também, ver como funciona esse mesmo diálogo com as pessoas, pois Jenkins não se propõe a trazer explicações (por exemplo, o que aconteceu com o pai de Chiron e o que levou Juan (Mahershala Ali) a ter tal destino). Porém, mais importante que isso, é o fato de que essa falta de “por quês” não se faz importante para a história que está sendo contada.

Com um orçamento de apenas US$ 5 milhões, Moonlight traz um carácter independente na forma em que constrói a história e na maneira que aborda assuntos presentes no dia-a-dia da sociedade (não apenas brasileira), seja ela estadunidense ou não. Ainda é importante ressaltar que o roteiro simples consegue trazer à película diálogos imponentes e marcantes, méritos também da forte atuação de Mahershala Ali. O ator, uma das surpresas positivas de 2016, dá vida a um personagem crucial para a vida do protagonista. Juan, o traficante que vendia as drogas para a mãe de Chiron (vivida por Naomie Harris), é um personagem conflitante e representou a figura paterna que faltava na vida do jovem garoto. Jenkins ainda acerta ao estabelecer a relação entre os dois personagens, que juntos protagonizam uma das cenas mais fortes do cinema nos últimos anos.

O diretor, além de fazer o equilíbrio entre o desenvolvimento do roteiro e o ritmo da narrativa, ainda traz uma direção primorosa. Usando e abusando de ângulos corretos e combinados a fotografia singular de Moonlight, Barry Jenkins confirma o seu nome entre os grandes diretores de Hollywood, mesmo que este seja apenas o seu terceiro filme. Muito disso é mérito da simplicidade adotada pelo cineasta, que sabe o que está em suas mãos e em nenhum momento torna o filme algo que ele não deve ser.

O que espanta em Moonlight não é a história em si, mas a abordagem sincera e simplista que o diferencia da maioria dos grandes dramas hollywoodianos, além de trazer a tona uma conversa particular sobre aceitação e diversidade dentro de uma temática LGBT nua e crua.

Simples e direto, Moonlight – Sob a Luz do Luar surpreende com suas características singulares, sendo um filme que choca e que se mostra grandioso, de uma forma diferente e nada apelativa. Barry Jenkins traz, aqui, uma pérola que deve ser preservada com o passar dos anos.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Excelente)