É impossível não incluirmos na Sessão P&B o nome de um dos maiores ícones do seguimento: Charles Chaplin.

Chaplin atuou no campo cinematográfico como um verdadeiro prodígio, sendo ele: ator, produtor, roteirista, diretor e até compositor das trilhas sonoras de suas obras. Ficou mundialmente conhecido por seu mais ilustre personagem “The Tramp”, nomeado no Brasil como “Carlitos” ou “Vagabundo”. Com seus traços maltrapilhos e seus modos requintados, Carlitos ganha o coração de quem presencia suas histórias devido a sua graciosa maneira de conciliar o riso com a melancolia, detalhe que o transformou em uma deleitosa válvula de escape para a realidade pós-guerra que perdurava na década de 20.

Por tanto, a Sessão P&B dará destaque a Chaplin em O Garoto (The Kid), lançado em 06 de maio de 1921 no Brasil – e em fevereiro nos EUA. O longa conta com 1h e 08min de perfeita combinação entre as tão conhecidas trapalhadas e dramas de Carlitos ao se responsabilizar por um garoto órfão. Na trama, ele e John (Jackie Coogan) convivem como autênticos pai e filho durante os 5 anos – posteriores ao abandono do garoto -, ato cometido por uma mãe desafortunada e desesperada (Edna Purviance). Os dois personagens fazem o que podem para ganhar a vida que, neste contexto, baseia-se no ato de John quebrar vidraças para que Carlitos as concerte, garantindo assim o emprego do Vagabundo e o humor para os telespectadores.

A obra apresenta o desenvolvimento de um tema pouco presente nos trabalhos de Chaplin, a família, sendo indispensável destacar que Chaplin perdeu seu filho recém nascido durante a produção do filme, fato que traz uma carga emocional singular ao filme – capaz de intensificar o sentido das cenas de relação entre ele e o pequeno Coogan.

Em uma época em que o cinema falado ganhava força, Chaplin conservou sua maneira única de produzir, dirigir e atuar, e indiscutivelmente são em suas obras que podemos apreciar um dos mais significativos apelos do cinema mudo: a valorização dos gestos e expressões que substituem as palavras. Em O Garoto, temos uma autêntica demonstração de afeto na relação entre pai e filho, sem que seja necessário o uso das palavras. Este mesmo afeto vem refletido nas cenas mais simples, como Carlitos analisando e asseando rigorosamente algumas das partes do corpo do garoto, indo até as cenas mais dramáticas, representadas principalmente pela sequência em que o personagem de Chaplin se depara com as autoridades tentando tirar John de seus cuidados, sendo este o momento em que Chaplin revela um dos olhares mais comoventes dentre suas obras.

Jackie Coogan é outra peça importante que merece destaque, considerando sua admirável e tocante interpretação em O Garoto. O ator já era um grande fã de Chaplin antes mesmo de fazer parte das obras do grande gênio. Sua admiração, combinada ao talento inigualável, garantiram seu papel na trama. Posteriormente, Jackie atuou no clássico Oliver Twist (1922), se tornando uma das primeiras crianças a ser prestigiada pelas grandes massas. Quando adulto, personificou o tão conhecido Tio Fester Addams na série A Família Addams (1973).

Além das brilhantes atuações, o filme não dispensa as presentes críticas de Chaplin às condutas da sociedade global. Em uma das últimas sequências, Chaplin estabelece um franco julgamento a respeito dos comportamentos humanos, liderados por emoções destrutivas como a ira, inveja e o egoísmo, os quais impedem a humanidade de viver pacificamente.

Apesar da trama expor um gênero dramático, os momentos de humor estão bem distribuídos no corpo da história, mostrando que mesmo em meio a cenários destruídos pela guerra ou em casebres onde se faz um cobertor de roupão, ainda há espaço para algumas trapaças e confusões que resultam em largos sorrisos e até mesmo em um final feliz.