Há cerca de um mês atrás (13/03) chegava à Netflix a primeira e aguardada (já tão falada) primeira temporada de Punho de Ferro para fechar as séries-solos do heróis da parceria entre a Marvel e o serviço de streaming, e enfim encaminhar este universo ao grande evento que Os Defensores deve trazer. Porém, além disso, Punho de Ferro tinha algumas incumbências para cumprir, entre elas estavam apresentar o lado místico do personagem no Universo estabelecido pela Netflix (algo que o Marvel Studios fez com maestria com Doutor Estranho no final de 2016), mostrar também um campo preparatório para a união de Danny Rand com Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage, e por fim apresentar as habilidades marciais do Punho Ferro, depois de 15 anos de treinamento em K’un-Lun. Com a exceção de contar a origem do personagem, a nova série da Marvel não cumpriu com o que deveria.

Punho de Ferro escolheu o caminho mais controverso para seguir, ao invés de apresentar o místico e mítico Punho de Ferro, preferiu mostrar mais a identidade, teoricamente, secreta do herói, focando toda a trama no retorno e restabelecimento de Danny Rand (Finn Jones) em Nova York. Porém, diferente das séries anteriores, esta ousou e mudou o formato carrancudo ou escuro de Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage, passando a ter uma abordagem visualmente mais clara, e limpa, como também trazendo um tom mais leve para a narrativa, ainda arrastada, do programa.

A trama deveria ser o grande fio condutor da temporada, e mesmo fazendo isso, o gosto amargo de decepção incomoda principalmente com os episódios finais que não entregam um grande climax – aliás, é possível afirmar que o grande momento da temporada ocorreu entre o sexto e o sétimo episódio. Com um núcleo jurídico forte e com grande espaço na história, Punho de Ferro alternava seus acontecimentos entre os problemas diários do protagonista com os dilemas de ser o Punho de Ferro, “inimigo declarado do Tentáculo” e incumbido de exterminar o mal pela raiz – algo teclado diversas e diversas vezes pelo personagem de Finn Jones. Ainda assim, com o enraização da organização inimiga, que foi tão bem na segunda temporada de Demolidor, Punho de Ferro não conseguiu em nenhum momento aprofundar a mitologia que a disputa poderia proporcionar, e assim trouxe uma história ineficiência alongada por 13 episódios – problema, este, reforçado por uma organização composta por “ninjas” que usam armas de fogo ao invés de lutar.

Imagem: Divulgação/Netflix

Madame Gao (Wai Ching Ho), por exemplo, é um dos grandes acertos da Netflix desde suas misteriosas e enigmáticas aparições em Demolidor, e aqui, em um combate mais direto com Danny Rand chamou a atenção ao ser uma vilã sem precedentes. Ainda representando essa figura misteriosa, Gao só não foi o melhor da temporada, pois o roteiro quis escolher um vilão péssimo para trazer perigo ao protagonista. Ainda assim, fica clara a intenção de  “vamos guardar a Madame Gao para o futuro“. Com isso, Bakuto, vivido pelo também regular Ramon Rodriguez, é a representação do vilão mais genérico que uma série de super-herói pode ter, além de trazer uma motivação fora de todo o contexto da série – o que tornou a trama uma bagunça, afinal a clara luta de Danny Rand contra o Tentáculo, mesmo que continuando, foi colocada de lado pela motivação pessoal de Bakuto.

Ao oscilar, entre a escolha de uma grande vilã e uma ameaça contextualmente desnecessária, Punho de Ferro ainda preferiu tornar Harold Meachum (David Wenham) o seu vilão final – ou definitivo – na bagunça de sua primeira temporada. E este, por sua vez, ainda mais genérico de Bakuto. O plot do personagem, quando resguardado, teria sido mais interessante se ficasse em segundo plano até o encerramento. Afinal, ficou bem claro que Punho de Ferro escolheu os caminhos errados em sua história na primeira temporada, deixando de lado a mitologia quase inexplorada do personagem.

O roteiro não tinha erros apenas na narrativa ou em seu desenvolvimento, ainda haviam falhas banais que traziam diálogos genéricos e decepcionantes. Há momentos, marcantes, ao longo da temporada em que as conversas entre os personagens são quase deploráveis de tão genéricas. Fato, este, que piora na maioria das frases de efeito reflexivo que Rand tenta apresentar, mas que só são salvas por algumas boas palavras de Madame Gao – principalmente ao dizer: “Não é um mistério o por quê é um Punho de Ferro ruim. Não entende o próprio caminho.“. Assim, Gao resume muito bem os principais problemas da série, de uma forma subjetiva e profunda.

Imagem: Divulgação/Netflix

A essa altura do campeonato não é segredo nenhum afirmar que o grande problema de Punho de Ferro é o seu roteiro. Além de furos e certas precariedades decepcionantes, as decisões relacionadas ao rumo dos personagens na trama criam uma barriga desnecessária para a história da temporada. Exemplo disso é a repetição da frase “você mentiu para mim.“, algo falado incansavelmente pelos personagens, adicionando dramas e reviravoltas decadentes ao programa. Esses momentos são bastante similares às piores temporadas de Arrow – série da DC Comics na CW que traz as “aventuras” do Arqueiro Verde -, onde além de roteiro ruim, também trazia péssimas cenas de ação, sem falar nos diálogos que ficam melhor no esquecimento.

Com toda essa carga dramática embarrigando a trama da série, Punho de Ferro ainda decepciona no que deveria ter de melhor: as lutas. Todas as cenas em que Danny precisa usar de suas habilidades são muito mal filmadas, a coreografia ainda é inferior a de Demolidor – que no quesito ação, dá um baile em todas as outras séries da Marvel na Netflix. Sendo assim, além de não aprofundar a mitologia mística da origem do personagem e de não alcançar o melhor resultado na ação, Punho de Ferro deixa um gosto amargo na boca dos fãs. Estes, que ao invés de ter um gostinho de “quero mais“, sentem apenas o sabor de “esperava algo melhor“.

Ou seja, para alguém que ficou 15 anos treinando para ser o tão aclamado Punho de Ferro, Danny Rand deixa uma marca decepcionante em sua primeira temporada – cheia de momentos interessantes e promissores, mas mal aproveitada, desenvolvida e explorada pela curta visão de seus roteiristas.

Avaliação

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