Imagem: Divulgação/ Warner Bros. Pictures
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O retrato de Rei Arthur ganha um novo capítulo nos cinemas, e este por sua vez mostra que é um blockbuster eficiente quanto ao divertimento que precisa levar ao grande público. Porém, como obra cinematográfica, os problemas de Rei Arthur – A Lenda da Espada aparecem, e não são poucos.

A história traz a origem do personagem, e em parte desconstrói o mito do Rei, transformando-o em uma figura moderna demais para a própria essência do personagem. Arthur, aqui vivido por Charlie Hunnam, representa bem a figura de um jovem príncipe impetuoso, marrento e que não sabe o que quer da vida, assim, fugindo de qualquer tipo de grande responsabilidade e em nenhum momento combinando com o posto de Rei – é engraçado que o próprio vilão do filme reflete “Fico imaginando que tipo de Rei você seria.“, diz o antagonista. Em suma, é uma releitura válida e a decisão do roteiro em traçar a Jornada do Herói junto à evolução do seu protagonista é sábia – mesmo que esta seja construída com diversas falhas -, mas o problema é chegar ao fim da história sem apresentar nenhuma mudança ou crescimento no personagem.

Hunnam consegue ser um bom protagonista ao longo do filme, mas é inegável que tanto ele como Jude Law (que vive vilão do filme, Rei Vortigern) encerram o ato final como personagens canastrões demais, ambos perdendo o valor de protagonista e vilão. Porém, ao contrário de Arthur e sua figura jovem e imatura, Vortigern é eficiente ao criar ameaças ao longo do filme. O trato que o antagonista recebe do roteiro mostra sua eficiência em cenas em que o temor e o medo dos súditos que ajoelham perante o Rei é exibido no longa. Apesar disso, é importante ressaltar que as terras de Camelot são retratadas como um lugar qualquer, parecendo que a legenda que nomeia o lugar não passe de um mero fan service.

Por outro lado, a história que parece grandiosa demais é construída de forma simplista ao mostrar que sua base é a comum intriga palaciana de filmes do gênero (um Rei (Eric Bana) comanda o seu reino e mostra uma figura de líder perante seus súditos, mas à sua sombra vive um irmão ardiloso e invejoso que cobiça o poder do primogênito, estando capaz de qualquer sacrifício que seja necessário para a conquista daquilo que quer). Porém, a narrativa de todos os acontecimentos tenta, a todo custo, se manter rápida e frenética, o que em parte é bom, entretanto, Guy Ritchie mostra que nem todos os seus recursos funcionam. O diretor usa de saltos narrativos que mesclam os diálogos do presente representados por cenas do passado e do futuro. Tal recurso funciona em um primeiro momento, mas sempre que a história precisa de desenvolvimento o diretor recorre ao mesmo salto narrativo, o que a partir da terceira vez torna-se cansativo e preguiçoso.

Imagem: Divulgação/ Warner Bros. Pictures

Essa preguiça do diretor, que impõe a sua assinatura ao próprio roteiro – o qual ele escreve ao lado de Joby Harold e Lionel Wigram – prejudica, também, o desenvolvimento dos seus personagens, afinal, o longa se compromete a entregar Arthur aos cuidados da enviada de Merlin, The Mage (vivida pela ótima Astrid Bergès-Frisbey), o que não acontece em nenhum momento. Assim, não é surpresa que a maga e outros tantos personagens não tenham o devido espaço no filme, mesmo que apresentem grande potencial narrativo como é o caso da personagem incumbida de treinar o futuro Rei.

Mas se há problemas de roteiro como coesão narrativa e falha quanto aos personagens, o que o longa sabe fazer é ser um bom entretenimento. Rei Arthur – A Lenda da Espada pode ser levado como um dos blockbusters mais divertidos do ano, afinal, Kong – A Ilha da Caveira sofre de problemas similares, porém, é divertido e repleto de ação do início ao fim. Com Rei Arthur isso não é diferente (tantos nos pontos negativos como também nos positivos). O longa abre seus trabalhos com uma grandiosa cena de batalha que dita o ritmo da história (que sofre de momentos anti-climáticos) e mostra que não veremos um filme de guerra medieval, mas sim uma fantasia épica com elefantes gigantes, cobras enormes (que lembram, no tamanho, o Basilisco de Harry Potter e a Câmara Secreta), criaturas místicas e muita magia.

Sendo assim, Rei Arthur – A Lenda da Espada se mostra competente quando traz à película suas cenas de ação grandiosas, e em alguns casos valendo a pena a sessão 3D. O filme não economiza em confrontos épicos durante a construção de sua história, exibindo planos abertos que remetem a um visual bastante similar aos jogos de vídeo game.  Ou seja, se na parte estrutural Rei Arthur – A Lenda da Espada se mostra frágil, é na técnica, mais precisamente estética, que o longa encontra seus melhores momentos com um CGI de qualidade e uma belíssima fotografia, que às vezes consegue ser impressionante.

Imagem: Divulgação/ Warner Bros. Pictures

Fato é que o novo Rei Arthur tinha potencial para ser um grande filme entre os épicos de fantasia medievais, que desde O Senhor dos Anéis não vê um grande filme que carregue e faça jus à bandeira do gênero. A trilogia O Hobbit, que deveria ter reerguido o segmento, por exemplo, foi um bom entretenimento e trouxe o saudosismo aos fãs, mas não foi grandiosa o suficiente para levar adiante o legado do clássico deste século. No ano passado, o cinema viu a adaptação de World of Warcraft ganhar vida, e essa, não tão boa quanto A Lenda da Espada, mostrou apenas um visual impressionante e imponente, mas trazia, praticamente, os mesmo problemas estruturais de roteiro e desenvolvimento de personagens – mas com mais gravidade.

Entretanto, mesmo desperdiçando um imenso potencial, Rei Arthur – A Lenda da Espada ainda é um agouro ao gênero, e para os adoradores de batalhas medievais, talvez o longa de Guy Ritchie seja satisfatório. Por outro lado, o design de produção que ao invés de apresentar armaduras galantes e moldadas ao ferro e metal da Idade Média prefere usar as roupas de couro, cujos movimentos roçam tanto que o barulho borrachudo das peças de roupas soa mais como decepção do que algo a se orgulhar. Talvez, mas só talvez, se Rei Arthur – A Lenda da Espada tivesse menos pretensão de ser um espetáculo de produção e carregasse consigo intenções mais simples, o longa não se preocuparia tanto com o status de blockbuster e daria prioridade a grandiosidade que o mesmo não aproveita.

Avaliação:

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Bom)