Imagem: Reprodução/IMDb

A espera para ver Star Trek: Discovery fora do papel foi longa, a série foi adiada algumas vezes por pequenos problemas nos bastidores, e isso garantiu motivos para ter o pé atrás com a produção. No entanto, essa desconfiança ajudou a baixar as expectativas, o que para a estreia da série é bom, podendo aumentar o sempre bem-vindo fator surpresa do lançamento. E no fim das contas, Star Trek: Discovery é uma surpresa leve com a cara de Star Trek.

O lançamento veio em meio a uma estreia dupla, com dois episódios bastante equilibrados. A intenção do primeiro era de claramente situar o seu espectador naquele universo, seja o fã com o ingresso de um tom levemente nostálgico, ou do público que ainda não teve contato com esse universo (com diálogos um pouco mais longos e até mesmo didáticos). As duas abordagens foram unidas pelo roteiro de forma homogênea, funcionando para os dois grupos de telespectadores, mas claramente aqueles que costumam consumir uma boa ficção-científica devem se sentir mais a vontade com o programa.

Discovery chega com um tom similar aos filmes atuais da franquia Star Trek, mas com momentos um pouco mais sérios. Tudo isso é facilmente justificável, pois no começo trata-se apenas de uma equipe de exploradores da Federação, e depois surge enfim a ameaça de uma guerra eminente com os Klingon. Apesar de chegar com dois episódios, Star Trek: Discovery conseguiu fugir do vício cansativo das séries que optam por essa investida mais longa, e diferente desses casos, Discovery chama a atenção do espectador com naturalidade, e isso é mérito da história interessante que “The Vulcan Hello” e “Battle at the Binary Stars” apresentaram no último domingo.

Imagem: Reprodução/IMDb

Dentro de tudo isso, é sempre bom ressaltar que tudo o que está presente em cena não pode ser de graça, logo, todos os elementos apresentados pela série devem convergir como um grande complemento para o que mais importa, a história. De fato, tudo isso acontece, novamente com extrema naturalidade. Inclusive, dentro do pacote de surpresas ainda estavam a qualidade inquestionável do CGI e dos efeitos práticos utilizados nos episódios, além, é claro, da belíssima maquiagem e design de produção que caracterizavam algumas das raças apresentadas nos dois episódios e as naves humanas e klingons.

Em meio a poucas referências, Discovery não deixa de levantar a bandeira da representatividade que sempre esteve ao lado de todas as aventuras do universo Trekker. A trama da nova série é bem menos aventureira do que se poderia imaginar, ou até comparar com as mais conhecidas gerações de James T. Kirk (William Shatner) ou até mesmo com a de Jean-Luc Picard (Patrick Stewart). Apesar disso, a própria premissa segue alguns temas importantes nas suas entrelinhas, como a clara intenção da supremacia de uma raça (Klingon) liderada por T’Kuvma (Chris Obi).

É interessante que as intenções dos naturais antagonistas estejam ligadas não apenas na guerra pela guerra, mas em um ato cultural de parte da raça Klingon, que acredita na profecia de Kahless, e que este trará de volta os dias de glória daquele povo. Em contra partida, os heróis da história defendem a igualdade e união de todos os povos, uma bandeira sem dúvida importante para os dias de hoje, tanto para o Brasil quanto para os EUA. É claro que a defesa desses ideais também está no cerne de Star Trek, e Discovery não só respeita como também representa muito bem essa herança que não poderia ficar de fora da sua história.

Star Trek: Discovery é um refresco para a TV, uma série de ficção-científica diluída o suficiente para agradar fãs da franquia e o público comum que está apenas em busca de uma ótima história. O elenco, é claro, tem grande responsabilidade na qualidade dos dois primeiros episódios. Michelle Yeoh (Capitã Phillipa Georgiou) é certamente o destaque dos dois episódios. A atriz é competente em passar o espírito de liderança necessário para sua personagem, carregando um legado de grandes e inesquecíveis capitães como se já fosse parte desse seleto grupo há muitos anos.

Imagem: Reprodução/IMDb

O restante do elenco ainda tem muito para ser desenvolvido ao longo da primeira temporada, principalmente Sonequa Martin-Green (Michael Burnham), recém saída de The Walking Dead, e mesmo que viva, obviamente, personagens diferentes, Burnham tem muito o que crescer dentro da série, o que ajudará ainda mais o trabalho da atriz. E vale também a menção ao sempre ótimo Doug Jones que confirma a escolha correta do elenco. Jones, inclusive, está mais uma vez coberto de uma maquiagem pesada, ao viver o Saru (da raça Kelpien).

Star Trek: Discovery ainda tem muito o que apresentar ao longos dos seus próximos 13 episódios, que completam a primeira temporada. Mas a julgar pela qualidade da estreia dupla, somando ainda as críticas positivas, certamente esses episódios são o começo de uma longa Jornada nas Estrelas. Com “The Vulcan Hello” e “Battle at the Binary Stars“, Discovery já mostra que não veio a passeio, trazendo uma história séria na medida certa e com a qualidade que se poderia esperar de uma série que carrega Star Trek no título – além de fazer jus ao que tem em mãos em 2017 para tornar a sua história realidade.