Divulgação/Warner Bros.
Méritos do filme se sobressaem aos efeitos visuais problemáticos
J.K. Simmons (Comissário Gordon), Gal Gadot (Mulher-Maravilha), RayFisher (Cyborg), Ben Affleck (Batman) e The Flash (Ezra Miller) em Liga da Justiça
Divulgação/Warner Bros.

Nunca foi e nunca será uma tarefa fácil fazer um filme da Liga da Justiça, a maior e mais importante equipe de super-heróis do mundo dos quadrinhos. Como se não bastasse, o processo de produção e, principalmente, pós-produção não facilitaram essa tarefa com as adversidades que encontraram no caminho. Porém, as consequências negativas que isso rendeu para o filme foram poucas, se comparadas aos tantos méritos que o filme constrói.

Zack Snyder tem um jeito diferente de conduzir adaptações de quadrinhos. Além de se preocupar com as tradicionais referências, o diretor tenta sempre fazer com que o fã das HQs sinta-se dentro das páginas dos quadrinhos – com planos e enquadramentos, por vezes belíssimos, que simulam um quadrinho. Mas dessa vez, principalmente por causa dos tombos de Batman vs Superman e Esquadrão Suicida, o diretor se preocupou em fazer um filme para o grande público. E como resultado obteve um longa de linguagem universal, mas que pode conversar em particular tanto com o fã e quanto com o público que não consome a mídia que serve de base para o filme.

Parte dessas mudanças já haviam acontecido quando Mulher-Maravilha chegou aos cinemas, sendo sucesso absoluto de crítica e bilheteria. Liga da Justiça repete essa fórmula mais leve, e aprimora isso com o filme de super-heróis que melhor exalta o espírito de aventura que o gênero, muitas vezes, necessita para envolver o público. Sem se contentar apenas com isso, Liga da Justiça exibe na película um dos melhores filmes de uma “equipe” de personagens com habilidades especias, encontrando não só o equilíbrio no tempo de tela de cada um, mas também fazendo com que todos sejam úteis para a trama do filme. Além disso, um mérito até bastante curioso de Liga da justiça, é que o longa ainda consegue ser, talvez, o que melhor utiliza dos poderes e habilidades dos seus personagens.

A missão de Liga da Justiça não era apenas de ser um bom filme, a produção deveria se superar, apresentar uma boa história, trazer personagens envolventes, ter dinâmica de grupo, resolver questões pendentes de Batman vs Superman e ser o filme que os maiores heróis da DC Comics mereciam. A sensação, primordial, é de orgulho porque é possível afirmar que Liga da Justiça é digno do nome em que carrega.

Aquaman (Jason Momoa), Gal Gadot (Mulher-Maravilha), The Flash (Ezra Miller) e RayFisher (Cyborg) em Liga da Justiça
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Liga da Justiça não é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos, assim como é evidente que é um dos mais completos do gênero quando o assunto é heroísmo – ver os heróis unidos em ação é a exaltação pura da esperança, misturada com a admiração de ver um grupo de personagens que fazem jus ao termo “herói”, na sua mais pura essência. Apesar disso, a Liga têm os seus tropeços, afinal é a primeira vez que o grupo ganha um filme com atores no cinema – mesmo que possível, era difícil acertar em tudo logo de cara, afinal tudo conspirava conta o filme de Snyder.

As falhas estão totalmente ligadas aos problemas que a produção enfrentou na hora de ser finalizada. O roteiro é fechado (ou redondinho), maduro, consciente, muito bem resolvido e desenvolvido, mas visualmente, assim como impressiona com cenas plasticamente impecáveis, o filme também decepciona com efeitos grotescos e mal acabados – o polêmico bigode do Henry Cavill é assombroso. Lobo da Estepe, o vilão que traz a voz imponente de Ciarán Hinds, é um boneco de borracha e incomoda. Apesar do seu visual decepcione, ele surpreende em não comprometer a eficiência do seu papel no filme, sendo um motivo honesto para fazer a história caminhar. Mesmo que haja falha visual no Lobo da Estepe e o mesmo traga motivações genéricas, o filme consegue fazer dele um antagonista poderoso com o qual Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Batman (Ben Affleck), Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Cyborg (Ray Fisher), juntos, não consigam deter .

Liga da Justiça acerta mais do que erra, tendo as interações entre os personagens como mais um dos seus principais méritos. Não só Flash e Cyborg funcionam juntos, ou Batman e Mulher-Maravilha, o todo (no caso, o grupo) é o que mais chama a atenção. Nenhum herói ofusca o outro, suas construções e apresentações são exploradas de acordo com as necessidades da trama. Aliás, as participações menores – Mera (Amber Hard), Comissário Gordon (J.K. Simmons), por exemplo – servem tanto para a história de Liga da Justiça como também para o futuro dos filmes da DC. Atlantis, Mera e Aquaman, por sinal, deixam um gosto instigante para o filme de James Wan, que estreia em 2018 – assim como o Flashpoint.

Liga da Justiça mostra o quão rica a coexistência de filmes da DC/Warner podem ser. Mesmo que se tratando de uma história que se desenvolva em prol de um bem maior, ela ainda consegue explorar os pequenos universos de cada personagem. Seguindo este pensamento, o filme mostra o peso que a perda do Superman (Henry Cavill) tem para o mundo, e exibe ao som de “Everybody Knows” um clipe que mostra algumas das mudanças que ocorreram na Terra após a morte do Homem de Aço.

Barry Allen (Ezra Miller) e Bruce Wayne (Ben Affleck) em Liga da Justiça
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Liga da Justiça usa os erros do passado como acertos no seu presente momento. O longa trabalha bem com as consequências dos atos dos seus personagens em Batman vs Superman (2016), e reverte esse peso sisudo em esperança. O tom desse universo foi reajustado e soa muito mais agradável do que um dia já foi, assim como há leveza também há descontração em piadas bem planejadas (muitas inteligentes e bem engraçadas) e outras que não surtem muito efeito (mas dentro da normalidade). Com isso, Liga da Justiça constrói um cenário de busca pela esperança sem deixar de encarar os problemas causados pelo vilão com a seriedade que ele merece. Em suma, a verdade é que a leveza e a “claridade” fizeram bem para a Liga, onde nasce uma verdadeira equipe de super-heróis.

Com um desenvolvimento ágil e bem resolvido, Liga da Justiça é um feijão com arroz honestamente temperado. O clima de aventura heroica, de leveza, que exalta a esperança de um mundo melhor, as referências, a relação bem construída entre os personagens, as cenas de ação exuberantes – além das mais empolgantes – e o roteiro enxuto se sobressaem aos efeitos visuais problemáticos do filme – que não deixam de incomodar. Liga da Justiça é o que deveria ser, um filme para fãs e não-fãs desfrutarem com prazer e orgulho. A conclusão final é mais do que satisfatória, e as duas cenas pós-créditos são a cereja do bolo e a confirmação dos novos rumos do Universo DC.

Ben Affleck reafirma que o seu Batman é o melhor que o cinema já viu; Mulher-Maravilha rouba a cena mais uma vez em 2017; Flash funciona perfeitamente dentro da Liga, deixando um grande potencial para o seu filme solo; E por fim, Cyborg, mesmo que com visual questionável, porém aceitável, tem um papel importante na história e traz conflitos pessoais interessantes – mas, por hora, talvez seja melhor deixar o filme solo do personagem guardado em alguma gaveta.

Ray Fisher (Cyborg), Gal Gadot (Mulher-Maravilha), The Flash (Ezra Miller) e Jason Momoa (Aquaman) em Liga da Justiça
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A Liga da Justiça ganhou vida nos cinemas pelas mãos de Zack Snyder, um fã que agora compreendeu muito bem o que esses personagens representam. Dessa vez, o diretor vai além do fan service – a propósito, para os fãs, esse elemento é mais um charme do filme. Mas, verdade seja dita: a mão de Joss Whedon é parte importante dentro do filme. Sua participação faz muita diferença, pois é a sua assinatura que faz da Liga da Justiça um verdadeiro grupo de super-heróis, que unem-se para salvar a Terra e para impedir que o caos se estabeleça. As definições de herói foram atualizadas com sucesso por Liga da Justiça, e uma era de paz deve chegar para a DC e a Warner Bros., que agora encontraram o caminho certo para os seus filmes.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Ótimo)