Divulgação/Diamond Films Brasil

Quando sai da ficção científica, Ridley Scott se mostra um diretor completo e muito mais habilidoso do que se imagina ao transitar por gêneros diferentes com total naturalidade – além de frequentemente mesclar esses gêneros com a ficção científica. O diretor de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e do recente Perdido em Marte (2015), já agraciou o público com filmes como Gladiador (2000), Hannibal (2001) e Cruzada (2005), ao mesmo tempo em que também fez o irregular Êxodo: Deuses e Reis (2014) e o divisor de águas Alien: Covenant (2017).

Todo O Dinheiro do Mundo, seu novo trabalho – aliás, rodeado de polêmicas – simboliza também o filme mais desinteressante do diretor nos últimos anos. No longa, acompanhamos a história real do sequestro de Jean Paul Getty III (Charlie Plummer), neto do magnata do petróleo de mesmo nome. O sequestro aconteceu no ano de 1973, quando o garoto ainda morava na Itália. Paul Getty III foi levado durante a noite, enquanto caminhava na rua, por uma gangue e mantido em cativeiro durante cinco meses. O ocorrido marcou a vida do Getty III, pois durante o sequestro o avô não quis pagar o valor do resgate por não acreditar no ocorrido.

O crime tornou-se simbólico porque a gangue cortou uma das orelhas de Paul Getty III e a enviou para um jornal italiano, junto com uma foto da vítima sem a orelha, para provar que o sequestro era verdadeiro. Ridley Scott retrata os relatos com fidelidade a essa história, que é de conhecimento público, reproduzindo com força determinados momentos que marcaram essa o acontecimento.

Contudo, Scott traz uma abordagem pouco convencional para o filme – pelo menos que não condiz muito com a sua filmografia. Em Todo O Dinheiro do Mundo, o diretor opta por inserir um tom lúdico, debochado até certo ponto, numa história que também tenta ser realista. A narrativa é arrastada, sendo o marasmo um companheiro fiel durante as mais de duas longas horas de projeção. A fotografia, escura até demais, não facilita o trabalho, deixando a experiência ainda mais cansativa. A trilha sonora, pior ainda, traz um ar pitoresco a essa história, que precisou passar por diversas refilmagens por conta das denúncias de assédio contra Kevin Spacey, que inicialmente viveria o avô magnata.

Todo O Dinheiro do Mundo
Divulgação/Diamond Films Brasil

O substituto, Christopher Plummer, foi uma grande escolha e um trunfo do filme. Apesar de não fazer jus a sua indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, Plummer é bastante semelhante ao Jean Paul Getty I da vida real, mas seu desempenho, ao julgar do fatos e do contexto em que o ator foi chamado para o papel, está mais do que satisfatório. Porém, o mesmo não se aplica para a talentosa Michelle Williams (Manchester à Beira-Mar) e do já conhecido Mark Wahlberg. Williams parece não entregar o que a mãe do garoto sequestrado sente na maioria das suas cenas, há um momento ou outro que é possível entender melhor o que aquela mulher está passando – um filho sequestrado, um sogro que não acredita no crime e a possibilidade do sequestro ser arranjado. Wahlberg, diferente dela, fez o que sempre faz em qualquer filme.

Todo O Dinheiro do Mundo parece ter sido mal enjambrado, deixa a impressão de que há dois filmes em um, onde nenhum e nem o outro chegam em algum lugar ou deixam claro o real propósito de contar essa história – com a qual é difícil se importar. O filme, sobretudo, não sofreu com os problemas de bastidores da produção e com as rápidas refilmagens, mas o que mais o prejudicou, talvez, tenha sido a própria visão do diretor e a história inflada que este resolveu contar.

Avaliação
Avaliação: Regular
5.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.