Operação Red Sparrow

Francis Lawrence já tem uma relação um pouco longa com Jennifer Lawrence, a protagonista de Operação Red Sparrow. O diretor já comandou a atriz anos antes, nas duas primeiras adaptações cinematográficas da trilogia literária Jogos Vorazes – que no cinema ganhou quatro filmes. Na ocasião, ele dirigiu Jogos Vorazes: Em Chamas (2013) e Jogos Vorazes: A Esperança Parte 1 (2014) e O Final (2015), sendo ele o responsável pelos melhores e piores momentos da adaptação nos cinemas. Agora, a dupla retoma a parceria em Operação Red Sparrow, uma tentativa falha de um thriller de espionagem com uma dose de sensualidade das agentes do serviço secreto russo, chamadas de Sparrow.

No longa, J-Law vive uma bailarina russa que é vítima das armações que acercam as disputas do lugar mais importante do Balé Bolchoi – o filme usa isso apenas como um gatilho que beneficia a trama, não como profundidade de personagem como fez Darren Aronofsky (Mãe!) em Cisne Negro, rendendo um Oscar, merecido, para Natalie Portman. Após isso, Operação Red Sparrow embarca em sua trama de espionagem que consegue ser minimamente interessante

O longa é repleto de acontecimentos e tensões, a narrativa, mesmo que sempre em movimento, transmite mais marasmo do que ação pela película. O tom é sombrio, mas bem ajustado conforme o ambiente da história – são cidades frias, acinzentadas e que não transmitem nada além tristeza, dor, medo e decepção -, usando isso para favorecer a narrativa.

Francis Lawrence sabe exatamente como desenvolver e capturar o longa, mas na prática, durante a projeção, toda a dor, sofrimento e peso dos acontecimentos não conseguem transcender a película e atingir quem por ali está. Quando Dominika Esogorova (Jennifer Lawrence) está em fase de treinamento para se tornar uma Sparrow, há momentos brutais em que o longa não faz o suficiente para levar o mesmo peso das cenas ao seu espectador – mesmo assim é impossível não compreender o que aquelas cenas representam.

Operação Red Sparrow

Em 2005, Rob Marshall levou para os cinemas o encantador Memórias de Uma Gueixa, um filme sobre a cultura japonesa que falava a língua inglesa e era também traduzido para o olhar ocidental. Muito do que Francis Lawrence faz em Operação Red Sparrow repete parte do que Marshall fizera em 2005. A diferença principal é que o longa de espionagem não se trata exatamente da cultura russa, mas acaba sendo fajuto e enfadonho por tentar emular um sotaque de russos falando inglês, rendendo momentos constrangedores em tela – principalmente porque existem cenas em que é evidente que a atriz principal não faz esse sotaque falso, destacando assim a total perda de continuidade do diretor.

O roteiro é inflado, as mais de duas horas de projeção são tediosas e desgastantes. Fica nítido que só manter o espectador interessado na história não é o suficiente para que Operação Red Sparrow conquiste o público. Lawrence vive uma personagem afetada pela vida e pelo mundo que a rodeia. Dominika requer que a atriz tenha, sim, uma atuação mecânica e dúbia, sem entregar as suas verdadeiras intenções. Jeniffer Lawrence entrega isso, mas na parte mecânica é em excesso, parecendo uma boneca ambulante sem expressão. Assim como ela, Joel Edgerton aparece como um agente da CIA que segue o estereótipo simplório do típico norte-americano passional. O restante do elenco respeita o padrão inexpressivo.

Operação Red Sparrow não causa o impacto que antes prometera, nem mesmo envolve o espectador na sua trama de espionagem, mas se faz minimamente interessante para que o público veja-se instigado em descobrir como tudo aquilo irá terminar. O plot twist, que deveria entregar a história em grande ápice, pode ser sentido muito antes do mesmo se revelar, tirando assim as chances de dar alguma surpresa satisfatória no final. Operação Red Sparrow não decepciona justamente por deixar claro, nos seus primeiros minutos, que no restante da história dificilmente entregará algo além do aceitável.

Avaliação
Avaliação: Regular
6.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.