Divulgação/Universal Pictures

Maria Madalena é uma figura que sofreu em vida e também depois que partiu deste mundo. “Personagem” importante na história de Jesus, Maria Madalena foi taxada de prostituta, por muitos e muitos anos, mas recentemente foi devidamente reconhecida como apóstola de Jesus. Mas o longa, que carrega o nome da personagem no título, é ousado o suficiente para não falar apenas sobre a fé da seguidora mais fiel de Jesus.

Garth Davis traz em Maria Madalena uma visão muito objetiva do que ela representa e do que ela é. O filme se passa no início dos tempos, onde a mulher, mais do nunca, era um objeto quase comercial. Maria Madalena, dentro do filme, era diferente e não se encaixava dentro do padrão das mulheres que, não de livre escolha, aceitavam o cabresto do pai, dos irmãos e posteriormente do marido. A protagonista foge disso e seu silêncio questiona muito esses tais “hábitos”.

Pela visão que longa nos traz da personagem, Maria Madalena era uma mulher que estava a frente do seu tempo, séculos, diga-se de passagem. Com essa jornada, Davis traz para o filme um tom empoderador, carregado por uma protagonista forte e ávida. E claro, Maria Madalena também falaria sobre fé.

Diferente do que se poderia imaginar, o roteiro – assinado por Helen Edmundson e Philippa Goslett – traz uma faceta inesperada para estes personagens. Ao invés de santificá-los e trazer um tom divino para a história, o roteiro opta por uma abordagem com o pé no chão, ou seja, realista – e humanizando seus personagens. Com isso, Rooney Mara, que vive a personagem-título, e Joaquin Phoenix, como Jesus de Nazaré, conseguem transmitir todo este senso humano da história. Suas vestes não glamourizadas, suas vidas imperfeitas e conflitos internos que transbordam pelos olhos, conseguem entregar todas as principais intenções do longa.

Divulgação/Universal Pictures

Quando o filme fala sobre fé e crença, é interessante notar a maturidade que o diretor tem em não fazer dessa fé um instrumento lúdico na narrativa, deixando os pés da história ainda no chão. Em contraste, o longa desenvolve outros dois personagens importantes na mítica de Jesus, Pedro (Chiwetel Ejiofor) e Judas (Tahar Rahim). Os dois, aqui como os seguidores mais crentes de Jesus, desempenham um papel importante sobre a essência do homem ao trazerem a ingenuidade do mesmo em não ter a capacidade de entender a metáfora da paz pregada pelo filme. Garth Davis, assim, insere Jesus, Maria Madalena e a bíblia num mundo em que o milagre é possível, mas o mesmo tem um limite que determina até onde ele pode ser real.

Com uma belíssima fotografia, combinando os tons quase sem cor das vestes do personagens e com um trabalho cuidadoso de iluminação, Maria Madalena prega seus dizeres sobre fé, misericórdia e perdão em um mundo que é realmente possível acreditar que esta história de fato existiu. A trilha sonora mostra a falta que Jóhann Jóhannsson fará ao cinema – aqui trabalhando novamente ao lado de Hildur Guðnadóttir. Garth Davis, no fim das contas, consegue ter méritos expressivos com sua abordagem e visão, somado ao conjunto da obra muito bem realizado.