Jogador Nº1
Divulgação/Warner Bros.

Apesar de ser uma adaptação literária, Jogador Nº1 é, principalmente, fruto de décadas da cultura pop. Steven Spielberg leva aos cinemas uma ode a essa cultura que ele, junto de muitos outros cineastas e nomes imporantes, ajudou a criar há décadas. E Spielberg encontra uma maneira de fazer com que todas as homenagens e referências prestadas aqui não sejam apenas um charme gratuito de Jogador Nº1.

O estilo Sessão da Tarde do diretor é elevado a um novo nível por ele mesmo. Jogador Nº1 é um filme estiloso e ágil, diverte e entretém nas mesmas proporções que encanta e envolve. Jogador Nº1, mesmo confortável em seu formato e fórmula, consegue ser ambiciosos ao misturar live-action e com um mundo digital, propositalmente criado para reproduzir um universo virtual do OASIS. Com isso, o diretor não só consegue combinar os dois mundos, como faz com que ambos tenham texturas diferentes em tela, dando uma personalidade visual marcante ao filme – que, aliás, é visualmente primoroso e surpreendente.

Na trama, um jovem garoto que usa o mundo virtual como refugio dos problemas reais, precisa decifrar os enigmas deixados pelo criador do jogo OASIS (James Halliday vivido por um caricato Mark Rylance), para salvar não só o jogo, como também o mundo real ao herdar a fortuna do homem que concebeu aquele universo e o controle da sua empresa. O desenvolvimento da narrativa não é apressado, mas também não se acomoda. Tudo é ágil de um jeito agradável, a trama avança não só para contar a história, mas também para continuar envolvendo o espectador em uma aventura transcendental sem precedentes.

Dentro dessa aventura, Spielberg entrega para o seu público um oceano de referências e easter eggs, dos mais escondidos aos mais descarados. Porém, o que mais se destaca é a forma que o roteiro encontra de fazer com que tudo isso seja parte indispensável da história, sejam as referências ao clássico De Volta Para o Futuro (que não se resumem apenas ao memorável DeLorean) ou a reprodução de momentos icônicos de O Iluminado. Mesmo assim, em meio a tanto utilitarismo, Jogador Nº1 encontra espaço para referências que servem para o divertimento do seu espectador, a aparição de Chucky, o Brinquedo Assassino, por exemplo, é uma dos pontos altos da diversão que o longa consegue proporcionar.

Jogador Nº1
Divulgação/Warner Bros.

Tye Sheridan, o novo Ciclope dos X-Men, protagoniza o longa sabendo levar o seu personagem para onde ele precisa ir. Os percalços da vida do jovem protagonista nem sempre o afetam da maneira que seria comum, mas o ator consegue trazer um bom protagonista com o qual é possível, sim, se identificar. Junto com ele ainda está Olivia Cooke, que mesmo com uma participação menor, também traz a mesma eficiência do ator principal. Um dos grandes méritos do filme, ainda, é a capacidade de cativar o público com as diferente facetas do seus personagens – dentro e fora do mundo virtual. O longa toca em assuntos interessantes sobre o tema, como, por exemplo, a identidade dos jogadores por baixo dos seus respectivos avatares.

Steven Spielberg parece ter se reencontrado ao fazer de Jogador Nº1 o seu típico cinema aventuresco sem deixar de ser um ótimo cinema. A assinatura visual do diretor está ali e a sua fome de aventura se faz ainda mais presente. Jogador Nº1 acerta em suas escolhas, mesmo que essas o impeçam de seguir um caminho diferente. Afinal, há uma nítida preocupação em manter o senso de aventura quando o longa não permite que seu protagonista sinta o peso de coisas que acontecem. Mesmo que, posteriormente, o personagem demonstre a dor que lhe atinge.

Jogador Nº1
Divulgação/Warner Bros.

Jogador Nº1 chega como uma das melhore experiências de Spielberg em anos. O diretor faz do saudosismo um aliado poderoso ao contar sua história cheia de referências. O filme é capaz de encher o coração de todos com nostalgia, mas não deixa de ser envolvente e cheio de personalidade. Visualmente impecável, Jogador Nº1 é uma ode a história da cultura pop que Steven Spielberg ajudou a conceber, e ainda se faz muito bem executado, com cenas memoráveis que devem permanecer na lembrança de quem assistir.

Avaliação
Avaliação: Muito bom
8.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.