Nasce Uma Estrela
Divulgação/Warner Bros.

Entre os mais cotados a indicações no Oscar 2019, Nasceu Uma Estrela é, provavelmente, o mais aguardado e o que chega com mais pompa aos cinemas. Sendo a quarta versão de A Star Is Born (contando com a original de 1937), o longa reúne Bradley Cooper, que estreia como diretor, e Lady Gaga em sua primeira investida real como atriz (a diva pop já havia aparecido de American Horror Story: Hotel e venceu um Globo de Ouro pela atuação, que foi duramente criticada).

Cooper, estreando na posição principal dos bastidores, traz um olhar sensível para a história de Jackson Maine (ele) e Ally (Lady Gaga). Com uma câmera que se recusa a forçar planos abertos, ator e agora também cineasta desponta em seu primeiro filme ao ver esses personagens de forma sensível e íntima. A abordagem reforça que, apesar de lugares grandiosos (os palcos), o que realmente importa, ali, são Jack e Ally.

Gaga aparece em uma nova versão, a cantora acostumou todos com seus visuais extravagantes, e aparecer assim, de cara limpa, pode até causar certa estranheza. Deixando isso de lado, há, enfim, liberdade para que ela demonstre talento, há também, e principalmente, esforço da sua parte para que isso aconteça. Gaga, a atriz, faz o espectador acreditar que sua personagem abandonou o sonho americano e, depois de conhecer alguém que pode fazê-la reviver isso, a esperança é recuperada por ela, que, por sua vez, permite-se uma nova chance de sonhar.

Nasce Uma Estrela tem uma primeira hora e meia fluída, Cooper desenvolve o encontro de Jack e Ally com naturalidade, mesmo que isso seja feita como um casual proposital. O roteiro é simples, muito já visto, mas competente e confortável para que a narrativa se mostre segura. O filme, contudo, perde o seu próprio rumo no miolo, há intenções claras de fazer uma crítica ao sucesso, ao mainstream, e em como o mercado musical norte-americano força, pelo sucesso, os artistas abandonarem a essência que os fez serem descobertos.

Nasce Uma Estrela
Divulgação/Warner Bros.

Vendo com esta óptica e contrastando com as consequências que essa causa pode traz para a vida dos cantores (do alcoolismo a dependência química), Nasce Uma Estrela se reencontra consigo mesmo no meio do caminho, sendo onde ele abre mão do romance encantador e envolvente do começo, para engajar o público no seu drama, carregado de um melancolismo antecipado.

Musicalmente o longa é um desbunde, músicas vibrantes que colocam Gaga e Cooper causando arrepios com suas vozes. A dela, já renomada, cumpre com qualquer expectativa, a dele, por outro lado, surpreende. Juntos, criando e interpretando a música tema, Shallows, conseguem entregar uma química admirável, como se ambos já tivessem trabalhado juntos algumas vezes e sua encenação fosse algo costumeiro e recorrente.

Nasce Uma Estrela corresponde a pompa que carrega, é um quase conto de fadas contemporâneo, traz uma estética que causa brilho nos olhos, tem uma visão sensível e palpável dos seus personagens. Seus rumos, no fim, destoam da sensibilidade do restante da projeção, acabam resultando em uma tentativa seca de chocar o espectador, forçando a emoção final. Pode funcionar, mas fica muito claro que a decisão de Bradley Cooper, com este final, pode não ter sido a melhor, assim como o roteiro simples que cai em desdobramentos que podem ser antecipados pelo espectador.

Contudo, o encanto de Nasce Uma Estrela fala mais alto, na maioria das vezes.