Black Mirror | Temporada 05 | Episódio 02 - Smithereens
Imagem: Divulgação/Netflix

O segundo episódio da quinta temporada de Black Mirror está muito mais próximo do que os espectadores esperam da série: uma “crítica” pesada e feroz a tecnologia. Ao fim dele, no entanto, o questionamento que paira no ar não se refere a tecnologia em si, mas sim a quantos Christopher Gillheany existem no mundo.

Há algum tempo o Instagram lançou um recurso de saber quanto tempo você passa usando o aplicativo. A novidade foi bastante comentada pelos usuários que, por vezes, ficaram surpresos com o longo tempo que passam na plataforma. Smithereens reflete, em parte, isso, o fato de que a primeira coisa que fazemos ao acordar e a última antes de dormir é abrir as redes sociais (seja Facebook, Twitter, Instagram e outros).

Além dessa reflexão inicial, é claro que Black Mirror puxa o tema para o seu assado e trata principalmente de como o uso dessa mídia social afeta a vida das pessoas. Em primeiro lugar é um vício, algo que torna os usuários compulsivos a verificar toda e qualquer notificação que recebem exatamente na hora em que o “push” aparece na tela do smartphone.

Dentro dessa perspectiva há sempre uma história particular que acontece vez ou outra como consequência direta dessa imersão. No caso de Smithereens, ela se refere a Christopher Gillheany (Andrew Scott). O episódio aborda pontos pertinentes sobre o uso das tecnologias, mas também tenta arranjar espaço para um assunto pouco discutido: para que elas serviam antes de demonstrarem potencial econômico?

Assim como em Striking Vipers, anteriormente, a intenção não é a de dar respostas para essas perguntas, mas sim a de lançar elas para a fomentação dos debates e reflexões. O quão saudável deveria ser o uso das redes sociais? Por que elas se tornaram tão importantes para o convívio social? Por que damos acesso total a nossas informações pessoais para essas empresas?

Black Mirror | Temporada 05 | Episódio 01 - Striking Vipers
Imagem: Divulgação/Netflix

Com perguntas assim, Black Mirror segue questionando o presente. Smithereens reflete o uso das redes sociais ao mesmo tempo que mostra, também, o quão vulneráveis os usuários se tornam perante a essas detentoras de todos os dados de cada pessoa. É assustador, no entanto, a rapidez como a empresa Smithereens recolhe as informações de Chris, antes mesmo da polícia ter acesso a elas.

Smithereens não aborda apenas questões sobre a tecnologia. O episódio mostra um mundo afetado pela depressão, seus respingos e consequências. Dentro disso, está ainda a procura por uma maior compreensão sobre essas questões.

As redes sociais, aqui, funcionam como uma substituição das relações cara a cara, ou simplesmente presenciais. Isso, que antes era de grande valor, vira algo totalmente descartável. As relações pessoais e sociais, por fim, não têm serventia, são vazias, como o sexo mostrado no episódio. Ao contrário disso, o número de seguidores nas redes sociais é muito mais importante, afinal, é só um número que quando perdido pode ser substituído (como diz Zygmunt Bauman sobre as “Amizades de Facebook“).

Atualmente, tudo é substituível e o final deste episódio é a maior prova disso. Ao fim do “espetáculo” (Guy Debord, 1967) a vida dos espectadores segue como se nada tivesse acontecido. Não há reflexão alguma sobre o caso, não há nenhum tipo de consequência para a massa que comentava ao vivo o que estava acontecendo dentro do carro. Há, apenas, a espera do próximo acontecimento “bombástico” que vai viralizar.

Black Mirror | Temporada 05 | Episódio 02 - Smithereens
Imagem: Divulgação/Netflix

Essa compulsividade que nos torna menos humanitários, que nos faz “memetizar” qualquer acontecimento, é a principal crítica de Smithereens. A falta de empatia coletiva, o sentimento existe, mas em individualidades dentro de “grupos sociais”. Nem todos se sensibilizam com casos assim, nem todos tentam entender os lados que constroem essas histórias.

No fim das contas, mais um maníaco foi morto pela polícia que salvou o dia. Smithereens é um episódio muito mais agressivo do que Striking Vipers, e por tanto, se encaixa mais em um estilo que contempla o que o público espera de Black Mirror. Mesmo assim, suas críticas e pensamentos são mais sutis do que costumam ou costumavam ser os episódios da série. É um jeito diferente de atingir os espectadores, não tão satisfatório para o costumeiro mindfuck ou mindblown.

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Avaliação
Muito bom
8.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.