Cena do filme Birdbox da Netflix/ Capa do livro Malorie, da editora Intrínseca
Cena do filme Birdbox da Netflix/ Capa do livro Malorie, da editora Intrínseca

Haviam muitas expectativas acerca de Malorie, lançamento da editora Intrínseca e sequência direta do livro Caixa de Pássaros do autor norte-americano Josh Malerman. Primeiro pelo sucesso do romance, com mais de 200 mil cópias vendidas no Brasil; segundo pela adaptação Bird Box estrelada por Sandra Bullock na Netflix, que foi vista por mais de 45 milhões de usuários apenas em sua primeira semana disponível no serviço de streaming.

No entanto, tinha-se também preocupações. Embora um segundo livro fosse um tanto inevitável, este poderia ser fruto apenas do sucesso da adaptação cinematográfica. Esse fator poderia modificar e acelerar o processo criativo literário, acarretando em uma má experiência ao leitor. Na atual indústria do entretenimento, adaptações de grandes tiragens são quase certas, bem como as decepções dos fãs em relação a elas. No caso de Malorie, Josh Malerman tenta reverter essa ideia, acertando em alguns pontos e errando em outros. 

Nesta segunda parte da história, doze anos se passaram desde que Malorie fez a perigosa travessia do rio com seus dois filhos, Tom e Olympia, agora adolescentes de 17 anos. Traumatizada e cada vez mais paranoica, a personagem principal criou todo um sistema de segurança que rege sua vida e as de seus filhos. A venda nos olhos para eles ainda é obrigatória, assim como uma série de regras que a deixam cada vez mais longe do “velho mundo”. 

Quando uma notícia que parecia impossível chega a Malorie e sua família, ela se vê em um dilema que pode colocar todos em perigo novamente, mas que pode ser uma nova chance de recomeço. Este impasse, de ir ou não em busca de respostas incertas, a seguirá praticamente durante todo o livro. 

Desde do anúncio da sequência de Caixa de Pássaros, Malerman deixou claro que queria focar mais na história de Malorie, sua forte e pragmática personagem concebida no primeiro livro. De fato, ele conseguiu entrar mais ainda na cabeça da protagonista e revelar detalhes de sua origem, sendo uma promessa cumprida com êxito. O romancista também mostra as feridas da figura principal e como ela superará seus traumas no decorrer da trama. A sequência é uma chance que ela tem de se livrar de uma vez por todas dos fantasmas do passado e voltar a ser pelo menos uma parcela do que ela foi antes do apocalipse.

Embora a história foque mais em Malorie, quem se destaca também é sua filha, Olympia. Mesmo nova e com um passado conturbado, ela serve como pacificadora e companheira dos demais personagens, dando um certo conforto e harmonia na leitura. Outras vezes, a adolescente toma as rédeas da jornada que se estende à frente, mostrando nesse quesito o que herdou de sua mãe adotiva. Esse desenvolvimento é muito bem-vindo, pois dá o equilíbrio necessário aos demais participantes da narrativa.

Como em seu predecessor, o narrador continua em terceira pessoa e onipresente, mas bem menos incisivo do que em Caixa de Pássaros. No entanto, a escrita está bem mais madura e poética em relação ao primeiro livro. Apesar da visão 360° do leitor com esse tipo de narração, o autor demora a engatar certos elementos, que acabam prejudicando, por exemplo, o clímax, que chega fraco e sem fôlego. Outro ponto que se esperava mais entusiasmo é a resolução do “grande” problema da jornada dos personagens. Essas ressalvas deixam o final apenas satisfatório, com um grande rótulo de “okay”.

A grande questão dos próximos livros será sobre as criaturas, que continuam mais enigmáticas e misteriosas do que nunca. O que elas são, de onde vieram e porque enlouquecem as pessoas são alguns dos questionamentos que perseguiram o leitor durante as duas leituras. Esse quesito merece uma atenção especial pelo autor, que criou um universo fantástico e bastante criativo com os dois livros já publicados.

*Este livro foi uma cortesia da editora Intrínseca

Malorie

Autor: Josh Malerman

Ano: 2020

Editora: Intrínseca

Páginas: 288 páginas

Onde comprar: Amazon| Submarino 

Avaliação
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8.5
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Jornalista e produtor de conteúdo da Matinê, escreve sobre séries, livros e filmes. Do romance a ficção científica, tem um relacionamento sério com histórias que cativam e encantam.