Elizabeth Olsen e Paul Bettany como Wanda e Visão na série WandaVision do Disney+ | Crédito: Divulgação/Disney+

Até pouco tempo as séries live action dos personagens da Marvel não agregavam ao universo cinematográfico da casa das ideias. Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e companhia tinham o seu próprio mundo na tela da Netflix. Outros programas, como Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D., e os demais de outros canais e streamings, também não colaboravam tanto, embora o programa dos agentes secretos da extinta agência contava com participações ou sobras dos filmes do Marvel Studios vez ou outra.

O fato é que para além do cinema, o estúdio ainda não tinha muitas opções para desenvolver mais o seu universo, apenas alguns prequels (prequela ou prelúdio que conta algo que antecede a história do filme) e ligações com as histórias em quadrinhos da editora. Com a chegada do Disney+ e o anúncio de diversas séries (como Loki, Falcão e Soldado Invernal, Hawkeye e outras) esse cenário passou a ser mais favorável para essas histórias mais centralizadas que resultam em um grande evento (ala Vingadores).

Nos cinemas, a Marvel é soberana há alguns anos. São ao todo 12 anos lançando filmes que constroem o seu próprio universo e mitologia. Embora as primeiras investidas ainda precisassem de selos como o da Universal e da Paramount, o estúdio agora da Disney pode finalmente explorar novas possibilidades.

Mesmo com filmes e personagens extremamente populares, os longas-metragens do Marvel Studios estavam condicionados a uma fórmula de sucesso que englobava inúmeros fatores, como desenvolvimento da narrativa, diálogos, estética, trilha sonora e outros componentes que fazem parte de um filme. Tudo isso não impediu o estúdio de realizar grandes eventos, como Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Ultimato (2019), que sem dúvida representam o auge da casa das ideias na grande tela.

Recentemente, e aos poucos, o Marvel Studios permitiu que seus filmes se atualizassem nas questões sociopolíticas do mundo. Símbolo disso é o sucesso Pantera Negra, indicado na categoria de Melhor Filme do Oscar e que realizou outros inúmeros feitos que superam a sua bilheteria bilionária. No entanto, mesmo que no texto os filmes da Marvel ousassem, o estúdio seguia carente de produções mais arriscadas e que fugissem dessa roupagem, e que ao mesmo seguissem o compromisso com o entretenimento.

Thor: Ragnarok pode ser um exemplo disso. Mesmo não tocando em temas importantes como Pantera Negra, o filme de Taika Waititi era acima de tudo uma comédia espacial ou cósmica bastante descompromissada, com influência clara em esquetes cômicas que fazem sucesso na tv e outrora também conquistaram no cinema. Apesar disso, a roupagem ainda era a mesma.

A chegada de WandaVision

Paul Bettany e Elizabeth Olsen como Visão e Wanda na série WandaVision do Disney+ | Crédito: Divulgação/Disney+

O formato episódico de um seriado traz em sua essência uma possibilidade de desenvolvimento que um filme de 1h40 ou 2h de duração não consegue alcançar. Não por falta de eficiência, mas por, neste caso, fazer parte de um universo cinematográfico onde seu papel é não só contar a história que se propõe sobre um determinado personagem, mas também interligar isso ao todo. E essa missão faz parte de WandaVision.

Assista ao trailer da série

Embora tenha um papel a cumprir dentro deste universo, WandaVision tem a permissão de ousar. Matt Shakman, diretor dos nove episódios do programa, define o seriado como “uma mistura de sitcoms clássicos e ação em grande escala da Marvel”. A partir disso, o formato adotado pelo programa é bastante inédito dentro do MCU. Entre os seis primeiros episódios, por exemplo, uma nova década da televisão norte-americana será homenageada. Nos capítulos já liberados, os anos 1950 e 1960 inspiram a estética e o texto de WandaVision.

Somado a isso, o cuidado com o figurino, cabelo, maquiagem, cenários e a fotografia impressiona. Com os episódios um e dois quase que inteiramente em preto e branco era necessário um refinamento na fotografia. Tudo o que aparece em tela é perfeitamente identificável, incluindo um objeto de vibro quase transparente que fica evidente em tela logo nos primeiros minutos de WandaVision.

O cuidado com o restante do que compõe a produção também impressiona, evidenciado o comprometimento com elementos simbólicos que ajudam a fazer alusões que afirmam as homenagens prestadas pelo seriado. Tudo isso se torna ainda mais interessante quando a trilha sonora e os diálogos do roteiro entram em ação ao construírem o ambiente e os fatos da série de encontro com a linguagem verbal e musical das sitcoms das décadas de 1950 e 1960.

Esse ajuste precioso da produção ainda conota uma provável intenção certeira do Disney+ e da Marvel com a série: prêmios.

Ampliando a audiência e a busca por prêmios

Paul Bettany e Elizabeth Olsen como Visão e Wanda na série WandaVision do Disney+ | Crédito: Divulgação/Disney+

O Disney+ e a Lucasfilm surpreenderam ao receber 15 indicações ao Emmy Awards 2020 com The Mandalorian, série ambientada no universo de Star Wars e primeiro programa episódico live action do novo serviço de streaming da empresa. Apesar do número surpreendente, seria difícil O Mandaloriano passar batido pelas premiações. A qualidade técnica do visual do programa é inegável.

Para o Disney+ se consolidar no mercado e fazer frente com a gigante Netflix (algo que plataformas como HBO Max, ainda não disponível no Brasil, e Prime Video, da Amazon, ainda não chegaram perto de fazer), é preciso mais do que quantidade e qualidade. A Netflix tem programas de tecnicamente muito bons, alguns até acima disso, e possui um público gigantesco no mundo todo. Mesmo que produções como The Mandalorian cheguem aos serviços de streaming, ainda é necessário conquistar o público.

Esse trabalho já começou a ser bem feito pelo Disney+, afinal The Mandalorian tem ligação direta com uma das histórias mais populares do mundo, e WandaVision também. Embora herde a popularidade do Universo Marvel, ainda é preciso mais reconhecimento, pois o público ainda considera que o cinema tem mais qualidade que a TV/streaming. Por isso é importante para WandaVision e qualquer outra série do Disney+ não apenas conquistar o público já fiel e a crítica amadora e especializada, mas também fazer o possível para figurar nas premiações.

Com o tom dos primeiros episódios iniciais, WandaVision pode facilmente integrar a categoria de Melhor Série Cômica do Emmy, mas tudo também depende do embalo do restante da temporada. Isso porque WandaVision traz um mundo ilusório criado por Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a Feiticeira Escarlate, onde ela vive com Visão (Paul Bettany) no subúrbio de Westview, com uma vida aparentemente perfeita. No entanto, aos poucos, os episódios mostram que algo está acontecendo, com pequenos mistérios e estranhamentos dentro da rotina do poderoso casal.

O reconhecimento em prêmio realmente pode acontecer para WandaVision, principalmente pela ótima atuação de Elizabeth Olsen, que vive a personagem desde Vingadores: Era de Ultron (2015). Fora do Universo Marvel, a atriz já mostrou talento em cargas dramáticas. Mas com a devida cautela, ainda é cedo para afirmar algo sobre a relação de WandaVision com as premiações da televisão norte-americana.

WandaVision terá episódios novos nas sextas-feiras, e semana a semana o público poderá acompanhar a história de Wanda e Visão nesse mundo utópico da personagem, enquanto também descobrirá o que de errado está acontecendo e quem são as pessoas misteriosas que estão “assistindo” o sitctom WandaVision, como mostra a cena final dos episódios.

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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.