Batman é um dos filmes mais aguardados de 2022 e precisou de muito esforço para ser realizado. Caso não lembre, quando anunciado, o projeto seria dirigido, protagonizado, escrito e produzido por Ben Affleck. Mas seus caminhos tomaram rumos diferentes depois de Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) e Liga da Justiça (2017).

O filme foi reescrito após a chegada de Matt Reeves ao cargo de diretor. Não foram só cenas pontuais ou partes das ideias modificadas. O projeto foi totalmente repaginado pelo cineasta. E assim, DC e a Warner ganharam uma nova chance para reconquistar a confiança da audiência.

Depois disso tudo, quando Robert Pattinson foi anunciado como o novo Bruce Wayne, as opiniões foram divididas. Havia quem dizia que ele tinha o queixo do Batman e que em Cosmópolis (2012) ele já tinha atuado de forma similar ao Bruce. Mas nada disso adiantava, já que o ator – ainda muito marcado por ter vivido Edward Cullen na Saga Crepúsculo – precisaria provar que servia para o papel em tela.

Pattinson, no entanto, não foi o único acerto. Todo o casting combinou com os personagens. De Zoë Kravitz como Selina Kyle (aka Mulher-Gato) à Jeffrey Wright como o tenente Jim Gordon. Mas entre todos, além do protagonista, Paul Dano, como o vilão Charada, é um grande destaque. Não só é uma boa escolha como parece uma convicção do diretor. Ao vê-lo em cena é possível imaginar que Reeves escreveu o personagem para o ator.

Suspense, investigação e elementos noir

Batman poderia muito bem ser um suspense neo noir de investigação, em uma história onde um detetive procura um assassino em série que tem balançado as estruturas de uma cidade. Ao mesmo tempo em que é isso, o longa de Matt Reeves não deixa de ser uma adaptação de um personagem de HQ. Logo, Batman mesmo sendo um filme de gênero com um pé no realismo, como visto na trilogia de Christopher Nolan, também é lúdico como o filme de Tim Burton em 1989.

Logo no começo, Batman narra a história da sua presença em Gotham City – algo muito tradicional em filmes noir. O cruzado encapuzado está apenas há dois anos na ativa e sabe que é temido pelos bandidos. Bruce, por outro lado, registra as noites do Homem-Morcego em um diário, mostrando seu comprometimento com a causa e por um sinal de puro esquecimento, já que admite não lembrar de tudo que vivencia.

Um filme sobre o Batman

Robert Pattinson como Bruce Wayne em cena de “Batman” | Crédito: Divulgção / Warner Bros.

O longa-metragem não carrega este nome por acaso. Matt Reeves escolheu centrar a história no personagem-título. A intenção do diretor fica muito clara quando na maior parte da projeção a figura de Bruce Wayne é deixada de lado. A questão principal é desvendar a essência do que compõe o Homem-Morcego.

Matt Reeves mostra que compreende quem é o Batman e faz um filme que contempla o cerne do icônico personagem da DC. Batman Detetive? Sim, mas essa termologia pode ser substituída por Batman, apenas, pois ele é o que é independente dos rótulos que ganha.

Embora não seja o protagonista do filme, Bruce Wayne talvez seja prejudicado pelo protagonismo do Homem-Morcego. Quando precisa aparecer, o bilionário mostra duas facetas: a primeira é que Bruce pode ser só um disfarce do cruzado encapuzado; e a segunda é ser o elo mais fraco do roteiro.

Matt Reeves acertou na escolha do vilão

Batman tem uma das galerias de vilões mais interessantes das histórias em quadrinhos. Mas seus antagonistas se mostram bem-sucedidos não pelo tamanho do que causam, mas sim pela capacidade de entrarem na mente do herói/vigilante e colocar sua identidade em conflito.

Reeves deixa muito claro que Bruce Wayne assumiu a máscara do Batman porque quer mudanças mais profundas em Gotham. A cidade é suja, mas não só pelo lixo espalhado nas ruas, e sim por causa do crime organizado e pelos órgãos públicos corruptos que a governam. Aliás, depois de muito tempo, a icônica cidade volta a ter personalidade e vida própria, quase como se fosse uma personagem.

Mostrar tudo isso traz um timing perfeito para evidenciar o que o Batman está fazendo. E assim como ele, existem outras figuras não corruptíveis, como a de Gordon ou a nova prefeita da cidade, que querem trazer esperança para Gotham.

No entanto, existem muitas formas de ajudar o lugar a melhorar. É aí que entra o vilão. Charada é uma releitura daquele personagem eloquente de roupas verdes com símbolos de interrogação – algo que pode ter ficado no imaginário do público desde que Jim Carey encarnou o papel nos anos 1990. Neste filme, o personagem ganha novos contornos em uma figura perturbadora.

Recorte de um dos pôsteres de “Batman” mostrando o vilão Charada, vivido por Paul Dano no filme. | Crédito: Divulgação / Warner Bros.

Matt Reeves e Peter Craig (que também assina o roteiro) atualizam o personagem. Além de trazerem de volta as suas cartas enigmáticas, também usam a internet para formar uma milícia digital. Charada representa o que de pior poderia ser feito em busca de mudanças para Gotham City, mas é o tipo de vilão que tenciona o moralismo e a ética.

O antagonista, por vezes, fala como um rapaz gentil, da mesma forma que é duro e incisivo. Em outros momentos extrapola e grita como alguém fora de controle. Paul Dano leu muito material sobre serial killers para criar a sua versão do personagem. Afinal, antes de mais nada, Charada, aqui, é um criminoso metódico que quer receber os créditos pelo seu trabalho. O ator, inclusive, merece uma lembrança na temporada de premiações.

Até lá, muita água ainda vai rolar. Mas, a onipresença do Charada é um dos pontos fortes da construção de climas realizada por Matt Reeves nesse thriller noir.

O diretor certo para o filme

Matt Reeves não tem uma carreira de muitos títulos lançados, o que não o impediu de realizar trabalhos exitosos. Seus principais são Cloverfield – Monstro (2008), o remake Deixe-me Entrar (2010) e os últimos dois volumes da recente trilogia Planeta dos Macacos (2014 e 2017), “O Confronto” e “A Guerra”. Nos últimos dois, em especial, Reeves mostra que sabe unir a arte de fazer cinema com o estilo dos blockbusters hollywoodianos.

Zoë Kravitz como Selina Kyle em cena de “Batman”. | Crédito: Divulgação / Warner Bros.

Seus filmes entregam cenas de luta e ação ao mesmo tempo em que são carregados de dramas e boas histórias. Batman, não foge disso. É uma produção realizada com excelência, muito bem fotografa por Greig Fraser (Duna e Rogue One: Uma História Star Wars) e sonoramente acompanhada pela trilha de Michael Giacchino, que compõe a música tema do personagem-título de forma tão marcante e imponente quando o filme.

Usando o suspense e elementos neo noir para contar sua história, Matt Reeves confirma que o seu Batman supera as expectativas. A produção refinada entrega o que faz do Homem-Morcego um dos personagens de histórias em quadrinhos mais apaixonantes já criados. Há algum tempo, Batman merecia um filme como este.

Herói ou vigilante? Um psicopata mascarado ou um herói de capa? Que figura é essa? Batman é exatamente aquilo que Gotham precisa que ele seja. É isso que Reeves também mostra em seu filme. Batman (2022) é o melhor filme do personagem desde Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008).

Avaliação
Ótimo
9.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.