Imagem: Divulgação/ PlayArte Pictures
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Uma história que poderia ter sido melhor, um roteiro que deveria se desenvolver, uma atriz famosa no papel principal e o que vimos foi uma grande decepção. Emily VanCamp retorna aos cinemas, depois de uma pequena participação em Capitão América 3: Guerra Civil, para interpretar Alice Harvey, que prometia trazer um grande trauma desde a adolescência.

A Garota do Livro, Alice, desde pequena já estava inserida no universo editoral dos livros na cidade de Nova Iorque, onde o pai (que nada mais é do que um cretino) já é conhecido como editor e está com um possível best-seller de Milan Daneker nas mãos. Até aí tudo bem, sucesso, dinheiro, reconhecimento. Mas desde que Milan conhece Alice tudo muda, a relação de professor e pupilo ganha novas proporções e uma paixão estranha cresce de Milan para com Alice, porém é nesse momento que o filme perde completamente o seu potencial.

Histórias fictícias que se assemelham muito com a realidade sempre tem um grande poder, que se for bem usado torna-se, no caso do cinema, um grande filme. Infelizmente não é o que vimos em A Garota do Livro. Imagine-se lendo sobre um filme que tratá como tema a superação de um abuso sexual, como isso irá acontecer, como ficará depois, entre outras perguntas que são feitas poderiam guiar muito bem esta história. A narrativa até chega a ser interessante, pois retrata uma vida tediosa da protagonista, que é subestimada pelo chefe, não tem uma voz ativa perante a presença do pai doentio e tenta a todo o custo superar o tal trauma causado por Milan Daneker. Só que o grande problema é o roteiro.

Marya Cohn assina direção e roteiro do filme, que em certos momentos parece até um longa indie. Voltando ao roteiro, ele não se desenvolve, tenta usar elementos dramáticos combinados com suspense. Mas para que usar esse suspense em um filme que desde o início entrega toda a sua história? Fator complicado este, pois desde o início eu imaginava “quando e como ela vai falar que é A Garota do Livro“. Em nenhum momento o filme se preocupa em apresentar de forma forte esse segredo do passo de Alice, que acaba se escondendo atrás do sexo casual para tentar quem sabe superar os terrores que assombram a sua cabeça. O resultado é que ela não supera isso, apenas consegue ficar “viciada” em sexo.

Imagem: Divulgação/ PlayArte Pictures
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Além disso o filme ainda trás uma confusão de gênero, onde passa de drama e suspense para um “lindo” romance, que posteriormente é jogado fora pela própria protagonista. Alice apresenta, em muitos momentos, um dom de afastar as pessoas de sua volta, detalhe, no momento em que ela mais precisa. A secretária, assistente, projeto de editora de livros tem uma vida cheia de solidão, tem só uma amiga, uma colega de trabalho com maior afinidade e o chefe (clichê) que se acha o tal, poderoso, conhecido, influente e prepotente, talvez um pouco arrogante também.

O grande fato é que o filme é cheio de problemas e defeitos, usa bons elementos da forma errada e mesmo com uma história de poder em mãos acaba não trazendo nada novo na trama. Para você ter noção de como poderia ser melhor, vamos analisar o uso do flashback na história. Começa bem, apresenta o início da relação entre o escritor (com cerca de 40 anos) e da jovem filha do amigo, uma adolescente que ainda não descobriu o que a puberdade lhe traria. Em certos momentos esses flashes do passado entram bem e cabem muito bem na história, só que eles não vão além, eles não chegam aonde deveriam ir e não mostram tudo o que deviam. Digo isso porque o tom do filme tem suas nuances entre ser um pouco leve e um pouco pesado ou para maior maturidade, com isso seria muito mais inteligente usar o flashback para mostrar um pouco mais da história no passado como artifício direto da lembrança que assombra a protagonista há cerca de 15 anos. Porém aí que está o erro, as vezes ele é usado dessa maneira que expliquei acima, mas na maioria é apenas um preludio do passado, inserido de forma “aleatória” no filme para que você pense “só apareceu porque eu precisava saber“. Isso é realmente não ser ousado e não ir além do que poderia.

A história peca. Reafirmo que tinha potencial, mas é parada de mais, cansativa de mais, não sai o “mais do mesmo” e não tem desenvolvimento. O desafogo é o romance, que renova um pouco o ar pesado de um filme parado, que traz uma história estagnada em seu roteiro, mas que é narrada de uma forma interessante.

Imagem: Adoro Cinema
Imagem: Adoro Cinema

Verdade seja dita: Emily VanCamp foi inserida em uma fria. A atriz que aparentemente carregará para sempre em sua carreira a sombra do sucesso em Revenge teve bons momentos no filme, mas em determinadas cenas a jovem emergente Ana Mulvoy Ten (Teen Wolf e O Mistério de Anubis) se apresenta melhor do que a própria protagonista. A história poderia se tornar ainda mais interessante se houve um elemento vingativo na trama, aí sim VanCamp estaria com farda de Emily Thorne para sempre, mas realmente traria um elemento a mais ao filme, justificando o uso do suspense (até então um pouco sem motivo). A atuação de Michael Nyqvist (De Volta ao Jogo) não se faz interessante em nenhum momento. Vive um escritor que encaixou um best-seller na carreira e está há 15 anos a sombra do sucesso. Mostra desde o início que tem pouca personalidade, é o legítimo “esperto”, soube usar o que a vida lhe deu no momento certo, que seria a seu favor.

Fora tudo isso é um filme que poderia se mostrar grande, que poderia se revelar e arriscar mais, muito mais para falar a verdade, mas que ficou preso em um canto, acoado. Infelizmente vemos assim uma boa história ter um triste fim, para o filme, mas que no filme Alice deixou, de forma que para mim foi cômica, de ser A Garota do Livro e assim conseguiu finalmente escrever a sua história e fechar definitivamente The Girl in the Book.

OBS¹.: Em certo ponto foi bem interessante ver o contraste e o desafogo que a relação, mal trabalhada, entre Alice e Emmet (David Call). O problema foi usar uma solução romântica para o problema de toda a história, que foi se perdendo ao longo do caminho. Dessa vez a mensagem de “o que aconteceu no passado impede que vivamos o presente de verdade” não foi o suficiente para fazer de A Garota do Livro um bom filme.

Nota do filme:

[yasr_overall_rating size=”medium”]