Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos abre para as adaptações de filmes baseados em jogos, um novo horizonte para que o gênero seja mais aproveito nos cinemas. O filme surpreende, entregando um material bem acima do esperado e marca sua narrativa com muita coragem e audácia ao desenvolver o roteiro. Para primeiro filme de uma possível trilogia (o que pode ser confirmado depois da estreia), Warcraft se saiu muito bem, ajustando algumas peças e trabalhando melhor sua edição e personagens, vejo um futuro grandioso para essa parceria entre Blizzard e Universal Pictures.
Antes de assistir ao filme na cabine de imprensa, pensei em pesquisar sobre a história original do jogo, compreender o universo, personagens, toda a mitologia em um contexto geral. Mas não fiz isso, pois a minha expectativa para o filme era boa, e desde o lançamento do trailer acreditei ainda mais nisso. Em suma achava, e continuo achando, que o problema de Warcraft é nada verdade conquistar o público dos cinemas, apresentar uma história envolvente, que desperte o interesse do público em querer mais daquilo que foi mostrado. E pela minha reação Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos cumpre muito bem essa missão. Já que mudei de ideia e resolvi conhecer tanto o universo como a história durante o próprio filme, e não me arrependo.
A história (que lembra um pouco de O Senhor dos Anéis, mas sinceramente cada um é cada um) não é complicada de ser entendida e através de uma narração inicial e da boa apresentação do tema e da proposta, ela é facilmente compreendida. Ainda assim temos alguns momentos dramáticos que não se encaixam tão bem com o ritmo do filme e que não se fazem tão necessários, devido a longa duração do filme. (Na primeira edição feita o longa-metragem fechou com mais de 3 horas de duração.)
Continuando… A Apresentação acontece, obviamente, em dois planos: o primeiro no mundo dos Orcs, e o segundo no mundo dos humanos. Esse primeiro contato com a história é muito bacana, pois é mostrado de forma bem simples para facilitar ainda mais o entendimento, mas não pense que o filme foi feito para quem não conhece os jogos. Warcraft é nitidamente um filme para fãs, mas acima disso vem com a vontade de conquistar um público ainda maior, de se estabelecer como uma franquia no cinema. A tarefa é um pouco difícil, mas depois de assistir ao longa, acredito que não será tanto assim.
Antes mesmo de estrear muitos comentários surgiram em torno dos Orcs no filme, em comparação com O Senhor dos Anéis, mas que saber? Não perca o seu tempo com esse tipo de comparação, deixe a obra criada por Tolkien lá onde ela está, Warcraft é uma outra história, são sim universos semelhantes, mas são obras bem diferentes e isso fica visível no filme. Assim como grande parte dos personagens, os Orcs mereciam um desenvolvimento um pouco melhor, eles não precisavam ser, de certa forma, tão humanizados, ter em si ou em sua consciência um espirito tão humano. Desde o começo do filme você já percebe quem é quem na história (por parte dos Orcs), pela maneira que cada personagem age e pela suas motivações, que são cruciais para o desenvolvimento do filme. Tem momentos que o roteiro mostra um desenvolvimento comum para filmes de aventura e fantasias medievais, mas não deixa de ser encantador.
Por parte dos humanos, tirando Lothar, os personagens também não tiveram um trabalho muito bom, não faltou desenvolvimento ou tempo em tela, até nisso foi muito bem distribuído. oO que faltou foi complemento em cena para cada um deles. Travis Fimmel (Ragnar de Vikings) teve uma boa atuação – mesmo assim em situações dramáticas ficou devendo um pouco -, foi um personagem que não precisou de muito tempo para mostrar quem realmente é e do que é capaz de fazer, por isso foi um dos melhores no filme, assim como o emblemático Durotan (Toby Kebbell que esteve no último filme do Quarteto Fantástico). O único ator que realmente não foi bem é Dominic Cooper. Ele é sim um bom ator, interpretou recentemente Howard Stark em Agent Carter, e tem outros papéis de qualidade. Mas neste caso ficou evidente que ele não tem porte e nem imposição para a figura de um Rei e líder da Aliança, nesse ponto o melhor era um outro ator, com porte e compostura melhor, com mais imposição em cena, o que facilitaria a melhora da personalidade de Rei Llane. Outro que mesmo com um personagem mal apresentado pela história, mas que teve uma boa atuação e ficou muito bem em seu personagem foi Ben Foster. Interpretando o Guardião do reino, Medivh foi muito bem na caracterização do mago e mostrou uma ótima personalidade no papel. Apenas faltou uma origem melhor, explicando como ele se tornou mago e tudo mais, ou seja, faltou complemento para o personagem.
Warcraft tem efeitos visuais maravilhosos, poucas das cenas onde eram totalmente compostas por computação gráfica (panorâmicas que mostravam um pouco da localidade) que ficaram abaixo da qualidade apresentada. A construção gráfica dos Orcs está ótima, em nenhum momento me incomodou, lógico que em determinadas cenas fica bem nítida a computação, mas visualmente o filme é lindíssimo e impressionante. Além disso a fotografia exalta muito bem as cores e os tons que são característicos da história, pois não estamos falando de um épico medieval sombrio e goer, estamos falando de uma história colorida, de um visual exuberante – para o genero é algo muito positivo, pela exaltação da beleza do figurino, dos personagens e dos cenários-. Esses elementos ajudam ainda mais na construção do Universo Warcraft no cinema, eles dão uma identidade muito forte ao filme, que não se faz refém de referências, pois consegue em bons momentos sustentar uma longa história. (Exceto os momentos dramáticos e de um certo ar de romance, que citei no início.)
As edições das cenas são boas em alguns momentos, mas tem cortes muito bruscos em outras. Isso dá uma quebra na expectativa de certas cenas, onde o correto seria mostrar alguns segundos a mais para desenvolver melhor aquele momento. Isso acontece algumas vezes durante o filme, principalmente quando a imagem corta direto para uma cena de importância muito pequena para a história central e isso prejudica um pouco o desenvolvimento de toda a trama de Warcraft. Tal “trama” precisa ser desenvolvida com muita atenção até que se chegue ao climax do filme – até porque existe no enredo coisas que vão além de uma grande guerra e suas motivações- porque estamos tratando de dois povos diferentes em um planeta que está em disputa, ou seja, precisamos trabalhar muito bem nossas extremidades até que juntas convirjam para o centro. E para um filme longo, esses cortes bruscos não ficaram legais, por um simples motivo: o filme perde sua sustentação. Em uma história cinematográfica você precisa apresentar ela, desenvolve-la , sustenta-la e por fim se chega a conclusão. Warcraft faz os três primeiros itens, citados anteriormente, muito bem, porém precisaou fazer mais de uma vez. O que diminuiu um pouco a dinâmica da narrativa.
Duncan Jones fez um ótimo trabalho como diretor do longa, o engraçado é que esse trabalho conseguiu ser melhor do que os problemas que temos ao longo do filme. Digo isso porque mesmo assim esses defeitos não comprometem o filme, não fazem de Warcraft um longa ruim. Outro destaque vai para Paula Patton, que fez uma interpretação muito boa, só sofreu um pouco pela personagem não se desenvolver tão bem quanto o esperado, mas emocionalmente, tanto a atriz como Garona se saíram muito bem.
Um ponto extremamente positivo e que é muito importante para esse gênero de filme são as motivações, tanto de ideologia de um povo como também a motivação pessoal de cada personagem. Nisso Warcraft consegue acertar em cheio, fica muito claro o objetivo de cada personagem, não se tem dúvida ou questionamento para qualquer uma das atitudes que eles tomam durante o filme, como eu disse a motivação de cada personagem fica muito clara durante todo o filme. Isso também acontece com os personagens secundários, pois todos eles tem tempo de mostrar e até mesmo explicar isso.
Apesar de ter pequenos problemas Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos é um filme que pode ser muito maior do que foi. Corrigindo essas pontualidades, é claro. Pois tem um universo fabuloso muito bem feito e que pode ser ainda mais explorado em filmes futuros. Falo isso porque a história pode e deve se expandir ainda mais, trazer novos elementos que pertencem a própria história para deixar o filme ainda melhor. Usando os elementos certos, que ficaram de lado nesse filme, uma sequência pode cair uma bem para Warcraft porque após a sessão você fica com um gostinho de: quero mais um filme, quero conhecer mais a história, quero mais batalhas e quero mais dessa cultura. A Blizzard e a Universal Pictures – junto da Legendary Pictures– fazem um trabalho sensacional com o filme, mesmo com erros (não existe um filme perfeito para falar a verdade) é um ótimo filme. Apresenta de uma forma muito acessível a sua história, vem com personagens com potenciais, deixou aberto um leque possibilidades, tanto para uma trilogia como abre espaço para novas adaptações de jogos para os cinemas (Assassin’s Creed vem aí!).
Tekken, Need For Speed – O Filme, Lara Croft: Tomb Raider, Street Fighter – A Última Batalha são exemplos de filmes inspirados em games que não deram certo. Warcraft foi feito em cima de muitos desafios, o principal deles era superar a adaptação desses jogos mal feita pelos cinemas e Duncan Jones e sua equipe de atores e produção deixou essa maldição para trás. Mesmo sendo grande fã, Jones, fez um filme para todo o público e mostrou que as fantasias épicas no cinema não precisam ficar apenas em O Senhor dos Anéis e O Hobbit, pois existe espaço para mais. Ainda é interessante a percepção que o longa traz sobre o conceito de heróis e vilões porque cada povo tem os seus.
Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 02 de junho.
Nota do autor para o filme:
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