Imagem: Banco de Séries
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As pessoas querem alguém para seguir. É a natureza humana.

Tirando o pé do acelerador e aliviando as tensões o episódio brutal da semana passada (leia aqui a crítica), The Walking Dead desvia o foco do vilão Negan e trás novos elementos para a narrativa da temporada. O segundo episódio apresenta “O Reino” (The Kingdom) e o ótimo Rei Ezekiel (Khary Payton), que com muita personalidade trouxe uma contraste interessante à série em sua 7ª temporada.

The Well (episódio exibido na noite de ontem) apresentou o aguardado Reino, que vem sendo alvo de muitas especulações, fatos, curiosidades e outros tipos de assuntos desde a divulgação do trailer da sétima temporada, durante a San Diego Comic Con (saiba mais aqui). O que se viu aqui foi mais um modelo de “governo” semelhante ao estilo feudal, mas desta vez o comando exercido por Ezekiel é um pouco mais medieval do que o próprio sistema feudal e um pouco semelhante ao de Hiltop. A figura do personagem (vista como Rei) é uma mitificação concedida pela gratidão dos mesmos que ele salvou e levou para o local que criou do zero. A cordialidade que o personagem apresenta em cena, combinado ao seu comportamento diante das outras pessoas fazem dele um digno Rei. Lógico que não é para tanto, mas devido a todas as circunstâncias e a forma em que o roteiro trouxe e mostrou o personagem é certo afirmar que Ezekiel é um Rei.

O sistema que rege a comunidade é o mais simples possível, use, consuma, usufrua, descanse e aproveite, mas trabalhe por isso. Trabalho é a moeda de troca mais valiosa para o mundo caótico em que a série se encontra. Visto isso, somando a alguns outros fatores que logo serão comentados, vemos sim uma reestruturação colaborativa para a reformulação da sociedade, através de várias fórmulas de governo. É com isso e em base a sistemas econômicos primitivos que The Walking Dead apresenta as comunidades e forma o novo modo de vida das pessoas, onde não existe mais dinheiro e ao invés de comprar elas devem conquistam ou fazer por merecer aquilo que têm/adquirem.

Imagem: Banco de Séries
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Outro fator que despertava curiosidade sobre a apresentação do Reino era tigresa (ou tigre), Shiva. O animal de estimação de Ezekiel é simplesmente fantástico. O episódio foi bastante econômico ao mostrar o animal, afinal o drama apocalíptico da AMC raramente precisou deste tipo de recurso. Os próprios zumbis são feitos com uma maquiagem sensacional. Em poucos momentos das aparições de Shiva ficou bem visível o uso de CGI, algo que a produção ainda deve calibrar nos próximos episódios. Aliás é meio difícil que o Reino apareça novamente no próximo episódio. Mas tal economia nas aparições do animal também são justificáveis porque Shiva ainda terá o seu momento de destaque na série, e não é agora – desta vez foi apenas para matar a curiosidade mesmo. O bom disso é que The Well poupa enrolações futuras, pois o próprio Ezekiel já contou sua origem e como se desenvolveu a sua relação com Shiva, evitando um filler para contar a sua história.

Carol brilhou mais uma vez em um episódio de The Walking Dead. A personagem interpretada por Melissa McBride teve seus momentos de “sonsa” para tentar ser simpática, estabelecer confiança, pegar suas coisas e ir embora, como dito pelo próprio Ezekiel. É visível que Carol ainda está afetada pelos seus conflitos éticos internos, que perturbaram a personagem do meio para o fim da sexta temporada. Além disso, Carol também foi responsável por dar uma ótima leveza para o episódio, com cenas engraçadas e descontraídas para tirar todo aquela carga pesada deixada pelas mortes de Glenn e Abraham na semana passada.

A relação dela (Carol) com Morgan fica cada vez mais interessante. O que Morgan não têm mais em Rick – baseada naquela relação de amizade que os dois desenvolveram na primeira temporada – o personagem encontrou em Carol, por isso ele apresenta tanto zelo (além de que Carol conquistar isso também). Morgan parecia bastante deslocado na série, trazendo conflitos que eram válidos nas temporadas iniciais, onde ainda era possível enxergar o lado “humano” das pessoas que ainda pensavam na ética ou no que era certo e errado em determinadas situações – por exemplo, matar ou ser morto. Atualmente as ações são feitas sem pensar e os sobreviventes não pensam duas vezes antes de pegar uma arma e mirar na cabeça de outro. O conceito de vilão, dentro de TWD, é muito diferente do que se está acostumado a ver  em séries ou filmes de super-herói, por exemplo.

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Imagem: Banco de Séries

Como a própria Carol falou em uma das cenas próximas ao final do episódio, quem olha e vê a maravilha que é o Reino deve ficar desconfiado achando que algo “podre” acontece por ali. Aparentemente o que acontece por baixo dos panos é o tributo que Ezekiel paga a milícia do Negan – que mesmo não aparecendo encontrou um jeito de se fazer presente. O que não ficou exatamente claro são as motivações de Ezekiel pagar o tributo. Como dito depois pelo Ben em uma conversa com Morgan durante a refeição, o Rei sabe que se eles lutarem vão perder muitas pessoas, mas não deixou claro que “se lutarmos perderemos“. A impressão é de que Ezekiel gosta da paz, e independente de perder ou não, ele não quer entrar em nenhum tipo de conflito, pois não quer perder aquilo que ele construiu e conquistou. Ou seja, ele escolheu o caminho mais fácil (pagar o tributo à milícia). Agregando a cena em que o pessoal do Reino encontra com os capangas do Negan pudemos ver que, neste caso, ambos os lados se respeitam (até certo ponto).

Um plot bem trabalhado dentro de The Well foram as relações de Carol e Morgan com Ezekiel. Ambos tiveram tipos de relações diferentes com o Rei. Carol foi ceticista, como o próprio Rei falou, e Morgan foi muito mais cordial. O que acontece é que Carol já cansou de tudo, não tem mais uma confiança plena nas pessoas e muito menos nela mesma, pois sabe o quão destrutiva pode ser. Por outro lado, Morgan está bem situado e apesar de não concordar com certos conceitos da sociedade que vive no Reino o personagem se encaixou muito bem e desenvolveu uma relação interessante com o jovem Ben, que acabou virando seu “pupilo” a pedido de Ezekiel.

Um detalhe que chamou a atenção durante o episódio foi a trilha sonora. Durante as cenas que ambientaram melhor a localização do Reino subia uma trilha típica de filmes medievais que casou muito bem com o local, sistema de governo e o clima do episódio. Um belo contraste dentro da narrativa, que merece a citação.

The Walking Dead diminuiu o ritmo, mas continua com boa qualidade. Mesmo com episódios literalmente bombásticos existe uma história que precisa ser contada e se manter este ritmo ao apresentar e continuar seguindo a história as chances desta ser uma temporada acima de todas as outras são muito grandes. Por fim, The Well foi um episódio cheio de fatos novos que agregou muito para as intenções que o roteiro começa a construir no sétimo ano da série. Espera-se que não cometam bizarrices simulando a morte de algum personagem em nome da audiência novamente.

Avaliação

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