Sucesso de crítica e bilheteria nos EUA, Fragmentado é a continuidade da carreira de M. Night Shyamalan, um dos diretores mais promissores do final da década de 1990 – que dirigiu O Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000), Sinais (2002), entre outros. Na verdade, o filme traz uma assinatura forte de seu diretor, que além de esbanjar uma cinematografia excelente e diferenciada, ainda é um ótimo criador e contador de histórias.

Com James McAvoy liderando o elenco como Kevin – seguido da jovem e promissora Anya Taylor-Joy (A Bruxa) -, o longa retrata de uma forma peculiar e com a cara de Shyamalan o drama de um homem que têm 23 personalidades, que se manifestam ao longo da história. O diretor nunca precisou de grandes atores para fazer seus filmes funcionarem, mas fato é que a qualidade de James McAvoy diminuiu o trabalho de Shyamalan em Fragmentado. A atuação é, obviamente, complicada, já que o ator precisa criar diversos personagens diferentes para um único filme – além de mostrar mais de uma dessas personalidades em uma única cena, algo que se repete muito bem ao longo dos acontecimentos.

Shyamalan tem como sua vantagem o entendimento sobre as suas obras. O diretor não se prende a explicações complexas em relação aos conceitos do filme, pois é através do forte simbolismo que permeiam as suas justificativas entre o poder divino ou o sobrenatural, algo que o diretor aplica desde O Sexto Sentido. Além disso, é impossível não notar a forte assinatura visual de Shyamalan, não pela fotografia, mas sim pelo jogo de xadrez que ele faz com a câmera. É correto afirmar que quando está com ela (câmera) na mão, Shyamalan é exótico e peculiar, pois surpreende com ângulos e enquadramentos milimétricos que visam centralizar o personagem na película, além de aproveitar bema atmosfera da cena.

É interessante, também, que Fragmentado é naturalmente ousado, sem parecer presunçoso ou até mesmo pretensioso. Aqui a naturalidade é tida como a alma do negócio. Outro mérito característico do diretor, é não subestimar a inteligência e a racionalidade do público. Sendo assim, Shyamalan não precisa mostrar o que está acontecendo em determinado momento, basta o som da ação para que quem esteja assistindo entenda o que está ali. Além disso, é notável que os conceitos do longa não manipulam a inteligência alheia, ao contrário disso, há cenas visualmente impactantes que causam uma imersão rara no cinema atual.

Apesar de usar artifícios convencionais para os desdobramentos da história, Fragmentado ganha corpo, novamente, com seus diálogos leves, que levam apenas o peso das simbologias usadas para ligar os pontos da trama. Ao bem da verdade, o longa abre portas interessantes para um universo sombrio de Shyamalan – fazendo uma ligação ainda mais interessante com Corpo Fechado (2000). Seja lá o que ele pretende fazer com isso, é fato que pode dar certo.

Com James McAvoy entregando uma atuação versátil – exatamente na medida envolvente que a história precisava -, Fragmentado deve integrar algumas listas de melhores filmes do ano. Porém, o resultado final está longe da perfeição, mas mostra que Shyamalan está se reencontrando novamente com o suspense, sem deixar de flertar com o horror de uma forma quase claustrofóbica durante o filme – resultado da filmagem, montagem e direção de arte, que juntas trabalham em perfeita e envolvente sincronia.

Assim, a forte assinatura do diretor, o roteiro coeso – abordando um arco contextual que só vangloria as sutilezas da trama – , as atuações ótimas (com destaque à Anya Taylor-Joy que melhora a cada trabalho) e com momentos incríveis de James McAvoy, Fragmentado pode começar a consolidar M. Night Shyamalan de vez – um diretor singular, inteligente e cheio de truques, garantindo um dos filmes mais envolventes do ano.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Ótimo)