Foto: Matheus Machado/ Matinê Cine&TV
Foto: Matheus Machado/ Matinê Cine&TV

Título: A Infância do Brasil

Editora: AVEC Editora

Ano de Lançamento: 2017

Roteiro: José Aguiar

Desenhista: José Aguiar

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Viajar ao passado pela mão das crianças, enxergá-las, além dos clichês, nos dias de hoje: esse é o convite que nos faz José Aguiar em mais uma história em quadrinhos simplesmente espetacular! Um livro em que historiadores e um grande quadrinista fazem ciranda, e as imagens são, ao mesmo tempo, aliadas e uma fronteira desconhecida para as ciências sociais.” – trecho do prefácio escrito por Mary del Priore em A Infância do Brasil.

José Aguiar traz em A Infância do Brasil um relato ficcional que caminha com a realidade da história do nosso país, mas acima de tudo é impossível ler os primeiros balões da HQ sem ao menos pensar que esta história e a sua arte, belíssima diga-se de passagem, são a cara do Brasil.

A Infância do Brasil traz, acima de sua pesquisa histórica muito bem elaborada, uma riqueza cultural invejável. Se por um lado a intenção do texto dos quadrinhos seja mostrar a realidade de nossas crianças ao longo dos tempos, por outro lemos uma história realmente “da gente” que faz parte da nossa cultura e do nosso folclore, que apesar de fantasioso ainda alimenta muito dos desejos da nossa realidade.

Apesar dos elogios, que cabem a obra como arte, é inegável que o retrato das crianças seja triste e real. Porém, a intenção realista fica visível não apenas por apresentar a vida difícil de parte das crianças do nosso país, mas torna-se ainda mais rica e verdadeira quando há o contraste com aqueles que tem condições reais de ter uma boa vida, enquanto alguns, que para muitos não chamam a atenção, trabalham pelas esquinas e sinaleiras das grandes cidades do Brasil.

Historicamente, A Infância do Brasil traz uma linguagem impecável, desde a arte primorosa que destaca as expressões de cada personagem, à riqueza vocabular da HQ modifica que os seus diálogos conforme o tempo avança em sua narrativa. É impossível, também, não destacar o primor do desenvolvimento. A história acompanha a evolução e a falta de mudança no tratamento humano entre adultos e crianças, ressaltando a desigualdade social, o racismo, o abuso e a violência, e tudo isso sendo contado de forma episódica ao longo do processo evolutivo do Brasil, desde os tempos de colônia à era da tecnologia em que vivemos atualmente.

José Aguiar usa a sua narrativa e perspectiva de cena para embalar uma leitura bem fluída, pois em cada fim de capítulo há uma página avulsa, que no fim da obra encontra o seu complemento de forma espetacular. Então, se intenção do autor era criar e preencher lacunas fugindo do convencional, Aguiar pode ter certeza de que a conseguiu. O autor cria dentro da história um retrato interessante sobre como a herança cultural muda o modo de vida das pessoas, mas ressalta, principalmente, que a evolução, as vezes, não afeta do intelecto do homem. Assim, vemos o desprezo dos ricos em relação aos pobres, a desigualdade de gênero entre homem e mulher, e com isso a veracidade da história em A Infância do Brasil torna-se ainda mais marcante com sua essência primordialmente brasileira.

Os quadrinhos são conhecidos também como a Nona Arte, e não é mentira nenhuma afirmar que José Aguiar tornou o seu triste retrato realista sobre A Infância do Brasil em arte. Uma obra artística em sua essência, seja ela música, cinema, teatro ou literatura, serve também para expressar um pensamento, visão, conceito, imaginação, e aqui Aguiar expressa a história triste de crianças esquecidas e/ou desvalorizadas pela sociedade, mas que são lembradas na hora que convém para aqueles que mandam e desmandam no meio social.

A Infância do Brasil, por fim, reserva momentos belíssimos a cada página, não é sensacionalismo, e sim uma realidade presente em nossa sociedade desde que ela fora colonizada. Tal retrato, que é verdadeiro, torna-se necessário para a reflexão, mas é também encantador e delicado, escrito com sabedoria e traçado com carinho, resultando em uma obra nacional totalmente singular. A Infância do Brasil, apesar de dura e triste, é nossa.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Excelente)