Foto: Matheus Machado

Título: Doce Vampira

Autora: Ju Lund

Páginas: 215

Editora: AVEC Editora

Ano: 2015

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“Revelar a sua verdadeira natureza e manter uma convivência pacífica com a humanidade pode parecer um sonho realizado pela sociedade vampiresca, mas não quer dizer que seriam aceitos facilmente pelos humanos. Apaixonadas, Eduarda e Esther precisam lidar com dois tipos de discriminação, por serem de espécies diferentes e por serem ambas do mesmo sexo.”

Doce Vampira poderia ser simplesmente um outro Crepúsculo, pois depois da notoriedade da obra de Stephenie Meyer qualquer história parecida poderia ser inspirada na saga que também ganhou vida nos cinemas. Porém, Ju Lund, mesmo que trazendo similaridades, se distância disso ao fazer de Doce Vampira um romance (queer chic) com ares shakespearianos ambientado em um cenário que mistura conceitos brasileiros e norte-americanos.

A história desenvolve a paixão entre a humana Eduarda e a vampira Esther, em um mundo onde os vampiros não vivem nas sombras da sociedade, sendo “legalizados” e tendo os seus próprios direitos. A concepção de universo que Ju Lund cria para a sua história é bastante comum, mas traz suas peculiaridades como um charme avassalador. Doce Vampira não se resume apenas neste romance entre uma jovem humana e uma vampira, o livro ainda aborda questões que fazem parte da nossa realidade – o racismo, a segregação racial, intolerância, grupos extremistas e outros assuntos.

A leitura é agradável do início ao fim, onde acompanhamos tudo pelo ponto de vista da protagonista, Duda. A visão da personagem é intensa e, obviamente, faz com que o leitor esteja dentro da sua mente. Essa abordagem é curiosa, pois a obra é extremamente rica ao descrever os sentimentos e pensamentos da personagem, ao mesmo tempo que deixa o leitor curioso para saber o que as outras pessoas que fazem parte da trama estão pensando sobre tudo aquilo, assim como acompanhamos com a protagonista. Além disso, Doce Vampira, não apresenta necessidade da descrição dos cenários, pois ao ler cada página parece surgir um cenário imagético que reproduz tudo o que estava escrito no livro, o que abre ainda mais as possibilidades da história – evocando, ainda, a magia da leitura.

Doce Vampira poderia ser um romance simples, onde há uma paixão proibida entre duas personagens que fazem de tudo para ficarem juntas. No entanto, há muito mais do que isso na obra. Ju Lund cria um cenário emocional melancólico para sua protagonista, que vive reclusa do próprio mundo por não estar com o seu grande amor. A autora, além de demonstrar riqueza aos descrever os sentimentos de Duda, consegue fazer com que o leitor entenda o amor que a protagonista sente pela doce vampira. Assim, Ju Lund cria um cenário romântico que já é conhecido de quem consome este tipo de gênero, ao mesmo tempo em que este não cai em clichês costumeiros – mesmo que vez ou outra a história seja bastante previsível.

Imagem: Matheus Machado

Ao longo da trama, os acontecimentos vão se tornando ainda mais envolventes, pois além de acompanharmos o desenrolar do romance, também somos apresentados a diversos tipos de elementos que começam a ameaçar esse relacionamento. Por conta disso, mesmo que traga momentos de melancolia e tristeza absoluta, Doce Vampira cresce a sua história de forma natural sem apressar o ritmo da sua narrativa. Nos últimos capítulos surge um turbilhão de acontecimentos nas páginas de Doce Vampira, tornando a fantasia ainda mais instigante e provocando o leitor a devorar a sua história o mais rápido possível. Além disso, tais elementos fazem com que a concepção de universo criada por Ju Lund se distancie do comum que era no início, apresentando uma trama surpreendente e eficiente para a continuação da obra.

No ato final, se assim pode ser chamado, Doce Vampira faz leitor e protagonista descobrirem que há muito caroço naquele angu, onde surge um grupo extremista contra os vampiros capaz de atrocidades inimagináveis. Claramente, a autora traz diversas referências do mundo real para a sua obra, e isso funciona de forma homogênea, fazendo de Doce Vampira uma fantasia com a qual o leitor possa não só imaginar seus acontecimento na sua mente, mas também na sua própria realidade.

Doce Vampira é uma leitura prazerosa, que por vezes diverte pelos seus momentos românticos mais utópicos, mas ao mesmo tempo se constrói como uma fantasia bem concebida e com um pé na realidade. Apesar de ser emocionalmente pesado, o livro não se torna denso ou cansativo, na verdade, muito pelo contrário, ele cumpre uma missão essencial de qualquer obra literária quando instiga o leitor. Ju Lund acerta do início ao fim, principalmente quando a história toma um rumo crescente de ritmo quase alucinante. No entanto, a previsibilidade torna a história um pouco banal em alguns momentos – capazes de desconectar o leitor.