Filme mostra uma jornada vazia que, pelo menos, consegue chegar ao fim
Montanhas e mais montanhas, gelo, neve, água e árvores constroem a paisagem que vemos em Depois Daquela Montanha. Fora isso, restam duas pessoas em um imenso vazio que se reflete no que o filme consegue passar, ou seja, nada. Depois Daquela Montanha, em suma, traz a jornada de duas pessoas que precisam lutar pelas próprias vidas depois da queda de um avião.
Entender o que Hany Abu-Assad quer passar com a adaptação da obra homônima de Charles Martin é a parte mais fácil do trabalho. Agora, se a intenção era de fazer o público sentir algum tipo de emoção com o longa, eis aqui o principal problema do filme. Depois Daquela Montanha é tendenciosamente emocionante, mas esses sentimentos não se demonstram capazes de transcender a tela do cinema durante a projeção. É um filme emocionante que não passa emoção.
Durante a jornada de Ben, o neurocirurgião vivido por Idris Elba, e Alex, a jornalista interpretada por Kate Winslet, as intenções do filme ficam totalmente evidentes. Depois Daquela Montanha coloca duas pessoas desconhecidas em uma situação, de certa forma, improvável, fazendo que um dependa do outro para sobreviver. Nesse caminho, o longa cria, por exemplo, um estereótipo de jornalista para Kate Winslet, que enche o médico de perguntas – como se todo jornalista saísse fazendo dezenas de perguntas para todas as pessoas que conhecem, ou, como se cada pessoa fosse uma pauta diferente. Enquanto isso, Ben é um médico que vive na solidão, mas aparentemente Idris Elba deixa esse sentimento evidente como se isso fosse uma escolha do personagem – quando na verdade não era bem assim.
O roteiro prejudica o elenco, principalmente por ser inegável o talento da dupla de protagonistas. No entanto, o clichê em que o filme se desdobra é, talvez, o que mais incomode junto com a falta de objetivo. Não há um esforço aparente que faça o longa fugir das obviedades do seu percurso, tudo é feito de forma mecânica – é como se estivessem gravando um programa de domingo, e o produtor (através do ponto) falasse “nos próximos cinco minutos tudo vai ir bem, depois você escorrega para evidenciar uma situação de perigo, vocês se cuidam, tudo fica bem novamente, depois vocês discutem…“, e assim por diante. Se Depois Daquela Montanha tivesse a intenção de ser um épico no meio da neve, ao invés de um falso blockbuster romântico, com certeza tudo seria diferente.
Hany Abu-Assad traz uma direção repetitiva, o diretor tenta explorar e mostrar a paisagem do local inúmeras vezes, mas novamente o filme não demonstra um sentido claro para isso. Há planos abertos e panorâmicos que não se justificam, parecem, até, não fazer parte do filme. Essas imagens não servem nem para dividir os atos do filme. A exceção fica por conta de uma única cena, em que esse plano vai se abrindo até mostrar a imensidão do local com a dupla de protagonistas centralizados, sozinhos, na película. De resto, são firulas desnecessárias e entediantes que, no mínimo, conseguem valorizar a paisagem.
Nos últimos minutos, quando o filme chega ao desgaste máximo do roteiro, Hany Abu-Assad tenta estabelecer uma metáfora entre a história e o título, Depois Daquela Montanha. Inicialmente, a cena soa revigorante – como se naquele momento “a moral do filme” fosse ser revelada -, mas isso é só mais um engano. Depois Daquela Montanha, após ser tão previsível, resolve encerrar a sua história do jeito mais brega possível, a ponto de ser quase patético.
No fim das contas, é inegável que Hany Abu-Assad desperdiçou o potencial do material que tinha em mãos, em um filme que não diz ao que veio. O elenco, obviamente, também tem seu talento jogado montanha abaixo, Elba e Winslet pouco convencem o sofrimento dos seus personagens, mas graças a maquiagem, as vezes é notável que eles estão, realmente, com frio. Depois Daquela Montanha mostra uma jornada vazia que, pelo menos, consegue chegar ao fim.
Avaliação
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