Série Special
Special / Imagem: Divulgação/Netflix

Ter uma maior representatividade das minorias da nossa sociedade nos filmes e séries de TV importa. Mais importante ainda é trazer isso de uma forma limpa, consciente e empática. Special, da Netflix, se classifica nesses quesitos ao trazer um drama com uma mistura de comédia que fala sobre tentar se despir e “tirar do armário” seus próprios preconceitos. 

A série é protagonizada pelo ator Ryan O’Connell e é baseada no seu livro autobiográfico intitulado “Eu sou especial: outras mentiras que contamos a nós mesmos”. Além de estrelar a produção, Ryan também é criador e roteirista da série que é um retrato fiel de todos os problemas e obstáculos vencidos por ele na vida real. Jim Parson (The Big Bang Theory) se junta ao projeto como produtor executivo ao lado da direção de Anna Dokoza.

Aqui, O’Connel é Ryan Hayes, um homem assumidamente gay que tem paralisia cerebral “moderada”. Para ser considerado “normal” e ser aceito pelas outras pessoas no seu trabalho e na vida pessoal, ele esconde sua doença e diz que suas deficiências na coordenação motora são derivadas de um atropelamento por um carro.

Ryan está em busca de independência, mas acha difícil fazer isso ao lado de sua mãe, Karen (Jessica Hecht), que é superprotetora e acha que o filho não consegue lidar com a vida lá fora. De fato, Ryan precisa ter toda a força de vontade que ele possui para buscar o que ele quer e a série mostra a verdade nua e crua do que acontece na trajetória dessa busca. E é na amizade com Kim (Punam Patel) que ele irá achar essa força.

Série Special
Special / Imagem: Divulgação/Netflix

A forma como a série retrata a vida como ela é, e não como deveria ser, é um direcionamento certo que dá verossimilhança à produção. Todas as pessoas buscam em certo ponto de suas vidas alguma independência, seja ela financeira ou material (bens), mas para Ryan isso é algo que apresenta uma maior dificuldade porque ele sempre dependeu de outras pessoas.

A questão dessa dependência é retratada na série de uma maneira bilateral. Karen, apesar de desejar o melhor para o filho, embarca também no sentimento de dependência por ele e acaba deixando de viver os pequenos prazeres da vida, esquecendo que está viva e que precisa sentir isso.

Apesar de Special ser uma série que fala também sobre o amor incondicional de mãe para filho, ela também trata do egoísmo que se pode desenvolver no amor fraternal. Ryan e Karen se veem em dilemas de como seguir suas vidas sem a necessidade constante um do outro e isso é uma coisa positiva a ser retratada.

O elenco é sem dúvidas uma ótima escolha e desempenha o que é esperado deles na trama. Apesar de serem poucos atores, todos têm algo a contribuir no desenvolvimento de Ryan e da série como um todo. A amizade entre Ryan e Kim é um exemplo disso, pois a personagem ajuda o amigo gay a encontrar sua essência e personalidade. Até Olivia (Marla Mindelle), a chefe megera de Ryan e Kim, com seu humor ácido e absurdo, ajuda o personagem principal a tentar alcançar o objetivo por ele almejado.

Ryan O’Connell, Punam Patel e Augustus Prew em Special.

Quanto as questões sobre as limitações de Ryan, suas relações com outros homens e sua carreira profissional são facilmente introduzidos a cada episódio. Entretanto, é difícil desenvolver temáticas tão complexas e importantes como essas em episódios de 15 minutos.

Essas questões poderiam ter sido trabalhadas de forma mais ampla e o tempo curto de cada episódio não ajuda muito nesse quesito. Outro ponto negativo da curta duração são os plots sobre as circunstâncias na vida de Ryan não serem concluídas da maneira correta ou rápidas demais.

Para isso, Ryan O’Connell revelou que deseja ampliar os episódios de 15 para 30 minutos em uma possível renovação para a segunda temporada. Essa mudança com certeza será bem aproveitada, pois o último episódio deixa várias questões em aberto, não só para o personagem principal, mas também para os demais.

Em suma, Special é a inovação da representatividade que aposta no “politicamente correto“. Em tempos difíceis como a atual conjuntura da nossa sociedade, obras como essa são importantes na fomentação da diversidade e da empatia às diferenças do próximo. A série consegue trazer as principais características de um drama misturado com humor ao realizar a discussão de temáticas pouco debatidas e também na busca de uma autoavaliação de si mesmo e nos próprios preconceitos.

Avaliação
Muito bom
8.5
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Jornalista e produtor de conteúdo da Matinê, escreve sobre séries, livros e filmes. Do romance a ficção científica, tem um relacionamento sério com histórias que cativam e encantam.