Os minutos finais da 4ª temporada de The Boys são frenéticos. As cenas mostram não apenas a resolução de tudo que se arrastou durante os sete episódios anteriores, mas criam ainda a famosa expectativa para o que virá.
Fazer uma análise a partir disso representaria o sucesso de uma excelente temporada fechada com chave de outro. Contudo, a realidade do quarto ano da série talvez não seja tão perfeita.
Embora os minutos finais do oitavo episódio sejam de utopia narrativa, há muito o que se considerar sobre tudo o que veio antes.
The Boys continua sendo o maior sucesso do Amazon Prime Video e conseguiu manter sua relevância mesmo na presença de A Casa do Dragão. Parte dessa conquista acontece por causa dos personagens, que são o grande atrativo do seriado.
Essa notoriedade só pôde ser atingida porque The Boys representa um fôlego no mundo das adaptações de super-heróis. Sua distância de tipos ideais que figuras clássicas como Superman e Capitão América representam é o que faz Butcher (Karl Urban), Capitão Pátria (Antony Starr), A-Trein (Jessie T. Usher), Leitinho (Laz Alonso), French (Tomer Capone), Kimiko (Karen Fukuhara) e todos os outros personagens funcionarem tão bem.
Além disso, desde o começo The Boys ainda encontrou destaque nas entrelinhas. A metalinguagem do seriado demonstrou que o texto manteve os olhos abertos, encontrando esteio nas pautas mais relevantes do mundo real.
Assuntos como racismo, fake news, desinformação, manipulação de opinião pública, controle econômico e falsos messias sempre estiveram na ponta do lápis de Eric Kripke, Jessica Chou e David Reed – showrunner e roteiristas da série.
Dentro desta embalagem, no entanto, a 4ª temporada focou em questões pessoais dos personagens. Enquanto essas figuras recebiam atenção, a história em si era deixada de lado, demonstrando pouco avanço narrativo.
Por óbvio, o objetivo dos The Boys é e sempre será acabar com o Capitão Pátria e o domínio da Vought. No entanto, em mais uma temporada eles traçam um plano, executam e falham no final, repetindo a fórmula de sempre.
Tudo isso é encorpado por violência gráfica, palavrões e cenas sexualmente absurdas, que já fazem parte da identidade do seriado. O ponto positivo neste caso é que, também como de costume, a série usa isso como recursos de construção narrativa para o enredo e para os personagens.
Um bom exemplo é a morte de Ezekiel (Shaun Benson) durante o programa especial da Espoleta (Valorie Curry). A pergunta de como ele realmente morreu fica no ar por alguns episódios, afinal, se Butcher está quase morrendo, quem poderia ser capaz de fazer tudo aquilo? A resposta aparece no final da temporada.
Desenvolver ainda mais esses personagens é uma escolha ousada, principalmente quando isso pode prejudicar a evolução narrativa da história. Não que prejudique de fato, mas sem dúvida fica claro quando a série escolhe entre um e outro.
Dentro disso está uma forma de reafirmar quem são estes personagens e quais são os seus conflitos. Além disso, acontece também a inserção de novas peças para este tabuleiro. Essas figuras aparecem com propósito e movimentam a história, que com isso busca por tons de renovação.
O lado interessante da ênfase nos personagens, além das reafirmações, é entender o momento que eles estão vivendo. Capitão Pátria, por exemplo, passa a sofrer com a idade, ao mesmo tempo em que reforça a ideia de ser mais do que um mero ser humano.
Algo semelhante acontece com Luz-Estrela (Erin Moriarty), que embarca em uma jorna de crise de identidade que afeta seus poderes. Por outro lado, A-Trein, que há algum tempo confronta o seu papel dentro da Vought, vive uma espécie de redenção na 4ª temporada.
Pesando para o lado positivo, está ainda uns dos méritos mais interessantes do seriado: a relação entre causa e consequência. The Boys não hesita em entregar ao público ações rápidas seguidas dos seus resultados.
Com tudo isso, é inegável que a 4ª temporada de The Boys faz o básico. Ou seja, a história sai do ponto A e chega no ponto B, independente do que esse avanço represente. A novidade talvez esteja no fato de que os The Boys nunca estiveram em uma situação tão crítica como a que chegaram.
Em outras camadas, o seriado apresentou um discurso corajoso. Em ano eleitoral nos Estados Unidos, com o Presidente Joe Biden em cheque pelo partido democrata e Donald Trump demonstrando força com os republicanos – em especial depois do atentado sofrido pelo ex-presidente -, a série manteve o tom crítico e o olhar para o mundo.
Como produto de entretenimento, exercer este papel por livre e espontânea vontade é um esforço ainda mais corajoso. Afinal, ainda se deposita em produções como esta a expectativa de escapismo. O que, em muitos casos, nem sempre acontece.
No entanto, é preciso pensar no quanto esta responsabilidade de olhar para o mundo está na série e qual a parcela da interpretação de quem a assiste. Certamente há um equilíbrio, pois o mundo como ele é serve como material base para este tipo de produção.
Além disso, há de se pensar que obras audiovisuais, independente de sua finalidade, são frutos de um tempo. The Boys como uma dessas peças, reflete o mundo em que está situada.
Embora não encontre equilíbrio entre desenvolvimento de personagens, seja ele necessário ou não, e avanços narrativos, The Boys mantém o mínimo que se pode esperar de um seriado como este. No fim, mesmo correndo, leva sua história adiante e cria expectativas para um evento final cheio de incertezas.
Sobre The Boys (4ª temporada):
Showrunner: Eric Kripke
Elenco principal: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr e Erin Moriaty.
Número de episódios: 08
Data de lançamento: 13 de junho de 2024.
A história da 4ª temporada de The Boys
O mundo está à beira da ruína. Victoria Neuman está cada vez mais perto do Salão Oval sentindo a pressão do Capitão Pátria, cujo poder está se consolidando. Bruto está com pouco tempo de vida, afastado do filho da Becca, e a equipe de The Boys cansou de suas mentiras. Com os riscos extremamente altos, eles precisam encontrar um modo de trabalhar juntos para salvar o mundo antes que seja tarde.
Assista ao trailer: