O projeto de distribuição de filmes brasileiros, Sessão Vitrine Petrobras, abre a sua programação de 2025 a partir desta quinta-feira, 29. O primeiro longa-metragem a chegar às telas a partir do programa é Kasa Branca, de Luciano Vidigal, que propõe um novo olhar para as áreas periféricas.
Durante a primeira década do século XXI, alguns títulos popularizaram o que ficou conhecido como “Favela Movies”. Longas-metragens como Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007) foram importantes na criação desse subgênero do cinema nacional. No entanto, alguns destes filmes também eram polêmicos, afinal retratavam as áreas periféricas – especialmente no Rio de Janeiro – a partir de histórias associadas ao tráfico de drogas e violência.
Desta forma, alguns destes títulos construíam um estereótipo que mostrava que na favela só havia pobreza, tráfico e violência. Porém, há outras histórias que vão na contramão deste pensamento. Kasa Branca é um exemplo disso.
A história acompanha Dé (Big Jaum) que passa a morar com a avó, Dona Almerinda (Teca Pereira), diagnosticada com Alzheimer. Sabendo que ela tem pouco tempo de vida, o garoto, ao lado dos amigos Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), tenta aproveitar cada momento que lhe resta ao lado da avó.
O poder da comunidade

Kasa Branca marca a estreia solo de Luciano Vidigal na direção de longa-metragem. O cineasta também assina o roteiro do filme, inspirado em uma história real.
Enfrentando dificuldades para cuidar da avó, Dé precisa de uma rede de apoio forte para superar os problemas. “Tu tem que ficar firme, tu é a base”, diz um dos amigos do protagonista logo no começo do filme.
Mesmo com apoio, o personagem interpretado por Big Jaum é tudo o que ele tem além da avó. Dé não tem mais contato com outros membros da família, inclusive com o pai (Babu Santana), que mora em outra comunidade no Rio de Janeiro.
Contando com o apoio dos amigos, Dé faz o necessário para dar conforto e dignidade à Dona Almerinda. Cuida da comida, leva-a ao médico, tenta conseguir dinheiro para os remédios e tem a missão de colocar o aluguel em dia.
O apoio dos amigos é essencial, mas o filme explora também a relação de cumplicidade e o carinho do neto com a avó. Dé é afetuoso e se importa com Dona Almerinda, que passa os dias com o olhar vazio e raramente demonstra alguma reação ao que acontece. Mesmo assim, frequentemente ele leva Dona Almerinda até uma passarela para que ela possa observar o trem.
O protagonista também investiga o passado da avó. A partir de fotos antigas, o garoto e os amigos tentam levar Dona Almerinda a lugares aparentemente especiais para ela. As incursões nem sempre dão certo. No entanto, quando acontecem, são capazes de aquecer qualquer coração.

Enquanto desenvolve o fio principal, Luciano Vidigal também abre espaço para tramas paralelas. Desta forma, os amigos de Dé também ganham espaço com suas histórias.
A partir destas tramas, o diretor e roteirista consegue construir um olhar mais amplo sobre a comunidade. Nestes locais existem histórias, dramas, corações partidos, diálogos sobre sexualidade e gênero, dificuldades, amizades e sonhos a serem realizados – como o de Talita (Gi Fernandes) impulsionada pela participação do rapper L7nnon.
Kasa Branca foge de romantizações. Embora construa uma visão afetuosa do espaço onde se situa, o filme não deixa de mostrar as dificuldades vividas pelo protagonista, em especial quando busca atendimento nos serviços públicos de saúde.
Luciano Vidigal demonstra um olhar atento aos detalhes. Sua visão sobre o afeto comunitário, da rede de apoio dos amigos e da parceria com os vizinhos atribuem ao seu filme a alma que histórias como essa necessitam.
No caso de Kasa Branca, a simpatia construída pela perspectiva do diretor é capaz de envolver o público. Desta forma, quem assistir ao longa terá a chance de se afeiçoar aos personagens, se importar com suas histórias e compartilhar emoções com os rumos que a vida leva.