
Filmes como Máquina do Tempo, dirigido por Andrew Legge , em cartaz nos cinemas brasileiros desde a quinta-feira, 13, são importantes feitos cinematográficos. O filme não tenta reinventar a roda, mas tem ousadia o suficiente para ser diferente.
Situado na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, Máquina do Tempo mescla ficção científica, drama e o estilo found footage para contar a história das irmãs Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini). O formato escolhido combina com a narrativa adotada: as “imagens encontradas” (tradução livre do termo) foram gravadas em filme físico de câmeras antigas, condizentes com a tecnologia das décadas de 1930 e 1940 – utilizando filmea Kodak 16mm / 35mm, conforme detalhou o Cinematography World.
Na época, era necessário colar partes de diferentes rolos de filmes para contar uma história de curta, média ou longa duração. Por tanto, além do estilo de imagem encontrada, Máquina do Tempo adota uma estética de colagem de fragmentos para falar sobre a invenção das irmãs que alteraram o curso da história humana no longa-metragem.
Thom e Mars, após eventos pessoais catastróficos, criam um dispositivo capaz de receber sinais de transmissões do futuro. Desta forma, mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, as irmãs descobrem David Bowie e outros elementos de contracultura do mundo pós-Guerra.
Ousadia, causa e consequência

No entanto, a realidade conhecida por quem vive o mundo fora deste filme é alterada a partir do momento em que as duas tentam alterar os rumos da guerra. Com isso, a máquina passa a ser usada para coletar informações de futuros ataques da Alemanha nazista na tentativa de neutralizá-los e vencer a guerra.
A intenção de Thomasina é de ter “a sociedade perfeita“, como diz a personagem. Sem guerras e sem problemas entre as pessoas. Embora idealista, o filme une de forma homogênea suas combinações de gênero. Assim como é uma história fictícia sobre a Segunda Guerra, Máquina do Tempo também é sobre viagem temporada. Por tanto, não poderia deixar de lidar com as consequências de mudar a história.
Com os ataques nazistas neutralizados pelos Aliados, Thom e Mars passam a conhecer as consequências destas escolhas. O sumiço, no futuro, de nomes como David Bowie, Nina Simone, Bob Dylan e Stanley Kubrick são sintomáticos para atribuir peso aos acontecimentos. “Às vezes você tem que fazer sacrifícios para um bem maior“, disse Thom, em uma das cenas, para Mars – que é fã precoce de David Bowie.
No entanto, não é apenas o impacto do apagamento cultural que adiciona carga dramática ao filme. A presença de Mars como principal narradora da história e sua perspectiva dão vida ao filme sem cores. A imagem granulada em preto e branco em uma tela quadrada de cantos arredondados, moldada a partir do filme da câmera utilizada, simula a realidade que o found footage tenta entregar ao público.
Por outro lado, as narrações em primeira pessoa e o carisma de Mars adicionam ao filme um estilo emocional marcante. Embora Thom seja individualista, Mars é calorosa e receptiva. É a personalidade da personagem que ajuda a tornar Máquina do Tempo um filme conquistador.
Máquina do Tempo explora gêneros e estilos com precisão

Contar a história com esta estética em uma narrativa de colagens é surpreendente. Contudo, Máquina do Tempo ousa ainda mais ao imaginar um mundo onde o nazismo venceu. A partir disso, o longa, que ganha contornos de distopia, explora uma realidade alternativa comanda pelo autoritarismo, pela ordem acima de tudo e com a cultura utilizada como ferramenta de manipulação ao distribuir as ideias deste regime disfarçadas de hits dançantes.
Desenvolvendo-se falsamente em cima da esperança que, na verdade, sempre fora uma tragédia anunciada. Levando o espectador da divertida euforia ao vislumbrar uma fácil vitória contra o nazismo até a derradeira desolação de um mundo autoritário. Sem perder os propósitos estéticos, Máquina do Tempo é a obra mais inventiva do cinema em 2025 até o momento.
A proposta ousada de unir diferentes gêneros, estilos e técnicas de fazer cinema e contar uma história são os pontos fortes do filme. É com estes elementos que Máquina do Tempo encontra espaço para ousar e se destacar dentro das histórias de guerra. O longa-metragem constrói sua singularidade em uma trama que revisita o passado para conversar sobre os perigos que assombram o presente.