
Em 2017, estreou nos cinemas brasileiros um filme de máfia dirigido por Ben Affleck, A Lei da Noite. Na época, o longa-metragem deu prejuízo para a Warner Bros. Pictures. A verdade é que, embora tivesse alguns bons momentos, o conjunto da obra foi morno. A partir da próxima quinta-feira, 20, a empresa traz um novo título para o gênero, The Alto Knights: Máfia e Poder, que parece sofrer de problemas semelhantes.
Na época do lançamento, parte do barulho que despertava o interesse por A Lei da Noite vinha do sucesso de Affleck como Batman do confuso ou finado Universo Cinematográfico da DC. O outro pedaço desse movimento vinha do prejuízo, na cotação da época, de US$ 75 milhões.
Diferente disso, o que chama a atenção para The Alto Knights é o desempenho de Robert De Niro ao interpretar dois papéis na história. O primeiro é o notório e influente Frank Costello e o segundo o violento Vito Genovese. Os dois protagonizam a história da disputa de poder pelo controle da máfia em Nova Iorque – baseada em acontecimentos reais.
A trama, que ensaia uma narrativa de memórias contadas a partir do ponto de vista de Frank Costello, mostra que a amizade da infância se transformou em uma disputa regada a traição e ganância. Após fugir de uma possível condenação, Vito retorna da Europa e quer que Frank devolva seu posto de chefe, o que não acontece pelos longos anos que se passaram.

A partir disso, o filme estabelece o conflito dos personagens. No entanto, além do embate, Frank e Vito são a própria antítese um do outro. Enquanto o atual chefe da máfia é uma figura branda que presa pela diplomacia das relações de influência que constrói, Vito é pavio curto e não hesita em recorrer à violência para resolver seus assuntos.
Visualmente, há marcações onde é possível diferenciar os personagens. O trabalho de maquiagem e, possivelmente, de efeitos visuais que reduzem a pele enrugada do ator são marcas importantes da composição. No entanto, é notório que, aos 81 anos, De Niro, em plena atividade, consiga dar trejeitos diferentes para Frank e Vito, além de modificações vocais, sotaque e na dicção das duas figuras.
No desenvolvimento do contexto da história e dos mafiosos, The Alto Knights direciona-se à tentativa de emular o real. Embora não seja novidade, o filme busca pelo retrato convencional dos membros da organização criminosa. Ou seja, existe hierarquia da mesma maneira em que estas figuras estabelecem algum tipo de código ou ética entre si.
Desta forma, The Alto Knights estabelece essas regras e reforça visões convenientes a este tipo de filme. Há o mafioso amigo da vizinhança, que faz o seu contrabando e colhe os louros do crime. E há aqueles, como Vito, que têm fome de poder e estão dispostos a fazer o possível para chegar onde querem.
Essa ideia não difere do que foi visto, recentemente, na minissérie Pinguim, da Max. De fato, The Alto Knights, como filme de máfia, não foge do convencional. No entanto, existe um esforço importante no roteiro do longa-metragem.

Nicholas Pileggi, que assina o roteiro, é jornalista e exercia a profissão na época em que a história retratada pelo filme acontecia no mundo real. Atuando na cobertura do caso para a Associated Press, Pileggi tem propriedade sobre a história e usa desta vivência para reconstruir manchetes de jornais que guiam a narrativa e ajudam na construção do clima bélico entre os mafiosos, a mídia e os políticos.
Além disso, é importante destacar que The Alto Knights não é a primeira incursão de Nicholas Pileggi nas histórias de máfia. O jornalista e escritor também assinou, ao lado de Martin Scorsese, os roteiros de Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1995).
No entanto, a experiência com o gênero não garantiu, desta vez, as melhores decisões. The Alto Knights usa e abusa do ponto de vista que propõe contar a história. Enquanto a trama acontece, o filme conta com intervenções de Frank Costello que compartilha suas memórias – não há especificidade sobre o recurso narrativo, por vezes o personagem parece quebrar a quarta parede, em outros momentos pode estar dando um depoimento.
A partir disso, a ideia passada pelo longa-metragem é de uma narrativa que usa a ficção para narrar fatos. O que seria, em tese, um documentário, se tornou uma obra cinematográfica que simula o real.
É notável o esforço de The Alto Knights: Máfia e Poder. O trabalho de reconstrução histórica do que o filme documenta e do departamento de arte na ambientação da época colaboram para atribuir valor técnico para a produção – o mesmo vale para a fotografia assinada por Dante Spinotti (O Último dos Moicanos e Fogo Contra Fogo). No entanto, o longa-metragem de Barry Levinson (vencedor do Oscar de Melhor Direção por Rain Man), reúne bons momentos, mas juntos eles não formam um grande filme.
Assista ao trailer de The Alto Knights: Máfia e Poder
– Siga a Matinê nas redes sociais: Instagram, Threads, Facebook, TikTok, YouTube.