Durante algum tempo, o mistério pairava sobre Pecadores. O novo filme de Ryan Coogler era uma incógnita até o início da divulgação efusiva do longa-metragem. O suspense sobre a trama e os elementos que faziam parte desta história, tornavam a obra cada vez mais curiosa, principalmente porque gêneros como terror, fantasia e ficção científica estavam presentes entre os rumores sobre o próximo trabalho do diretor de Pantera Negra (2018).
Com a divulgação das primeiras prévias, Pecadores passou a aparecer cada vez mais em listas de filmes aguardados em sites especializados. O longa-metragem, que marca mais uma colaboração entre Coogler e Michael B. Jordan, confirmou em seus trailers que se tratava também de uma história de vampiros.
Depois de ser adiado para o dia 17 de abril (trocando de data com Mickey 17), Pecadores transformou o mistério sobre sua história em êxtase. Na trama, irmãos gêmeos (Jordan) retornam de Chicago para a sua cidade natal, onde pretendem abrir um clube de blues apenas para os negros. Pecadores é ambientado em um cenário rural e de extrema segregação racial nos Estados Unidos de 1930.
Cinema de gênero e conexão ancestral

O diretor Ryan Coogler desenvolveu em Pecadores o seu filme mais ambicioso. No novo longa-metragem, o cineasta colhe os louros dos ótimos trabalhos anteriores, que o tornaram um dos nomes mais promissores da indústria hollywoodiana. Esse status possibilitou a reconstrução histórica de uma época numa trama que se conecta com a ancestralidade afro-estadunidense ao mesmo tempo em que mergulha na fantasia e no horror dos vampiros.
O cinema de gênero, embora constantemente desprestigiado pelas grandes premiações, é reconhecido pelo público e pela crítica por trabalhar na ficção as mazelas sociais do mundo real. Nos últimos anos, com Corra! (2017), Nós (2019) e Não! Não Olhe! (2022), Jordan Peele utilizou o horror e a ficção científica para contar histórias com essa abordagem.
Com Pecadores, Ryan Coogler deixa a sua marca ao resgatar conexões com o passado aterrorizado do povo negro em momentos em que as pessoas eram perseguidas e assassinadas por causa da cor da sua pele. Mesmo que no final se trate de um filme que mistura fantasia e horror, o diretor não deixa de abordar os problemas que existem naquele cenário.
Desta forma, antes de trazer os vampiros para a tela do cinema, Ryan Coogler constrói a ambientação de Pecadores. Mostrando os contrastes da segregação, o diretor convida o público a entender o contexto do povo negro na época. Os trabalhadores do campo, as conexões religiosas atreladas a igreja e ao misticismo da matriz africana e a forma como se relacionam entre si e com outras etnias não-brancas. Tudo isso é explorado pelo cineasta enquanto os irmãos vividos por Michael B. Jordan reúnem figuras específicas capazes de fazerem a estreia do seu clube de blues acontecer.
Uma história de seres humanos e liberdade
O foco de Pecadores poderia, mais uma vez, ser no sofrimento, sendo então outro filme com olhar de tragédia para o povo negro nos Estados Unidos. No entanto, a história aborda essas pessoas como seres humanos. Ou seja, os personagens tem um passado, personalidade, dramas, dores e desejos. Ao refutar o trágico, Pecadores abre espaço para falar de conexão, pessoas e do futuro que cada um deseja.
Neste sentido, Pecadores exibe uma cena onde o caos e a conexão atemporal da ancestralidade tomam conta da tela do cinema. Em uma mescla de presente misturado com passado e futuro, Ryan Coogler cria não só a catarse do seu longa-metragem, mas uma sequência de momentos cuja beleza é inestimável. Tudo isso conectado pelo poder da música, que no filme serve como cura e maldição.

Sejam os protagonistas ou os personagens secundários, todos são abraçados pela história. De alguma maneira, o diretor, que assina também o roteiro da obra, encontra espaço de desenvolver cada uma dessas pessoas. Com isso, os dramas pessoais de cada um se entrelaçam com os gêmeos que conectam cada uma dessas figuras ao ideal de que todos do povo negro possam ter um lugar para serem livres e felizes.
Todo esse subtexto serve ao propósito de enfrentar o inimigo silencioso que surge de repente na história. O surgimento dos vampiros conota que há um filme dentro do filme. No entanto, ao invés de causar essa impressão, Coogler consegue transitar entre os gêneros de maneira natural, sem causar estranhamento. O diretor, revelou que “A Hora do Vampiro”, de Stephen King, serviu de inspiração para a sua história.
Com diversas alegorias, trilha sonora e fotografia a serviço da experiência dentro da sala de cinema, Pecadores une a técnica visual e auditiva em uma história espirituosa e contagiante. Da direção as atuações, o novo filme de Ryan Coogler desponta como uma das grandes realizações cinematográficas de 2025. Independente dos gêneros que a obra transita, Pecadores tem no âmago uma beleza inexplicável que somente quem assistir terá chance de absorvê-la.
Assista ao trailer de Pecadores
Ficha técnica do filme
Título: Pecadores (Sinners)
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco principal: Michael B. Jordan, Miles Caton, Wunmi Mosaku, Hailee Steinfeld, Jack O’Connell, Jayme Lawson, Omar Benson Miller e Delroy Lindo.
Data de lançamento: 17 de abril de 2025 (nos cinemas brasileiros)


