O título A Lenda de Tarzan resume todo o filme para você, pois Tarzan não é mais o mesmo, o verdadeiro virou realmente uma lenda. Além de ser uma releitura da clássica obra, o longa também pode ser interpretado como uma continuação daquilo que já se conhece. É muito diferente do que se possa esperar, tem um ponto de vista bem interessante, mas o resultado final não é nada bom.
Sinceramente fiquei procurando os 180 milhões gastos no orçamento do filme, com todo esse dinheiro os efeitos deveriam ser de primeira linha, para falar a verdade esperava que esses efeitos fossem do mesmo nível de Mogli, mas só esperei. A história é diferente do que se possa imaginar, é como pegar a obra fantasiosa e trazer ela para o mundo real, fazendo daquele ganho de aceitação e igualdade virar um grande trauma, fazendo o personagem ser realmente humano. Isso deu certo, a proposta do personagem é completamente diferente daquilo que conhecemos, mas sinto que faltou algo em John, pois Tarzan ficou no passado. E isso o personagem deixa bem claro.
Em certos momentos pensei que estava assistindo dois filmes, o primeiro um retrato histórico do que a coroa belga (supostamente) fez ao tentar escravizar todo o Congo, trafico de escravo, de marfim, todo esses fatos históricos e conflitos socioeconômicos foram bem tratados, aproximando ainda mais a história de uma antiga realidade. Fica até complicado falar sobre ela, pois sem ritmo e sem desenvolvimento o filme realmente não anda, ele só pula de galho em galho, ou de cipó em cipó. Pode parecer ironia, mas é a pura verdade. E para concluir, o segundo filme seria uma nova história de um novo Tarzan, diferente de tudo aquilo que conhecemos.
A Lenda de Tarzan tem alguns momentos que são muito interessantes, de uma riqueza cultural muito linda, que sabemos que África tem. Achei realmente bonito quando as pessoas começam a cantar “a lenda de tarzan” em dialeto, são cenas realmente lindas de se ver. Principalmente pela simbologia que trazem e representam. Em si essa nova versão, da história, é algo de se esperar, pois o passado de John sendo Tarzan é tido como um trauma, por tudo que ele passou enquanto estava na floresta. Em certos momentos a releitura do mito torna-se destorcida porque o roteiro estava completamente perdido em fazer de John um herói e de Jane uma donzela rebelde.
Os personagens no geral não são bons, mas é em uma situação como essa que vemos os bons atores. O melhor do filme, realmente o único ponto que é bom em todo esse contexto, é a Atuação (sim com “a” maiúsculo) de Samuel L. Jackson, que prova que ator bom é ator bom, não importa o filme, muito menos o personagem, mas quando alguém sabe o que está fazendo e gosta daquilo que faz tem tudo dá certo. Assim como Christoph Waltz, que é um ator muito bom, mesmo fazendo sempre um vilão diferente. Apesar dessa contestação dele interpretar apenas vilões, para mim ele serve de exemplo para rebater esse argumento porque é o um ator que sabe fazer isso muito bem, ou seja, Christoph Waltz sabe ser um bom vilão. O personagem até funciona bem, mas é um de um clichê enorme, pois sua missão é atrair Tarzan e para isso ele obviamente usa a Jane – mas pelo menos a atuação é boa.
Em alguns momentos até pensei em gostar do filme, mas sabe quando não é para acontecer? Então, o próprio longa me fazia pensar o contrário. Eu realmente esperava algo bom dele, as cenas de ação foram mal filmadas, pois não mostravam a ação, não mostravam a luta e nem os golpes. Não tinha como ter noção de como elas foram coreografadas, pois a filmagem tira toda a sua percepção da luta e do local. Tudo o que era para termos de bom no filme ficou ruim. Não é que ele seja ruim, mas ele é muito estranho e altamente prejudicado pela falta de ritmo. Tem momentos em que é necessário desenvolver o roteiro para fazer a história andar e nessa hora o filme quebra a expectativa e abre mais uma cena com muitos diálogos. Alguns desses são bons e interessantes, em certo ponto com momento imponentes, mas parecem ser (em sua maioria) superficiais.
Tudo isso compromete o filme, compromete personagens importantes como Jane e Tarzan. Jane, Margot Robbie, é muito oscilante durante todo o filme, com momentos bons e ruins. A construção da personagem é boa, fora o cabelo mal pintado, mas um problema é que já não consigo ver Magot Robbie fora de Esquadrão Suicida. O filme dos vilões ainda não estreou, mas é impressionante como já fiquei marcado com isso.
A Lenda de Tarzan ainda se preocupa em ser engraçado, com bons momentos, mas todos eles dependentes de George, ou, Samuel L. Jackson. Além disso ele consegue trazer alguns fanservice, que não encaixam com o tipo de filme que David Yates tentou fazer, por exemplo, o grito do Tarzan é totalmente descaracterizado e aparece por puro capricho, sem faz parte da construção do personagem, então nem deveria ter aparecido. Tudo é muito confuso, pois você se preocupa em retratar um filme com um sub texto traumático, e até certo ponto pesado, mas não deixa de lado a utilização de alívio cômico. São piadinhas idiotas na sua maioria, que funcionam por causa do personagem de Jackson, mas se você pensar bem elas não se encaixam com o tom sério e sombrio do filme.
Infelizmente os macacos ficaram muito estranhos, os de Planeta dos Macacos são muito superiores (é o mínimo de se esperar no caso desse filme), especialmente no longa de 2014. Em A Lenda de Tarzan os movimentos até são bons, mas no geral ficaram estranhos de mais, é um CGI bem forçado e mal trabalhado. Apesar disso gostei dos elefantes que ficaram realmente lindos, assim como algumas leoas que aparecem no longa. A fotografia é bem bonita também, mas na primeira cena você lembra de King Kong, aí fica igual, principalmente o cenário.
É um filme com mais erros do que acerto, foram pouquíssimos elementos que me agradaram, e pensar que Tarzan (1999) é o meu desenho favorito da Disney, mesmo sabendo que essa é uma história completamente diferente, no fim é incomodativo sair da cabine tão decepcionado.
Nota do autor para o filme:
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