Imagem: Divulgação/ Downton Filmes
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Imagem: Divulgação/ Downtown Filmes

Mais um longa brasileiro do desgastadíssimo e sofrível gênero da comédia entra em cartaz hoje (22). Se atualmente os filmes nacionais têm um pré-julgamento negativo, por parte do público, isso se deve as comédias nacionais de baixíssima qualidade que temos a todo o momento nos cinemas. E Tô Ryca, não é diferente disso.

Tô Ryca consiste na insana ideia de que, do nada, uma típica trabalhadora brasileira, que sofre com um patrão desleal, condições abusivas de trabalho e com os problemas do transporte público que todos os mortais brasileiros conhecem. Em uma belo dia a personagem de Samantha Schmütz pode se tornar a herdeira de nada mais, nada menos do que R$300 milhões, mas para isso precisa gastar 10% desse valor em 30 dias.

É aí que começa a saga de Selminha, para gastar toda a dinheirama. É lógico que não é só gastar, o grupo de advogados responsável por “fiscalizar” essa tarefa tinha que ter as intenções básicas, clichês e chatas de tentar sabotar a missão quase impossível da moça. A trama em si é muito parecida com as das novelas da sete horas, mas com duas humoristas, uma que já teve seu destaque e momento de sucesso (Katiuscia Canoro), a outra continua em acensão, mas teve seu talento completamente desperdiçado. Samantha Schmütz é uma ótima comediante, desde os tempos de Zorra, até mesmo hoje no badalado Vai Que Cola, do Multishow.

Imagem: Divulgação/ Downton Filmes
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Selminha é uma personagem interessante, é a típica mulher pobre e guerreira que tanto vemos em filmes e novelas. O problema é que a personagem sofre o vício que Leandro Hassum estabeleceu nas comédias nacionais: caretas e gritos fazem piadas. Fica feio, sim, em tela você depender de uma careta ou de berros para poder fazer as pessoas rirem. Na verdade isso não funciona, pois a todo momento temos piadas ruins e forçadas, mal elaboradas por um desenvolvimento preguiçoso que insiste em não ser inteligente. Se fosse inteligente não dependeria de gritos e caretas para tentar ser engraçado ou prender a atenção do pública.

A comédia é fraca e não se sustenta, na verdade não cria uma base para poder se sustentar. Veja bem, o stand-up no Brasil faz sucesso quando bem elaborado, muitos são bons, mas esses de boa qualidade são dos comediantes mais desconhecidos, pois são eles que trazem algo de novo aos palcos. Os humoristas mais famoso já perderam a graça há anos, fora aqueles que nunca tiveram. Acontece que incomoda de mais cada cena do longa ser um pequeno stand-up, não existe realmente um diálogo, mesmo que dois personagens estejam juntos em uma cena, 70% do diálogo é uma forma de stand-up e eles mais falam sozinhos do que com a pessoa que está ao lado. Isso é uma falha muito grande, pois é nítido que nenhum dos atores tem chance de desenvolver algo mais elaborado, a história anda, mas nada muda, é tudo tão normal e tão previsível que chega a ser cansativo.

Previsibilidade não é problema quando se tem uma ideia nova e um formato novo, cansei de escrever isso em críticas anteriores, mas é diferente você pegar uma fórmula velha, um formato velho e fazer tudo do mesmo jeito de sempre em um gênero que já teve grande nomes, no passado. O resultado é isso que já falei no início, a comédia, hoje, no Brasil, é um gênero completamente desgastado, tanto no cinema como na televisão.

Imagem: Divulgação/ Downton Filmes
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O que se espera do cinema nacional é o que estamos vendo em Justiça, por exemplo. É onde atores de novela são retirados daquele padrão engessado e cansativo de atuações de medianas, e colocados em uma produção inteligente, forte e com uma boa direção artística, que extrai aquilo que eles tem de melhor. Saber aproveitar o talento dos artistas naquilo que é necessário e deixar que eles demonstrem a sua originalidade e o seu próprio conceito de construção de personagem é essencial para qualquer trabalho. Tô Ryca, nem por um segundo tenta fazer isso.

O único elogio que faço é a inteligente (na verdade mais ou menos) sacada que abriu o leque para alguns momentos engraçados. Como está a política no Brasil hoje? Uma piada? Sim, mas sem manifestações políticas, na crítica, Tô Ryca faz disso uma grande zorra e podemos levar em conta que é uma espécie de crítica ao cenário político atual do Brasil. Isso se deve a um único conceito, que neste caso veio em primeiro lugar. Por que fazer política ou ser um político? Ajudar as pessoas? Mudar o cenário de uma cidade ou estado? Não! Tô Ryca mostra que a política é a melhor forma de gastar dinheiro, e é assim que Selminha se salva. Foi algo um pouco inesperado, a ideia, e admito que teve sua esperteza. Tal “inteligência”, que deixou de ser usada para se fazer uma boa comédia, foi utilizada apenas como artifício para “a sacada” do filme.

Marcelo Adnet é o ponto ainda mais fraco da comédia, gosto do seu trabalho, mas lá no tempo da MTV, onde viveu os seus melhores momentos como humorista. Hoje vive pulando de galho em galho, sempre com um projeto novo, programa novo, “séries” novas, filmes novos. E isso por que? Por ser Marcelo Adnet? Não amigos, isso é porque nada do que ele está fazendo dá certo, esse é o problema. Falacio Fausto é mais uma engrenagem que não funciona na comédia de Pedro Antonio.

O diretor quis fazer uma grande comédia, mas não deu certo. Além de ter uma história bem fraca e conceitualmente parecendo filme do Didi, Tô Ryca não teve nada de novo, tudo foi igual ao que já se tem e ao que já se viu. A cobrança que faço é grande, mas é necessária porque um gênero como a comédia não pode ficar a merce de filmes pequenos ou mal elaborados como este. As produções nacionais tem potencial para melhorar, mas não são todos os envolvidos capazes de fazer algo de real qualidade, no cenário atual a comédia brasileira é um grande desestre.

Avaliação

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