O tão aguardado Inferno – adaptação homônima do livro de Dan Brown – chega aos cinemas deixando uma grande dívida em relação a sua história. Em O Código Da Vinci (2006) e Anjos e Demônios (2009) o roteiro é assinado por Dan Brown (escritor das obras originais), junto de Akiva Goldsman (A 5ª Onda) e David Koepp (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal), onde não via uma grande preocupação em trazer uma adaptação fiel para a película e o resultado eram boas histórias com motivações corretas. Já no novo longa, Inferno, o roteiro fica apenas com David Koepp e Dan Brown, e os problemas começam a acontecer.
Inferno tem um ritmo frenético, eleva muito bem os níveis de tensão e apreensão, pois traz uma magnitude muito grande para a ameaça que Robert Langdon (Tom Hanks) precisa deter. Quando o personagem acorda em um hospital, sua memória sofreu um apagão de dois dias, ou seja, ele não se lembra de nada que aconteceu nas últimas 48 horas. Com isso ele já encontra a sua parceira (repetindo a fórmula que deu certo nos filmes anteriores), Sienna (Felicity Jones). Juntos eles tentam parar o plano de Bertrand Zobrist (Ben Foster), que é de diminuir 95% da população mundial na intenção de resolver os problemas do planeta.
Inicialmente a história é bastante interessante, mostra uma dinâmica instigante entre o esquecimento e a busca da memória perdida de Robert Langdon. Mas ao desenvolver tudo isso muitos fatores vão comprometendo o enredo. Um deles é ver Sienna, uma médica, ter mais conhecimento histórico (até mesmo em contextos gerais, como anagramas e outros tipos de codificações que Langdon já havia feito nos longas anteriores, mesmo que em um primeiro momento sua inteligência estivesse comprometida). Tudo isso é misturado com visões e flashbacks que ficam extremamente confusos, somados com as descobertas que o personagem está fazendo e as causas da perda de memória do seu protagonista, Inferno chega à um momento em que precisa explicar tanto sobre sua história que a partir daí o longa se perde completamente. Não havendo muita explicação para pontos importante como as suas visões que ficam jogadas em tela sem ninguém saber o por que delas.
Uma das características da franquia (pelo que já foi visto em O Código Da Vinci e Anjos e Demônios) Dan Brown gosta de deixar uma parte do filme para contar fatos históricos, discutir ideologias entre teóricos, mostrar fatos históricos que ajudam e inspiram a composição da história. Inferno tem muito pouco disso, não sobrou tempo para que isso fosse feito, e o pior é ver que esse pequeno detalhe era de suma importância para o melhor entendimento da trama. Ao meio do longa, o acúmulo de fatos a serem explicados era tanto que a maioria ficou solto, sendo completado depois ou apenas deixado de lado. Entre as poucas explicações feitas, tendo algumas plausíveis, a principal delas (que era sobre como Robert Langdon perdeu sua memória recente) foi ridículo, ficando completamente fora da proposta do filme. A explicação foi a típico para filmes de espionagem estilo 007.
Muitas resoluções que a história foi encontrando ficaram rasas de mais. O plot twist por exemplo, onde acontece algo que na teoria era inesperado e que na prática não causou nenhum tipo de surpresa, foi bastante fraco. Assim como a empáfia da motivação de Zobrist, que acreditou que estava fazendo o que era o melhor para terra. O problema disso foi o posicionamento político que a história demonstrou nessas escolhas – o certo era que deveria haver uma imparcialidade por parte do roteiro. Ficou claro que Zobrist era um ativista e como tinha um grande número de seguidores que concordavam com a sua ideologia foram representados por um rapaz turco, fazendo o uso errado da dita minoria, sendo completamente sugestiva e transparecendo uma visão pobre do mundo. Equívocos marcam toda a história de Inferno.
Inferno ainda segue bem a linha aventureira do protagonista e suas buscas fundamentadas para impedir um acontecimento que pode causar grande impacto na vida das pessoas. A busca, desta vez, foi feita de uma forma tão rasa que lembra em alguns momentos A Lenda do Tesouro Pedido (de 2004), que tem essa mesma veia aventureira, mas tende para um lado mais leve como Indiana Jones, mas é claro que com menos qualidade.
A boa direção de Ron Howard foi competente, mas comprometida pelo péssimo roteiro do longa. É completamente contraditória um longa-metragem com status de blockbuster cumprir a proposta de trazer um ritmo frenético, prender a atenção, trazer fatos que despertam a curiosidade sobre a história – como os longas anteriores apresentam momentos didáticos, era o mínimo ter isso em Inferno, mas não houve nenhum tipo de preocupação com isso -, mas no fim das contas apresentou uma história fraca e totalmente problemática. Ron Howard, David Koepp e Dan Brown tinham tudo nas mãos, principalmente pelo ótimo elenco – com uma química ótima de Tom Hanks e Felicity Jones em cena, com ótima presença dos antagonistas -, mas perderam a chance de ser uma ótima surpresa. Fica apenas uma grande decepção. O inferno de Dante, ainda é o paraíso para o Inferno de Dan Brown, que tudo não passou de uma Divina Comédia.
Avaliação
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Legenda: 1 estrela: horrível/ 2 estrelas: ruim/ 3 estrelas: bom/ 4 estrelas: muito bom/ 5 estrelas: excelente