Vida, a ficção científica rotulada como “o novo Alien” ou “feita aos mesmos moldes de Alien“, não tem sustância e nem qualidade para vestir esta camisa. O longa, que conta com a direção de Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo), traz algumas semelhanças entre o tema e a história de ambos os filmes, mas há uma notável diferença de qualidade entre Alien, O Oitavo Passageiro (um marco do cinema no final da década de 1970) e Vida, só mais um filme de Hollywood sendo Hollywood.

O longa chama a atenção pelos nomes que compõem o elenco, encabeçados pela participação de Ryan Reynolds – que se não fosse Deadpool nem estaria aqui -, Jake Gyllenhaal em um dos seus personagens mais mal escritos e Rebecca Ferguson, que consegue corresponder com o mínimo que a atuação exige. O restante vale pela diversidade e representatividade – um britânico (Ariyon Bakare), uma russa (Olga Dihovichnaya) e um japonês (Hiroyuki Sanada) -, porém, o desfecho deles é o mais óbvio possível. Afinal, como dito aqui, mais uma vez Hollywood está sendo Hollywood.

Vida tenta, incansavelmente, reproduzir uma mistura de ficção científica com terror e suspense, porém, o filme falha miseravelmente. Além do roteiro, que é disparado o grande problema da obra, a direção não consegue encontrar o ritmo certo da narrativa e muito menos dar coesão aos elementos científicos e a crescente onde de terror – ao melhor estilo susto gratuito do cinema norte-americano. Por outro lado, Espinosa tem variações interessantes na filmagem do longa, lembrando o jogo inteligente da câmera em Gravidade (2013) de Alfonso Cuarón, além das semelhanças visuais que também chamam a atenção.

Antes de mais nada, o longa têm seus melhores momentos no primeiro ato, onde a história se apresenta à base de mistérios muito bem combinados com a ficção científica em sua essência, mas ainda assim o roteiro problemático insiste em demonstrar suas fragilidades. Isso se deve, principalmente, à participação dispensável de Ryan Reynolds, colocado na história para fazer piadas de péssimo gosto e fora de tom. Assim, Vida cria uma tremenda quebra de clima e ritmo em momentos estáveis do longa. Além disso, é aqui que diversas informações são jogadas em tela, porém, infelizmente, todas elas se tornam inúteis para o desfecho do filme – ou são simplesmente esquecidas por falta de ligação no roteiro.

Rhett Reese e Paul Wernick, os roteiristas do filme, já trabalharam juntos em outras ocasiões, mas os seus melhores desempenhos são em Deadpool e Zumbilândia, em que ambos tem sua essência debochada que não se leva a sério, e por isso deram certo. Por outro lado, o oposto acontece em Vida. A ficção científica tenta ser engraçada, tenta ser séria, tenta mesclar diversos tons de uma vez só, e o resultado final é uma bagunça de joguetes metalinguísticos feitos para agradar o grande público, excluindo tudo que havia de complexo (a parte da ficção científica) e colocando as resoluções mais banais possíveis na história – é como se uma lâmpada amarela ascende em cima da cabeça dos personagens nos momentos mais difíceis de suas jornadas.

Inconsistente, Vida é, de fato, um horror, no sentido ruim da palavra, e não no gênero cinematográfico. É engraçado notar que quanto mais grave tornam-se os problemas dentro da história, com toda a tensão da criatura repugnante e de aparência monstruosa – que visualmente tem grande influência no Xenomorfo de Alien, O Oitavo Passageiro -, os erros estruturais do longa também vão ficando mais claros e intensos. Os personagens, nitidamente, não pensam, e a maioria das suas respectivas atitudes parecem as resoluções mais preguiçosas que o roteiro poderia optar em fazer.

Visualmente, Vida consegue achar algo confortável e aconchegante aos olhos do público, porém, é óbvio que tudo ali já foi visto em outro lugar. Assim, e com boas pretensões, o filme não demonstra nenhum tipo de personalidade – mesmo fazendo referências respeitosas, e escancaradas, ao Alien de 1979 -, parecendo, muitas vezes, que o longa não tem voz ativa sobre a sua própria história. Com isso, todos os seus problemas culminam em uma cena final desastrosa, em que tudo vai por água abaixo – principalmente a direção. Vida é assim, se o filme de Daniel Espinosa começou subindo promissoramente, depois ele passou a descer de forma desastrosa até cair por terra.

Avaliação

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