A história de Christian Grey e Anastasia Steele chegou ao fim, e é um alívio. A qualidade de Cinquenta Tons de Liberdade como obra cinematográfica, ou como a tentativa de uma, é novamente péssima, mas existem acertos dentro disso. O principal deles é a aceitação. O filme, diferente dos anteriores, entende que é brega, cafona e sabe a galhofa que pode proporcionar ao espectador. Assim, ao invés de se tornar uma história ruim e difícil de assistir, o longa consegue fazer com que suas precariedades tornem-se divertidas durante a projeção.

Uma das principais provas de que Cinquenta Tons de Liberdade é um filme consciente daquilo que ele realmente é, são algumas cenas com piadinhas dos protagonistas. Os atores, Jamie Dornan e Dakota Johnson, claramente estão se divertindo em cena com os espalhafatos absurdos que saem da boca dos seus personagens. Apesar disso, é preciso reconhecer que novamente o roteiro é largado e raramente apresenta alguma lógica (um exemplo é quando Christian Grey diz estar procurando Anastasia quando ele estava vendo algo para comer na geladeira).

Aqui, o erotismo das cenas masoquistas bizarras dá um pouco de espaço para cenas mais romantizadas e sensuais (agora com certa nudez, mais feminina do que masculina), mas a química inexistente de ambos os protagonistas elimina qualquer chance disso ser algo positivo dentro do filme. Cinquenta Tons de Liberdade nada mais é do que o ato final de um conto de fadas contemporâneo ilógico, em que o amor entre os dois nunca se justifica – afinal é difícil acreditar que uma mulher realmente ame um homem inseguro, ciumento, possessivo e com desejos sexuais doentios.

Contudo, é possível tirar algumas gotas de leite desse pedregulho. Durante a projeção, Anastasia leva para as telas uma discussão interessante sobre o assédio, a investigação do crime e a constante culpa atribuída a vítima e não ao assediador. Por mais que no filme fique evidente que ninguém acredita no vilão atribuído, é interessante que mesmo um roteiro tão fraco ainda consiga trazer esse tipo de questão.

Cinquenta Tons de Liberdade é de longe o filme menos pior da trilogia, e os méritos de tal feito são do próprio filme que não se leva tão a sério como os dois anteriores. Aqui, novamente, os personagens tem um desenvolvimento desleixado, o roteiro simplesmente esquece de subtramas iniciadas e as deixa sem ao menos um pequeno desdobramento. O mesmo também se repete com o vilão, que tem uma motivação páfia e de péssimo desenvolvimento – na verdade, era algo que a trilogia deveria ter trabalhado desde o primeiro filme, ao invés de usar isso somente agora para trazer alguma ameaça para a relação de Christian e Anastasia.

Com James Foley de volta a direção, Cinquenta Tons de Liberdade é completamente mecânico, da atuação até a narrativa. A história novelesca vende para o espectador alguns momentos de um romance utópico da burguesia, com mansões, rios de dinheiro, jatinho particular, vestidos e jóias caras, carros de luxos e tudo o que uma parcela pequena da sociedade pode comprar. Fora isso, Cinquenta Tons de Liberdade encerra sua trilogia com mais um filme de baixa qualidade, mas isso pode se tornar algo bastante divertido na tela do cinema se o espectador também aceitar o ridículo.

Avaliação
Avaliação: Ruim
3.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.