Há algo que A Maldição da Casa Winchester faz de diferente quando sua história começa: o clima do início do século passado dá um tom fantasioso a narrativa, que vai se mostrando interessante na película. Mas elas, a narrativa e a história, rapidamente se encaminham a tudo de mais genérico que o filme poderia fazer – ou que o terror, hoje, consegue apresentar. Helen Mirren, o nome mais forte da divulgação, nem protagonista é, ao invés dela, a história acompanha de perto o Dr. Eric Price, vivido por Jason Clark.
A trama se baseia na junção de diversos estereótipos do terror e do gênero sobrenatural – traz um descrente que é forçado a acreditar no pós-vida e em fantasmas, uma casa amaldiçoada onde coisas estranhas acontecem, uma pessoa que se comunica com o mundo sobrenatural, uma criança possuída e tudo mais que se possa imaginar. Na primeira meia hora, a ambientação que o filme levada à película continua interessante. Eric Price se aventura pelos corredores da Mansão Winchester com a mesma curiosidade do público, e é aí que o filme consegue alguns pontos altos ao ser, sim, bastante macabro e até mesmo assustador.
Contudo, não demora muito para que todo o tom misterioso que ronda os terrores da casa serem desmistificados e transformados em algo genérico, segmentado para o grande público – que já assistiu esse tipo de filme outras diversas vezes, e certamente vai continuar vendo. Helen Mirren surge aqui como Sarah Winchester e o filme se encarrega de dar um tom mítico a personagem – assim como toda a lenda que cerca o histórico da casa mais assombrada dos Estados Unidos – indo de acordo todo o mistério que paira pela história no início do longa.
A personagem de Helen Mirren também não traz nenhuma novidade na forma como é escrita e apresentada para o público. A impressão que fica mais latente ao longo da projeção é que os Irmãos Spierig tinham dois caminhos para seguir com o filme – um mais profundo, obscuro e menos condensado (tendo o ótimo Os Outros, por exemplo, como uma boa referência), e outro direcionado ao cinema pipoca que todos já viram -, e eles acabaram escolhendo o mais fácil e sintético.
A Maldição da Casa Winchester erra antes mesmo de tentar acertar, a história é rasa em tudo que se pode imaginar, mas mostra muitas vezes que tinha potencial para ser algo melhor e, principalmente, diferente. A direção dos Spierig também não tenta inovar, os tradicionais jump scare funcionam no começo, quando tudo se trata de uma espécie de exploração, mas isso perde a graça quando o filme descobre que existe um chefão de vídeo game para ser derrotado no ato final. Assim, a fantasia mítica inicial abre espaço para um filme escandaloso, previsível e enfadonho.
Os Irmãos Pierig fazem um filme de escolhas, aqui infelizes, que tem valor de entretenimento, porém, o resultado final é esquecível e perturbador – no sentido ruim da palavra. Helen Mirren, renomada atriz, vencedora de um Oscar por uma das atuações mais icônicas da sua carreira, se rende a um papel sem sal, e seguindo o filme, bastante genérico. Jason Clarke, ao contrário da atriz, adiciona mais um papel fraco a carreira – sem surpresas. A Maldição da Casa Winchester não se arrisca a fazer o diferente, e entrega um feijão com arroz quase sem tempero.