É um mundo diferente, este que vemos em Homem-Aranha: Longe de Casa. A terra é vista com novos olhos, pois o que acontece entre Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato tem reverberação na nova história do Cabeça de Teia. Assim, a Marvel constrói de imediato uma nova característica, bem-vinda, aos seus filmes – ou seja, a presença da consequência faz diferença.
Longe de Casa não apenas afasta o teioso da Queens (NY), como também o tira de uma possível zona de conforto: Peter Parker (Tom Holland) parte de ajudante de Tony Stark em Guerra Civil e de Amigão da Vizinhança em De Volta ao Lar para um dos principais heróis da terra em Guerra Infinita e Ultimato. E com a morte de Tony, o Homem-Aranha muda o status de pupilo do Homem de Ferro para a nova principal esperança.
Esse fardo, que caiu naturalmente sob os ombros do Homem de Ferro há mais de 10 anos, pesa em cima do herói adolescente. O conflito ganha camadas ao longo de Far From Home (título original), dando um desenvolvimento importante para Peter Parker dentro do Universo Marvel. Ter a juventude do personagem junto a do ator facilitam esse trabalho, afinal há tempo para levar o Homem-Aranha para algo maior.
Longe de Casa é um filme mais maduro que De Volta ao Lar. Lá, no primeiro longa solo do Homem-Aranha de Tom Holland, temos um filme sem tantos compromissos, que se justifica principalmente em beber da fonte primordial do Universo Marvel, com o Abutre (Michael Keaton) catando destroços dos exércitos Chitauri que invadiram Nova York em Os Vingadores (2012). Aqui, mesmo bebendo da mesma fonte (porém de fatos mais recentes), Longe de Casa trabalha também o background dos seus personagens secundários.
É um coming of age, assim como é um filme de super-herói. O roteiro tem seu principal mérito em colocar o protagonista em uma nova jornada, em prol do crescimento e amadurecimento do mesmo. Se analisado desde o princípio, o caminho percorrido pelo Aranha até aqui faz o personagem evoluir, tirando-o de um lugar e o levando para outro.
Assim como traz novas camadas para o protagonista e os seus coadjuvantes, Far From Home ainda é o início de uma nova fase para a Marvel – mesmo que seja, principalmente, um longa “a parte” do Universo. O foco, claro, está na nova história do personagem-título, mas após participar dos maiores eventos da Marvel é óbvio que o filme, mesmo assim, está entrelaçado ao que será o centro do MCU nos próximos anos.
A falta que Peter sente da presença paterna e orientadora de Tony Stark também é trabalhada, de forma eficiente, por aqui. O filme, em si, evoca um saudosismo interessante quanto a morte do Homem de Ferro e de qual rumo será seguido a partir disso – principalmente sobre quem será o novo fio condutor da Marvel agora que Stark e Rogers estão fora. Longe de Casa acerta em sensibilizar esses dilemas ao pequeno mundo do Amigão da Vizinhança.
Dar camadas para o protagonista é também prepará-lo para algo maior. Longe de Casa deixa o espectador ciente de que, vez ou outra, o garoto que vive no Queens também vai precisar salvar o mundo. O que é criado aqui, então, nada mais é do que uma grande afirmação desta nova versão do Homem-Aranha. Longe de Casa insere o personagem também em uma grande aventura, que flerta entre as responsabilidades de ser um herói com o que é a vida de um adolescente comum.
Com tanta maturidade, Homem-Aranha: Longe de Casa é ainda mais satisfatório do que o seu antecessor. Aqui, com o aumento da escala, o filme repete o que já havia dado certo e corrige o que, em parte, não funcionou tão bem. Com isso, cria-se um ambiente repleto de ação, aventura e emoção. Longe de Casa conta ainda com um vilão tão bom quanto o Abutre, embora ambos tenham motivações diferentes e ao mesmo tempo essencialmente semelhantes – Jake Gyllenhaal, assim como Keaton, faz um trabalho respeitoso como antagonista.
Homem-Aranha: Longe de Casa tira o jovem herói de um lugar e o faz subir nos degraus de uma escada que busca crescimento e amadurecimento. Com um filme ainda mais empolgante, Homem-Aranha volta a discutir dilemas sociais típicos da adolescência ao associá-los, ainda, com a vida de super-herói, dando ao personagem um retrato que reflete a época em que está inserido.