Lançado no dia 08 de dezembro pela Netflix, O Mundo Depois de Nós é o novo trabalho de Sam Esmail, diretor que se consagrou com a série Mr. Robot e tem entre os seus recentes trabalhos a antologia (uma história por temporada) Homecoming, lançada no Amazon Prime Video e finalizada ao término da segunda temporada.
Ficha Técnica
Título: O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind) Direção: Sam Esmail Roteiro: Sam Esmail (baseado no livro "Leave the World Behind", de Rumaan Alam) Elenco principal: Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke, Myha'la, Farrah Mackenzie, Charlie Evans, Kevin Bacon Data de lançamento: 08 de dezembro de 2023
A história de “O Mundo Depois de Nós“
Neste suspense apocalíptico, Amanda (Julia Roberts) e o marido Clay (Ethan Hawke) alugam uma luxuosa casa para passar o fim de semana com os filhos, Archie (Charlie Evans) e Rose (Farrah Mackenzie). Mas as férias da família são abaladas quando dois desconhecidos — G.H. (Mahershala Ali) e a filha Ruth (Myha’la) — aparecem à noite, falando sobre um misterioso ataque cibernético e buscando refúgio na casa que alegam ser deles. As duas famílias precisam enfrentar um desastre iminente que fica mais assustador a cada minuto, obrigando todos a encontrarem seu lugar neste mundo em colapso. – Sinopse oficial da Netflix.
Assista ao trailer do filme:
Crítica de “O Mundo Depois de Nós“
A técnica de Sam Esmail e sua equipe fica evidente logo no início do filme. Ângulos, enquadramentos e movimentos de câmera diferenciados enchem os olhos e conotam que O Mundo Depois de Nós não seria um filme qualquer.
Neste longa-metragem, o mistério é um dos elementos mais importantes da narrativa. Isso acontece porque tanto os personagens e quanto os espectadores trabalham com as mesmas informações, e juntos descobrem novos elementos para tentar entender o que está acontecendo.
Além disso, o filme deixa claro que os componentes de cena, ou a mise-en-scène, são utilizados para contextualizar o momento em que os personagens se encontram na história. É por isso que figuras ilustradas em quadros, como o da sala e o do quarto onde Amanda e Clay dormem, são modificados ao longo do filme.
O esforço técnico e cênico do filme não existem apenas pelos recursos que estavam à disposição ou apenas para que a estética visual fosse bonita. Estes elementos estão ali porque também precisam acompanhar a qualidade do elenco envolvido. Além de, claro, ser peça chave para a personalidade do filme em um espectro mais amplo.
Com isso, nomes como o de Julie Roberts (Amanda), Mahershala Ali (G.H.), Ethan Hawke (Clay) e Kevin Bacon (Danny) justificam em tela a harmonia entre os três pilares de O Mundo Depois de Nós: técnica, mise-en-scène e atuação. Farrah Mackenzie (Rose), Myha’la (Ruth) e Charlie Evans (Archie) também são peças chaves desta equação.
O Mundo Depois de Nós utiliza sua história para tocar em assuntos como o racismo estrutural – por exemplo, quando os personagens de Mahershala Ali e Myha’la surgem na trama -, desinformação, dependência tecnológica e o escapismo proporcionada pelo entretenimento. São muitos os temas que servem para esta narrativa, mas parece que mais uma vez – repetindo, de certa forma o que foi realizado com Não Olhe Para Cima – a Netflix tenta dar ao espectador algo para refletir.
O filme, então, utiliza a falta de informações para conduzir seus personagens e para chamar a atenção do espectador. É entendível que entregue ao público, e aos protagonistas, as informações que eles procuravam. No entanto, a obra entra em contradição ao construir uma personalidade estético-narrativa complexa e ao entregar tudo de mão beijada para o espectador – que, por sua vez, não precisa necessariamente acreditar na resposta.
Ao longo do filme, o público foi instigado a tentar adivinhar o que estava acontecendo. Porém, independente de ter acertado ou não, o espectador não teve o prazer de teorizar muito sobre o que estava acontecendo. Sam Esmail mastiga as informações e entrega-as ao espectador. A brincadeira, que até então era divertida, pareceu acabar cedo demais.
No entanto, há uma outra forma de ler o que acontece no final deste filme. Os últimos minutos entregam respostas para as perguntas dos personagens. Eles, por sua vez, entendem que a única pessoa que se preparou para aquele momento (Danny, interpretado por Kevin Bacon) certamente deve saber o real motivo do que está acontecendo. Por isso, tomam aquilo como verdade. Mas o fato é que: histórias apocalípticas como essa dificilmente entregam uma resposta absoluta para o problema.
A partir deste cenário, o que é mais importante: decifrar os símbolos e descobrir o que realmente aconteceu ou entender o que há nas entrelinhas de tudo isso? O cinema costuma entregar ao público uma experiência, que pode ser sobre a história e o que acontece nela. Em outros casos, o espectador é impactado por algo que vai além daquilo que é visto, e mais do que consumir a trama de uma obra esse indivíduo tende a interpretá-la.
Em rodas de conversa é divertido teorizar sobre o que pode ter acontecido em um filme como O Mundo Depois de Nós. No entanto, o grande barato dessa história está naquilo que se pode interpretar sobre ela. O Mundo Depois de “Nós” é um filme pertinente, que no fim das contas mostra o quão autodestrutivos são os seres humanos e o quão incontroláveis as suas criações podem ser.
Além disso, fala da relação de dependência com a tecnologia, mas não apenas sobre utilizá-la para tornar a vida mais fácil. O diálogo é sobre ela ser também uma garantia da felicidade – quando Rose precisa da felicidade do último episódio de Friends -, ou quando ela revela nossa perversidade quando Archie tira fotos de Ruth de biquini.
O fato é que O Mundo Depois de Nós é sobre os seres humanos.
