Guerra Civil
Kirsten Dunst como Lee Smith em cena do filme 'Guerra Civil'. | Imagem: Reprodução / TMDb.

Escrito e dirigido por Alex Garland e com produção da A24, Guerra Civil chega aos cinemas como um road movie cuja história mostra o cenário de um conflito civil nos Estados Unidos da América. O longa-metragem é protagonizado por Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny.

Ficha técnica:

Título: Guerra Civil (Civil War)
Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Elenco principal: Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny
Data de lançamento: 18 de abril de 2024 (nos cinemas brasileiros)

A história de ‘Guerra Civil’

Em um futuro distópico, um grupo de jornalistas percorre os Estados Unidos durante um intenso conflito que envolve toda a nação.

Assista ao trailer do filme:

Crítica de ‘Guerra Civil’

Produzido pela A24 – estúdio queridinho do cinema cult contemporâneo -, Guerra Civil, dirigido por Alex Garland, é um dos títulos mais interessantes do primeiro semestre de 2024. Estrelado por Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny, o longa-metragem se apoia na distopia para construir cenários possíveis.

Partindo de uma terceira reeleição do presidente dos Estados Unidos, Guerra Civil cria o cenário definido pelo próprio título como resposta ao ato da figura presidencial. Essa história, ao invés de ser um espetáculo sobre guerra, é contada a partir da perspectiva de um grupo de jornalistas que trabalham para uma agências de notícias.

Ao colocar o jornalismo e a ética destes profissionais no campo, Guerra Civil toma a isenção como discurso, contrariando o seu pano de fundo que tem lados expostos e condizentes com o cenário político estadunidense – que é dominado pelos partidos de direita e extrema direita.

O jornalismo tem como função primordial o dever de informar. Além disso, cumpre o importante papel de documentar a história, ou seja: a notícia de hoje ajudará a construir os livros de história do amanhã. Tendo esta ideia como ponto de partida, uma das formas de realizar essa função é através da imagem.

A partir disso, entram em campos as lentes da renomada fotojornalista Lee Smith, vivida por Kirsten Dunst. A protagonista tem no currículo a cobertura de conflitos civis e guerras pelo mundo. Com ela trabalha o repórter Joel, interpretado pelo brasileiro Wagner Moura.

Guerra Civil
Cailee Spaeny como Jessie em cena do filme ‘Guerra Civil. | Imagem: Reprodução / TMDb.

Entre amigos de longa data e batalhas nas ruas, a dupla conhece a aspirante a fotojornalista Jessie (Speany). Acompanhados, ainda, pelo experiente Sammy (Stephen Henderson) – um dos remanescentes do The New York Times. O quarteto segue para Washington em busca de uma entrevista com o presidente dos Estados Unidos. A ideia, é conversar com o político antes que ela seja derrotado pela resistência.

Guerra Civil não faz nenhum juízo de valor sobre o que está acontecendo nesta distopia de cenários possíveis. Com isso, o diretor e roteirista Alex Garland estabelece facilmente suas ideias na narrativa do longa-metragem.

Embora seja embalado como um blockbuster de ação – e até certo ponto entregue isso ao espectador -, Guerra Civil é diferente desse conceito. A A24, responsável pela produção, investiu cerca de US$ 50 milhões para realizar o filme – valor bastante alto para um estúdio independente.

Na tela do cinema é possível notar o refino técnico da obra. Alex Garland traz este empenho em sua filmografia, sobretudo nos recentes Men – Faces do Medo (2022), Aniquilação (2018) e Ex_Machina: Instinto Artificial (2015). Em Guerra Civil, o diferencial está principalmente no som.

A história é interessante por si só, mas torna-se mais imersiva quando o diretor entende a importância das sonoridades e dos silêncios para construir o peso do que acontece em tela. O estrondo das bombas e as sequências intermináveis de tiros ao fundo da jornada do grupo de jornalistas impressiona, mas o silêncio é catártico e embala as cenas mais impactantes do longa-metragem.

Guerra Civil
Cailee Spaeny e Kirsten Dunst como Jessie e Lee Smith em cena do filme ‘Guerra Civil’. | Imagem: Reprodução / TMDb.

O diretor Alex Garland, e seu fotógrafo Rob Hardy, entendem que visualmente apostar no simples é o melhor caminho. Os ângulos e enquadramentos preenchem na tela os principais pontos de interesse destes aspectos – deixando evidente a informação visual mais importante de cada cena. A precisão com que a dupla executa o simples dá para Guerra Civil uma beleza devastadora.

A fotografia (imagem sem movimento) ainda é usada para reafirmar o ponto de vista dos jornalistas que conduzem a história. Desta forma, o longa-metragem registra o conflito sem necessariamente mostrá-lo enquanto as lentes dos personagens fazem o retrato que permanecerá de tudo aquilo que está acontecendo.

Enquanto exibe os grandes cenários, Guerra Civil não deixa de mostrar o quanto isso afeta seus personagens. A prática conversa com a realidade, pois a figura de um jornalista é moldada através das suas experiências.

A partir disso, o filme entende que o passado torna estes personagens o que são em tela. No entanto, Guerra Civil não deixa de acrescentar mais camadas com as experiências traumáticas vividas por Lee, Joel, Jessie e Sammy no caminho até a capital dos Estados Unidos.

Apesar de ter a pompa de um blockbuster de ação, Guerra Civil é uma mistura bem elaborada de road movie com thriller político. A ação é substituída por adrenalina e terror a partir do momento em que seus personagens são constantemente confrontados pelo que encontram no seu caminho.

Os embates são, sobretudo, simbólicos por serem o que são. Uma das cenas mais impactantes e duras deste filme está presente no material de divulgação.

Guerra Civil
Cailee Spaent como Jessie em cena do filme ‘Guerra Civil’. | Imagem: Reprodução / TMDb.

O confronto entre os jornalistas e soldados de um dos lados da resistências é emblemático ao deixar evidente os problemas da polarização que afeta os Estados Unidos – e outros países, como o Brasil. “Que tipo de americano você é?”, indaga o personagem de Jesse Plemons ao grupo de jornalistas. Essa cena, além de explicar muito com pouco, traz o ponto alto da performance de Wagner Moura.

Kirsten Dunst não fica por menos ao carregar uma personagem que demonstra o peso das experiências da cobertura de conflitos pelo mundo. O contraponto, porém, é Jessie (Spaeny) que é desenvolvida como uma espécie de nova versão destes personagens mais experientes.

O diretor Alex Garland traz em Guerra Civil um olhar que busca a imparcialidade, mas sem deixar de entender o que está acontecendo no cenário político e nas dinâmicas sociais dos Estados Unidos nos últimos 15 anos.

A crescente do movimento da extrema-direita, sua relação com a supremacia, o nacionalismo e os constantes ataques a imprensa são temas que aparecem no filme. Por outro lado, há também a tentativa de humanizar os jornalistas ao mesmo tempo em que evidencia-se a relevância do trabalho executado por eles – em especial, na cobertura e documentação histórica de conflitos políticos contemporâneos.

Guerra Civil
Wagner Moura como Joel em cena do filme ‘Guerra Civil’. | Imagem: Reprodução / TMDb.

Embora alinhado com a fotografia, e procurando constante amparo neste recurso, Guerra Civil encontra sua potência na catarse sonora que constrói. A imersão das cenas mais emblemáticas adicionam elementos interessantes ao que poderia ser um simples road movie. O filme, no entanto, se demonstra mais potente do que uma simples história de estrada.

Com uma temática ousada, meses antes da eleição presidencial dos Estados Unidos, Guerra Civil usa um cenário imaginário para falar sobre o momento político do país a partir do aumento da polarização que precedeu a eleição de Donald Trump.

Apesar de não tomar partidos na discussão, Alex Garland mostra o que compõe ideologicamente os lados do conflito criado para o longa-metragem. Contando com com atuações marcantes do grupo de protagonistas, Guerra Civil se difere de blockbuster de ação e thrillers políticos comuns pelo tema, abordagem e perspectiva particulares.

Guerra Civil é pertinente como a arte do cinema deve ser.

Avaliação
Ótimo
8.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.