Alex Garland não esconde que Aniquilação, mesmo sendo uma adaptação, tira inspiração de clássicos da ficção científica e de filmes recentes do gênero. O novo longa do diretor de Ex_Machina: Instinto Artificial (2014), vai longe em seus questionamentos, mas baseia sua ideia primordial em uma frase simples e muito conhecida: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” – dita pelo pelo cientista francês Antoine-Laurent de Lavoisier.

Garland traz, em Aniquilação, uma ficção científica enraizada no tom questionador e na abordagem pragmática do gênero. A narrativa bem trançada, apresenta a história no presente e nos passado, desde que algo caiu na Terra e criou o chamado Brilho, uma espécie de redoma alienígena que se instala em determinada localização e se “alimenta” de tudo que está a sua volta.

Aniquilação parte dos princípios básicos de investigar o que é o tal Brilho, enviando equipes de soldados que nunca retornam, até que cinco mulheres (três cientistas, uma psicóloga e uma paramédica) adentram no local. O filme se desenvolve em um senso comum para se estabelecer. A história é apresentada com toques de mistério, pois quem assiste não sabe exatamente do que se trata. Porém, desde os seus primeiros minutos é possível perceber que o longa abordará sua história de forma pessoal e bastante dramática, centralizando a trama em Lena, a personagem de Natalie Portman – fazendo algo bastante parecido com o que Denis Villeneuve levou aos cinemas em 2016 com A Chegada.

Portman e suas motivações, então, passam a ser o fio condutor de Aniquilação, pois tudo gira em torno dela. Ao colocar as personagens dentro do Brilho, Garland não perde tempo e sabe desenvolver bem a narrativa. Suas inspirações retiradas de Alien – O Oitavo Passageiro (1979), do recente Prometheus (2012) e até mesmo de Apocalypse Now (1979), ao retratar uma equipe em busca do desconhecido evidenciando como isso mexe com a mente de cada uma delas, cai bem para o que o diretor quer atingir.

Aos poucos, Aniquilação envolve o espectador no seu ritmo perfeitamente ajustado e com uma trama bem movimentada. O vai e volta no tempo não compromete a experiência, a narrativa consegue deixar explícito onde cada uma das cenas se encaixam na linha do tempo que aos poucos vai se organizando e formando um quebra-cabeças não subjetivo. Na verdade, essa narrativa traz uma falsa complexidade, fazendo o espectador sentir-se interessado e intrigado com tudo que se desenvolve na tela.

A intenção de Alex Garland em fazer um filme de fácil entendimento deixa o público, em um contexto geral, despreparado para o momento mais importante do longa. Os últimos trinta minutos são diferentes de tudo aquilo que o filme havia apresentado, mas não destoam em essência do que o filme já estava dizendo com todas as mudanças biológicas que aconteciam dentro do Brilho. Mas o ato final alcança um nível superior, se assemelhando a uma pirotecnia muito similar ao que Christopher Nolan fez em Interestelar (2014). No entanto, Aniquilação se trata, essencialmente sobre existir, logo viver, em constante mudança e replicação.

Aniquilação faz o impossível se tornar crível aos olhos do seu espectador. Alex Garland é habilidoso e um nome a ser acompanhado. O filme é levado por uma trilha sonora que flerta muito bem com a ficção científica, ao mesmo tempo em que consegue ser mais despojada para dizer que, no fim das contas, tudo aquilo não é mais cabeçudo do que aparenta ser. Natalie Portman traz uma protagonista não tão profunda quanto os seus questionamentos, mas com todo seu talento ela consegue andar lado a lado daquilo que o filme lhe pede. Visualmente, Aniquilação encontra boas soluções para as suas exigências e dá, ainda, um tom lúdico que enche o Brilho de personalidade.

O final é subjetivo e totalmente interpretativo, porém, muito bem estabelecido pelo diretor. Tudo o que acontece é absoluto, mas a sua interpretação, contudo, não é. O que o espectador pode tirar do momento em que uma pequena gota de sangue sai da face de Lena e vai adentrando aquela espécie de célula gigantesca, é muito mais pessoal do que se imagina. O Brilho, essencialmente, é um composto orgânico parasitário com a função de transformar outros compostos, aos mesmo tempo em que ele simboliza a vida em sua natureza mais primordial e irracional.

Avaliação
Avaliação: Muito bom
8.5
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.