Alien: Romulus
Cena do filme 'Alien: Romulus'. | Crédito: Reprodução / TMDb.

Depois de sete anos, a série de filmes Alien está voltando aos cinemas com um novo capítulo, Alien: Romulus. Dirigido pelo cineasta uruguaio Fede Álvarez (A Morte do Demônio e O Homem nas Trevas), o longa-metragem apresenta uma história audaciosa ao ser uma continuação direta de Alien, o 8º Passageiro (1979).

O novo filme se passa entre o clássico e sua até então continuação, Aliens: O Resgate (1986). Em Alien: Romulus, um grupo de jovens busca por um futuro melhor e resolve se aventurar nas profundezas de uma estação espacial até então abandonada. No local, descobrem uma forma de vida aterrorizante que os força a lutar por suas vidas.

Fede Alvarez, que também é co-autor do roteiro, propõe algo novo para a franquia ao resgatar as origens de Alien, o 8º Passageiro. Diferente de filmes como Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017) que tentam evocar questões filosóficas e que visualmente se distanciam do filme de 1979, Alien: Romulus retoma o design e o aspecto sujo do clássico da década de 1970.

Desta forma, o longa referencia a obra original, admitindo que é necessário uma série de repetições para que Alien: Romulus seja parte da franquia. Embora não siga literalmente as dinâmicas de grupo, o filme estabelece seus personagens com facilidade e entende que não precisa dar profundidade a todos eles.

Depois de 45 anos, o cinema já assentou representações e funções narrativas para personagens deste tipo de filme. Muito disso se deve ao próprio Ridley Scott que com o longa-metragem de 1979 e ao lado de títulos como Halloween – A Noite do Terror, lançado um ano antes, ajudou a estabelecer estas ideias.

Alien: Romulus
Cailee Spaeny como Rain em cena do filme ‘Alien: Romulus’. | Crédito: Reprodução/TMDb.

Por outro lado, diferente das preocupações científicas dos filmes mais recentes da franquia, Fede Alvarez insere problemáticas sociais ao passar rapidamente por uma das colônias humanitárias espalhadas pelo universo. Por óbvio, mesmo se tratando de um terror, Alien: Romulus não deixa sua vertente científica de lado, mas só usufrui dela a partir do momento em que narrativamente ela se faz necessária.

É neste momento que Alien: Romulus pode se tornar um divisor de águas. Isso porque o filme tem a proposta ousada de ser uma sequência direta de Alien, o 8º Passageiro. Com isso, além de criar conexões francas com o clássico, Alvarez retoma conceitos recentes apresentados em Prometheus e Alien: Covenant.

Ou seja, o novo filme depende de ideias apresentadas nos chamados prequels (Prometheus e Covenant), assim como da história apresentada no clássico de 1979. No entanto, além de beber destas fontes, o longa-metragem assume o risco de preencher lacunas destas histórias e complementando o que já existia.

As ambições de Alien: Romulus não se esquivam de discutir novamente a presença dos androides programados por inteligência artificial. Andy, interpretado por David Jonsson, está próximo da imperfeição e não esconde sua consciência disso.

O filme também apresenta uma nova proposta sobre o relacionamento dos humanos com os seres artificiais. Rain, vivida por Cailee Spaeny, trata a máquina como um irmão, dando a este elo um caráter afetivo.

Alien: Romulus
David Jonsson como Andy em cena do filme ‘Alien: Romulus’. Crédito: Reprodução/TMDb.

Como parte do resgate promovido pelo diretor, Andy acaba transitando em diferentes performances durante o filme. Com isso, além de apresentar o novo, Alvarez também recorre ao passado para usar o personagem de acordo com as necessidades da nova obra.

Com Alien: Romulus, Alvarez mostra que sabe em que território está pisando. O diretor demonstra um claro entendimento de como fazer um bom filme e de como executar uma boa peça da franquia Alien. Desta forma, mais uma vez, o cineasta uruguaio monstra sua habilidade com o terror – experiência que é potencializada com o uso do som, desde a trilha composto por Benjamin Wallfisch até o desenho de som.

Dentro de tantos temas envolvendo esta obra, o diretor encontra espaço para o ressurgimento do Xenomorfo na tela do cinema. Assim como o longa-metragem de 1979, Alien: Romulus devolve a criatura sua imponência icônica. O Xenomorfo, mais uma vez, representa um grande perigo, e embora caia em maneirismos tradicionais dos blockbusters hollywoodianos, ganha neste filme uma das suas grandes representações.

Este resultado é atingido também pelo desempenho de Cailee Spaeny, que encontra em Rain o seu segundo grande papel de 2024 – a atriz é uma das protagonistas do longa-metragem Guerra Civil. Ela e David Jonsson apresentam as performances mais interessantes do filme – e são deles os personagens com mais camadas desenvolvidas na obra.

É importante ponderar que no momento em que Rain assume o protagonismo da trama, Alvarez foge de qualquer reinterpretação de Ripley, a icônica personagem de Sigourney Weaver. Speaney vive uma personagem nova, diferente, mas que assim como tantas outras final girls encontra em Ripley uma de suas principais referências.

Alien: Romulus
Cena do filme ‘Alien: Romulus’. Crédito: Reprodução/TMDb.

Ao englobar todos estes pontos, Alien: Romulus deixa evidente as aspirações pretendidas e atingidas pela ambiciosa história deste novo filme – assim como as reverências de um fã (Fede Alvarez) que tem a oportunidade de dar continuidade a este legado.

Alien: Romulus arrisca tanto quanto acerta ao mirar em um resgate de elementos essenciais de Alien, o 8º Passageiro. Com isso, o longa-metragem sustenta sua proposta na mitologia da franquia, que foi estabelecida pelo filme de 1979 e seus derivados, sem ficar escondido na sombra do clássico.

Neste novo capítulo, Fede Alvarez encontra espaço para expandir o diálogo sobre um universo controlado por uma grande corporação, cujas tecnologias foram criadas para atender os próprios interesses. Alien: Romulus não se contenta com um mero resgate da franquia e traz o melhor de Alien de volta para as telas dos cinemas.

Avaliação
Ótimo
8.0
COMPARTILHAR
Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.