Em 2024, Longlegs – Vínculo Mortal levou o público para as salas de exibição com a promessa de apresentar Nicolas Cage de uma maneira jamais vista. Agora, em 2025, o diretor Osgood Perkins tentará levar para os cinemas os curiosos que querem entender o que há de especial em seu novo filme: O Macaco.
Figurinha carimbada em listas de início de ano ao estilo de “filmes de terror mais aguardados de 2025”, O Macaco simula uma mistura de Annabelle e Premonição, mas com a autenticidade de Osgood Perkins. O novo filme do diretor nova-iorquino é baseado no conto homônimo de Stephen King que integrou “Skeleton Crew”, coleção de contos do autor publicada em 1985.
A história acompanha os gêmeos Bill e Hal, vividos por Christian Convery e Theo James, que encontram um suposto brinquedo de um macaco que toca percussão. No entanto, cada vez que alguém dá corda no objeto, uma série de mortes estranhas e sanguinolentas é desencadeada. Por isso, os irmãos resolvem trancar o macaco em um poço e seguir em frente com as suas vidas.

O primeiro acerto de O Macaco é não perder tempo com explicações. Não buscar entender o porquê do objeto ser amaldiçoado e como isso aconteceu, evitam que o longa-metragem caia nos maneirismos mais básicos de filmes de possessão demoníaca.
Desta forma, O Macaco apenas aceita e entende que o mecanismo do objeto é simples: quem der corda no brinquedo o fará tocar suas baterias e sempre que isso acontece, alguém morre de um jeito estranho. Se o treco amaldiçoado lembra a boneca Annabelle (e qualquer outro artefato semelhante capaz de realizar assassinatos), por outro, as mortes sanguinolentas e bizarras realçam o estilo Premonição – que em 2025 ganhará um novo filme.
A franquia Premonição, aliás, nunca se levou a sério, mas também nunca debochou de si mesma. Com isso, Osgood Perkins entende que a história que tem em mãos é tão absurda que é impossível encará-la com seriedade. Não há humor escrachado e pedante no longa-metragem, mas suas artimanhas macabras diante do absurdo são capazes de provocar boas risadas.
Neste sentido, a sequência de abertura do filme, que tem a participação ilustre de Adam Scott (da série Ruptura), dita o tom de tudo o que virá depois. São essas as cenas, inclusive, que deixam a impressão de que um filme diferente dos demais está começando.
As mortes estranhas, o narrador onisciente e o ritmo envolvem no começo. Enquanto o filme dá os seus primeiros passos em tela, a trama se mostra irreverente, de certo modo, por conta do humor macabro. Desta forma, Osgood Perkins emanava um longa-metragem autêntico, inventivo e cheio de personalidade.

O elenco jovem e a dinâmica dos irmãos favorecem o desenrolar da história no começo. A personalidade retraída de um e a marrenta do outro são pontos essenciais para conquistar a empatia e o interesse do espectador. A participação afetuosa de Tatiana Maslany (O Que Te Faz Mais Forte) também contribui neste sentido.
Com esta dinâmica estabelecida, o diretor, que também assina o roteiro da adaptação, entende que os traumas das versões jovens de Bill e Hal moldam suas personalidades e ações no futuro. Quando o filme chega na fase adulta dos gêmeos, é justamente isso que acontece com duas pessoas totalmente afetadas pelo passado que carregam.
Embora Perkins tenha êxito ao construir a estrutura básica da história, é na hora de dar sequência a isso que o diretor perde a mão. A narrativa autêntica estabelecida por ele se desgasta enquanto o filme repete a si. Ao invés de continuar em suas invenções, o diretor busca por uma auto superação.
Neste sentido, O Macaco se torna uma competição para saber qual a morte mais absurda: a que aconteceu ou a próxima? Não há problema, é verdade, pois o filme garante a diversão do começo ao fim. No entanto, o fator surpreendente do começo se desgasta até o final.

Ainda assim, O Macaco é um refresco para quem gosta de terror. Osgood Perkins realiza em seu novo filme uma obra absurda e deliciosa, que encontra no humor macabro o seu principal alicerce. Embora possa divertir, não dá para ignorar que o filme aborda relações familiares traumáticas e como elas afetam o futuro de quem as viveu.
O Macaco é um filme de terror “b” na classe “a”, ou seja, embora tenha traços de uma obra de qualidade duvidosa, o que realmente é entregue para o espectador é um bom filme de terror. Theo James (o Quatro da franquia Divergente), que vive as versões adultas de Bill e Hal parece ter encontrado em papéis humorados um caminho interessante para o seu estilo de atuação.
Com Osgood Perkins realizando um filme que é totalmente o oposto de Longlegs, O Macaco não sustenta o rótulo de melhor terror do ano. No entanto, talvez ele esteja entre os que certamente podem garantir uma boa e divertida experiência para o seu público-alvo: amantes de terror que nem sempre querem um filme sisudo sobre possessão demoníaca.

