
A frase “ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar o vilão” sintetizou boa parte do que viria acontecer em Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008). De certa maneira, Wicked: Parte II se apodera desta suposta máxima ao colocar Elphaba (Cynthia Erivo) no lugar de ser aquilo que Oz precisava. Com isso, a conclusão da história iniciada em 2024 propõe ao público uma jornada dramática que deixa de lado parte da sua leveza para assumir camadas mais profundas.
Com uma elipse entre os filmes, Wicked: Parte II começa com Elphaba e Glinda (Ariana Grande) em lados opostos. A chamada Bruxa Má do Oeste está estabelecida pelo Mago (Jeff Goldblum) como uma terrível vilã. Enquanto isso, Glinda é cada vez mais importante no que o governo de Oz divulga como o verdadeiro bem. Assim como foi na parte final do primeiro longa-metragem, a conclusão da história baseia-se em uma constante guerra de narrativas.
Embora seja pintada como vilã, Elphaba segue lutando contra o Mágico de Oz e seus aliados para revelar a verdade sobre o governante e para libertas as pessoas e animais dessa rede de mentiras. Por outro lado, Glinda continua dividida entre ser e ter aquilo que sempre sonhou e a preocupação com a única amiga de verdade que já teve.
A segunda parte de Wicked é beneficiada por tudo que fora estabelecido no filme lançado em 2024. Conflitos, motivações, construções de personagens e do mundo de Oz. Para encerrar a história, restava dar continuidade as consequências do que havia acontecido nos momentos finais do longa-metragem anterior. Desta forma, sabiamente, Wicked: Parte II entende a necessidade de ser mais sério e de tratar de questões mais densas da história.

Na prática, a Parte II demonstra identidade, se mantendo fiel às origens mais leves enquanto busca equilíbrio com o novo tom. Desta maneira, a história escrita por Winnie Holzman e Dana Fox faz sentido quando pensa-se na forma em que é contada. Além disso, o direcionamento para satisfação dos fãs fica evidente em tela.
Com momentos engraçados para divertir o público, Wicked: Parte II procura por diferentes resoluções ao longo da sua projeção. Enquanto o ambiente em Oz segue tumultuado, a história adiciona pouco a pouco um crescente senso de urgência e gravidade ao tom da narrativa. Em quase toda a trama, o filme consegue manter-se coerente dentro da própria construção, principalmente quando resolve colocar à prova a amizade entre Elphaba e Glinda.
A dupla de protagonistas, seja pelas personagens e suas camadas ou pela atuação das atrizes, é o que há de melhor na segunda parte de Wicked. São nas canções interpretadas pela dupla que Parte II encontra sua base mais consistente. Embora menos grandiosas e icônicas do que no primeiro filme, as músicas seguem como recursos importante da narrativa.
Representando sentimentos, intenções e ajudando a história avançar, Wicked: Parte II, como musical, tenta repetir a própria fórmula ao criar apresentações envolventes. Além disso, são as músicas que entregam ao filme os seus contornos mais dramáticos, principalmente quando os personagens colocam para fora as suas angústias ou quando são colocados frente a frente para travarem seus embates.

No meio disso tudo, Wicked: Parte II consegue tornar seus coadjuvantes figuras mais relevantes para a história. Isso acontece também porque parte da trama dedica-se a criar parte do que virá a ser O Mágico de Oz. Não se trata de uma abertura para que este filme seja uma espécie de primeiro passo de um novo remake, mas sim das ligações cronológicas necessárias para concluir a trajetória destas protagonistas.
Neste aspecto, a segunda parte Wicked começa a demonstrar suas fragilidades. Embora tenha se destacado em 2024 pelo forte subtexto, o longa-metragem de 2025 se distancia um pouco dos significados que tenta carregar. É nesse momento, ainda, que o filme corre mais do que deveria. São cerca de 30 minutos a menos em relação ao primeiro filme que deixam a sensação de que a história pouco aproveita o peso daquilo que constrói para que consiga, logo, encerrar a si mesma.
Embora tenha esta turbulência de consequências ininterruptas, Wicked: Parte II procura finalizar a duologia com grandiosidade. Discutindo temas mais íntimos de cada personagem, a história tem como centralidade a transformação e o amadurecimento de Glinda. Não se trata de uma alusão ao coming of age, como foi o filme de 2024, mas de uma assimilação madura do que estava acontecendo.
Com isso, dramaticamente, Wicked: Parte II exige mais de Ariana Grande, que ao lado da face caricata de sua personagem consegue acrescentar a própria atuação o peso da jornada de Glinda. Cynthia Erivo, que foi uma força da natureza no primeiro filme, entrega mais uma atuação poderosa. Por traz das reações ferozes de Elphaba diante das injustiças que lhe perseguem, está uma figura amável que quer fazer o que é certo e está disposta a sacrificar-se pelo bem que acredita ser maior.

Wicked: Parte II, mesmo cometendo deslizes, têm como trunfo a relação de carinho e contrastes das personagens que são colocadas para entenderem quem são, o que querem ser e o que devem fazer. Além disso, a direção de Jon M. Chu sabe criar momentos de espetáculo, aproveitando a grandiosidade ou a simplicidade do que está acontecendo. Embora o senso estético tente privilegiar o visual, o olhar do cineasta procura pelo significado inerente do fato.
Com isso, Wicked: Parte II tenta causar frisson na audiência aproveitando o laço emocional entre fãs e personagens. Quem já havia gostado do primeiro filme, pode aproveitar da mesma maneira o segundo. Conversando com dilemas do mundo atual, a segunda parte da história não esconde que naturalmente seu enredo a direciona para este paralelo. Ao mesmo tempo, o filme procura garantir uma boa experiência para quem assistir, seja pelo musical em si ou pelos desdobramentos da história.
Assista ao trailer de Wicked: Parte II
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